quarta-feira, 24 de setembro de 2008

arquivo...

da edição impressa, com as correções.

é só baixar no http://www.megaupload.com/pt/?d=WM25YBGI

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domingo, 21 de setembro de 2008

maCACando Transformações set. 2008


Em Processo - Editorial

Em processo de transformação. Ou transformados. Temos nome, um nome variável como o tempo paulistano, ou como as regras do jogo de bolinhas-de-gude de Mr. Piaget. E somos. Formamos o coletivo maCAC-ando (escreva como quiser) Núcleo/Jornal.
Que se faça nossa ordenação: Cavaleiro da III (Des)-Ordem dos Eternos Dissidentes, por méritos e valores! Não sobrarão dragões páreos a nossos macacos! Nem moinhos de vento à nossa pós-contemporaneidade!
Que tremam os poderosos.
Montados em nosso grandioso alazão Ameba, galoparemos por sobre os escombros da fausta civilização, derrubaremos a porta de aço do Quartel Departamental Conselhar, re-fundaremos as diretrizes baseados na espontaneidade símia!
MaCAC-cracia!
Não há ordem que nos contenta. Não há confronto que nos intimide! Não há edital que nos contemple! Não há Deleuze que nos entenda! Não há tradição que nos conheça!
Pelo Auto-Fomento de Incentivo à Ruptura, que se faça implodir a contradição de identidade nas “Ilhas de Desordem” do terceiro mundo!

E somos 5, sentados nas cadeiras de plástico branco da nossa área de vivência, contando os últimos cigarros, olhando a movimentação mecânica da cantina, inconformados com a máquina de café ... Sem muita motivação para caminhar à nossa próxima disciplina-rização. Ainda acreditamos ser possível pensar, dialogar, embora cada ano nos torne rígidos, cabisbaixos, e pouco otimistas. Muito pouco sabemos sobre teatro... ou sobre qualquer coisa. Largado em cima da mesa, o jornal (dia 16) estampa a bancarrota do Lehman Brothers (este com um N a menos do que o nosso): pior crise financeira desde 87 – a “segunda-feira negra”; no editorial do New York Times, o título: “Versão pós-moderna (!) da crise”. E os grandes neoliberais começam a dizer, entre lágrimas: “achei que estávamos prontos... mas não desanimem queridos, um dia vocês serão livres sujeitos econômicos, é natural. O fim da história chegará novamente!”. Mais ao sul, o líder cívico dos autonomistas bolivianos categorizou: “É preciso acabar com esse índio podre [leia-se Evo Morales] e com os comunistas” – Na foto, outros 5 jovens, inconformados como nós. Mas esses gordos e bravos, exibindo facões, paus e pedras, com máscaras de luta livre e bonés do FBI, comemoravam a morte de 100 camponeses. Pra tudo existe consolo, nos cadernos de cultura, os resumos dos próximos capítulos, a coluna social e o horóscopo do dia!

É...Nós fazemos teatro... Sabe qual nossa opinião?
Meyerhold leva ao paroxismo a teatralidade de Gordon Craig, pelas vias do simbolismo de Mallarmé! Isso mesmo! não podemos perder o prazo de inscrição do PAC! E a noite tem samba na Vila Madá! Viva, Viva!

Cansado disso? Sê macaco! Símio-logia da arte!

MODO DE USAR


1.O Núcleo/Jornal maCACando tem, a partir desse número, um coletivo editorial.
A grande diferença é que agora o coletivo é o responsável pelo jornal. Teremos duas reuniões por mês onde discutiremos as temáticas, matérias e a evolução do jornal, tudo para que o espaço torne-se mais vigoroso no debate. Mas não se preocupem, ainda publicaremos tudo (quase...) o que nos enviarem (seria impossível fechar os olhos ao montante gigantesco de contribuições que entopem nossa caixa de e-mails todos os meses.. Só pra terem uma idéia: temos uma média de 0,0032 e-mails enviados a cada dois meses, que, aliás, é macaquiando@gmail.com)
2. Temos um blog: www.macacovirtual.blogspot.com (tá, eu sei que vc tá lendo isso no blog... Abstrai...) lá estarão todas as matérias do mês com espaço livre para comentários, e discussões! Méte a boca! prometemos responder na mesma moeda!
3. Faremos críticas dos espetáculos do CAC!
- AaaaaHhh.......... Do meu não!!
Não há opção! Não gostou? Ok, no mês seguinte teremos um espaço quentinho no jornal para você, realizador, responder o que quiser.
4. A participação no coletivo editorial do jornal é livre e aberta a todos (sempre avisaremos das reuniões). Entretanto isso envolve algumas responsabilidades.
Firmeza?

Cada macaco no seu galho

Duas Perguntas, várias pessoas, tantas respostas.

PERGUNTAS:

1. O que vc achou de terem pixado a rampa?

2. O que vc acha da frase escrita: se não mudar a vida de mais ninguém (além da do artista) então ele falhou.



Bertha – funcionária da produção

1. Um horror. Sujaram o chão. O aluno que pixou devia lavar depois. Pixou, criou, tá; depois devia lavar. Por que que a gente tem que aturar um chão pintado, ou escrito, estendeu? Não faz parte do chão isso. Pra isso existe papel, tela, outros meios de comunicação.
2. Eu gostei da frase. Eu acho que a frase é isso mesmo. Se ele não consegue, do jeito que ele faz a coisa, tanto faz se ele é ator, se ele é pintor, se ele é músico, se ele não consegue mudar a cabeça dos outros, então ele falhou mesmo.


Gustavo – funcionário da técnica.

1. Pra mim é indiferente, não tenho nenhum problema com pixação. Algumas depreciações eu não aconselho, claro. Mas uma pixação na rampa não me afetou em nada, não afetou a escola e não vi dano ao patrimônio. É uma manifestação.
2. Eu acho absolutamente coerente. Porque a arte não é uma coisa só do artista. Se ele tá fazendo uma arte pra ele mesmo, e se ela só tá reverberando internamente nele, ou ele tá fazendo alguma coisa errada ou ele tá fazendo de maneira errada. Eu acho que a arte só pode ser considerada arte quando ela é pra uma comunidade e não só pra uma pessoa.

Marcelo (Tchello) – estudante 4°ano CAC

1. Pixaram a rampa? (lembra-se) Ah! Não me causou nenhum tipo de reação, nem positiva nem negativa. Eu nem tinha reparado até reclamarem pra mim, e eu concordei. Eu nem sei qual é o intuito, nem cheguei a ler a coisa ainda.
2. Hum... A frase é boa, ‘se não mudar a vida de ninguém (além da do artista) então ele falhou’. Bicho, eu concordo, acho que eu concordo. Acho que é uma coisa boa das pessoas daqui lerem. É... Acho que é uma coisa boa das pessoas daqui lerem.


Vinícius – estudante pós-graduação CAC

1. Ah não... não gostei. Meio estranho, marcou demais..
2. Eu não guardei. Acho que é isso...


Rodrigo – estudante 6°ano CAC

1. Eu não sei muito bem o que falar sobre, necessariamente, a rampa do CAC, mas sobre pixações, lambes, esse tipo de intervenção, é um tipo de intervenção que não me pega porque a gente já vive numa coisa tão visual que é mais um. É mais um.
2. Eu acho ingênuo, acho ingênuo. Não me pega. Acho uma ingenuidade que, ao mesmo tempo, é inevitável, um pensamento. É um paradoxo a minha sensação em relação a isso. Mas, a princípio, não me pega. Chegar a alguém, tocar alguém além do artista já é inevitável, de certa forma, embora a gente ache que tá num mundo que tá tudo individualizado, não é tão assim, talvez... Acho que a gente faz um drama muito grande.


Luiz Fernando – professor de teoria CAC

1. Ah! Achei legal, achei sussa, achei normal. Acho que tem pouca intervenção deste tipo aqui no espaço. Achei normal.
2. Achei uma frase inspiradíssima, inteligente, que deveria ser uma referência pra todo mundo aqui nessa escola.

Ai Julieta,

(por Paloma Franca Amorim)

Ai Julieta,


Essa história de brigas familiares eu achava que só existiam na minha família, e veja que eu não sou nem Montequiana nem Capulêtica.
Na verdade, eu apenas queria aquele remedinho que tu tomaste para dormir (no plano das idéias, devo admitir, foi tiro e queda porque tu tiraste um cochilo daqueles, até enganaste teu pretenso marido. Mas que cagada Julieta! Imagine que se a dose tivesse sido um dedinho melhor calculada nenhum desencontro teria acontecido e ninguém pagaria com a própria vida. Querida, se tu tivesses falado comigo, eu te receitava um quarto de Rivotril que acalma e traz o sono fácil fácil, nada de mais, nada de menos.)
Se o problema era experimentar as dores do amor, eu te receitava, Julieta,Uma música triste, um café meio amargo demais,Não que eu tenha muita experiência, sou meio nova no assuntoMas a gente toda sabe que o coração tem lá suas desmedidas
Gosta de um sofrimentinho para passar o tempoEu te daria um beijo e um tchau, Julieta,Para você chorar três semanas, três longas semanas,(Porque eu sou o máximo!)
Mas isto não vem ao assunto; nesta tua lápideEu atento para o fato de que a tal atitude com o punhal foi um pouco exagerada.Não tomes isto como ofensa, tá?É que eu sempre achei que gente jovem não foi feita pra morrer,
Nem de morte morrida nem de morte enganada,Em Verona, que é a mulher do Verão, curiosamente as noites são frias. Se tu querias um Romeu, eu te arranjava um Romeu. Ou um Ronaldo ou um Tadeu. Homem não é problema.Ainda bem que tudo soa tão bonito nas rimas shakespearianas
Até o diabo fica com cara de ternura,Porém na altura em que estamos,Nesta pretensiosa encarnação,As rosas com outros nomes ainda teriam o mesmo perfume, Mas seriam vendidas bem mais caro na beira dos umbrais do cemitério da Consolação.

CAC na 13ª Semana de Arte e Cultura

(colaboração ao Jornal de Otávio Nascimento, Paulo Vitor e Ludmila Facella, 1°ano)

De 24 a 26 de Setembro,dentro da programação da 13ª Semana de Arte e Cultura da USP será realizado no CAC o projeto “Teatro: Da universidade para a comunidade”. Através de uma mostra de cenas, um ciclo de debates e um café teatral pretendemos receber no CAC estudantes de outras instituições de ensino e artistas-pesquisadores-educadores para um diálogo multilateral sobre o papel dos cursos de artes cênicas frente à comunidade. Qual o alcance e amplitude deles? Até onde podem e devem ir? Até que ponto o teatro universitário se abre para a sociedade? Até que ponto não estamos fechados sobre nós mesmos? O quão limitante é essa retroalimentação? Vemos a troca e o diálogo do teatro universitário com a comunidade em geral como uma preciosa matéria-prima impulsionadora de novas linguagens, novos métodos e pesquisas. Procuraremos discutir alternativas ao teatro feito POR/PARA/SOBRE nós mesmos e vislumbrá-lo como ferramenta para objetivos além da própria arte: um teatro público, que alcance e abarque, que não pertença apenas a poucos, mas que possa ser compartilhado quanto aos meios, modos e conteúdos. Acreditamos que como estudantes de teatro temos grande papel dentro dessa disseminação. Como fazê-la? É a pergunta que martelará em nossas cabeças durante os três dias de programação. É necessário abrir o campo de visão para diversas possibilidades de mobilização dentro da própria universidade, descobrir a relevância de se trabalhar um teatro popular (afinal o que é teatro popular? Do povo? Para o povo? Pelo povo? - é algo que esperamos entender melhor nos debates) e o papel do teatro como meio de transformação social.Queremos colocar em pauta a discussão sobre a EXTENSÃO universitária como instrumento de contato entre o trabalho desenvolvido dentro da graduação em artes cênicas e a sociedade,como algo que articula, fortalece e propulsiona o ensino e a pesquisa a partir da prática, não como assistencialismo, mas como uma relação onde ambas as partes tem a contribuir e a ganhar.Nesse sentido vemos a importância de unir durante esse encontro as diversas “ilhas” dentro do arquipélago que as escolas de teatro formam, promovendo uma troca que possa fertilizar idéias nas diversas partes.

Para saber mais sobre o projeto e ver a programação acesse o site

Mais um salve ao Grande Chefe

(Colaboração ao Jornal de Lívia La Gatto, licenciatura 3°ano)


Criada em 1990, a Bolsa Trabalho, tinha como finalidade, custear os estudos dos alunos desfavorecidos sócio-economicamente e assim promover a permanência deste estudante na Universidade. Seu valor estava atrelado a um salário mínimo, e dez horas semanais que poderiam ser completadas em meio aos estudos e aulas. Assim, trabalhando dentro da faculdade, o aluno não necessitaria se deslocar ou trancar seus estudos para procurar um trabalho, cujo salário suprisse suas necessidades básicas. A verba destinada à Bolsa Trabalho vinha da Herança Vacante, ou seja, dinheiro de pessoas e/ou organizações importantes, que não mais existiam e haviam doado os seus bens para o governo, mais especificamente, a universidade pública.
Porém, em 2007 esse dinheiro acabou! E coincidentemente para os reitores, acabou também a função da bolsa trabalho. Quase vinte anos se passaram e somente agora os pró-reitores se reuniram e acharam pertinente a decisão de acabar com a Bolsa, pois esta estava se tornando uma forma de se baratear a mão-de-obra administrativa da universidade. Seu foco estava desvirtuado uma vez que houve denúncias de que o trabalho realizado pelos alunos era precário e muitos acabavam fazendo uma carga horária superior às 10hs semanais, assumindo funções específicas de funcionários. De fato isso acontecia em alguns casos.
A partir da deliberação da Comissão de Gestão de Política de Apoio à Permanência e Formação Estudantil da USP, nossa excelentíssima reitora Suely Vilela, junto a excelentíssima comissão de pró-reitores, criou uma nova Bolsa para substituir a Bolsa Trabalho. “Aprender com Cultura e Extensão” programa que teoricamente, concilia mérito acadêmico e condições sócio-econômicas do estudante. Essa substituição diminui mais de 30% do valor da Bolsa (em vez de um salário mínimo, o bolsista terá que se sustentar com R$300,00 por mês), e ainda aumenta a carga horária para 12 horas mensais, sem justificativa da reitora, retirando quase um milhão de reais por ano da Permanência Estudantil. Com a diminuição, aquele estudante que precisa, fica sem uma verdadeira assistência para exercer seu direito à educação.
Essa decisão foi tomada em Novembro de 2007 e chegou aos bolsistas em Junho deste ano, da forma mais cruel possível. Na folha mensal de pagamento e em no máximo duas linhas, a informação de que o estudante só receberia mais um mês de salário e que procurasse mais informações no site do programa aprender com cultura e extensão. No site, um projeto extremamente mal explicado, expunha condições burocráticas para se fazer parte do projeto. Com menos de um mês, o bolsista teria que consultar um professor, que estivesse disposto a fazer um projeto “x”, edificá-lo com propostas descentes e conseguir se inscrever no site. Grande foi a surpresa dos professores que não haviam sido informados da modificação.
Muitas foram as dúvidas e reclamações. Não havia a quem recorrer. No site, um e-mail para consultas, nada mais. Nenhum contato eficiente para retornar. Na COSEAS ninguém era culpado, ninguém sabia de nada. Os pró-reitores não se deram ao trabalho de mostrar as caras, de se colocarem a disposição para reclamações. Os bolsistas se depararam com toda aquela velha história do Grande Chefe, da responsabilidade repassada. Temos que reconhecer a perspicácia da reitoria na má divulgação da mudança. Realmente, comunicar de fato os bolsistas, convocando-os para uma reunião, alertando com antecedência, geraria conseqüências catastróficas para nossa Reitora, pois os bolsistas entenderiam de fato o que estaria se passando, e pior, se comunicariam uns com os outros! O Grande Chefe sabe que os bolsistas não se conhecem e estão espalhados pela universidade. Uni-los, não seria uma decisão inteligente. Parabéns Suely! É de cabeças assim que a universidade precisa.
Para a infelicidade da reitoria, no dia 13 de Agosto, o DCE Livre da USP organizou uma Audiência Pública sobre o tema “Permanência Estudantil”. Foram convidados o Vice Reitor Franco Maria Lajolo, o Pró-Reitor de Cultura e Extensão Ruy Altafim e a representante da COSEAS Rosa Godoy. Peculiar foi o fato de que logo no começo, nosso Pró-Reitor quase se retirou da Audiência, ofendidíssimo com a manifestação de um estudante de Artes Plásticas que, acreditando no impacto da imagem, colocou sobre a mesa dos convidados, seis reais em dinheiro e moedas para mostrar o que ele passou a ganhar por hora com o novo programa Aprender com Cultura e Extensão. – Eu tenho coisas muito mais importantes para fazer. Aceitei vir, pois achei que seria sério. – palavras de Ruy Altafim. Entre nervos alterados e palavras cheias de ironia, a verdade começou aparecer. O novo programa foi sim mal divulgado. – Nós mandamos toda a informação por e-mail para todos os bolsistas! Agora, se eles não receberam eu não posso fazer nada. – Palavras de Rosa Godoy. Querida Rosa, mandei um e-mail te demitindo. A Sra não recebeu? Ah, não posso fazer nada.
“Decidiu-se que a distribuição de bolsas voltadas para a permanência estudantil, deveria ser feita sem ter como condição qualquer contrapartida por parte do aluno, pois a imposição de obrigações aos alunos desfavorecidos sócio-economicamente, os coloca em desvantagem em relação aos demais alunos, já que as horas despendidas para os estudos são menores devido à imposição de tais condições. Passar o dia estudando na biblioteca, dando conta das tarefas acadêmicas e freqüentando espaços de sociabilidade estudantil também é um direito. Nesse sentido, a política de permanência não pode ser concebida como um empréstimo que o aluno pede à universidade que deve ser pago com horas trabalhadas.” Texto redigido por Laura, RD do Cocex e Aline, diretora do DCE
Enfim, com muito custo, os membros da reitoria, admitiram erros de comunicação e transparência uma vez que a nova bolsa não alterou muito o quadro da anterior. Uma das demandas estudantis é que a nova Bolsa possua caráter de “cultura e extensão” e não seja um novo nome bonitinho. Afinal, desinformados estamos todos. Ofendidos estamos todos. E para quem não conseguiu se inscrever no novo projeto, aquele abraço

Josef Stalin x Walt Disney - Crítica Ubumáquina I

(por Macaco careca n°8)


Curiosidades sobre Ubumáquina:
1. Não são necessários os habituais, quando se trata de peças do CAC, 8 cafés super-fortes para manter-se atento ao espetáculo. Isso porque os atores gritam tanto que nem o Dalai-Lama conseguiria pregar os olhos. E sabe aquele zumbido, na orelha, após a balada de punk-rock? É... Então...
2 Interatividade! Se você tiver visão noturna pode jogar Ubu-bingo! É assim: no seu programa do espetáculo vão vir umas 8 palavras escritas, como uma cartela. Teoricamente, elas serão gritadas ao longo da peça, se você ouvir as 8 do seu programa, você tem que reunir sua coragem e gritar (no meio da peça) “Ubu-Bingo!”, dizem que ganhará um prêmio... Enfim...

Perguntas sobre Ubumáquina:
1. O sufixo máquina, no título, refere-se à materialidade do olhar, à contemporaneidade histórica, ou à “minha idéia (ou não-idéia) sobre o mundo hoje”?
2. Por que o fascínio sexual? Seríamos animais brincando de geopolítica enquanto nossos instintos pulsam a libido aprisionada? (nesse caso, os cachorros biônicos do prólogo estariam explicados?)
3. A idéia do espetáculo, como um todo, é uma provocação à arte acadêmica? Ou um comentário acadêmico acerca das rupturas provocativas?
4. Era pra rir?

Crítica a Ubumáquina:
1. As balas de mel são horrorosas. (Era a proposta?)

Crítica Ubumáquina II

(por Macaco verde n°9)

Com um prólogo em que se apresentam definições do próprio espetáculo, Ubumáquina parece usar o termo neodadaísmo como conclusivo, constituindo-se no conceito do trabalho.
A revolução que as vanguardas históricas ocorridas na Europa na virada do século XIX para o século XX causaram na arte é motivo mais do que plausível para que se tente constantemente repensá-las com o intuito de resolver impasses de criação e, com isso, inovar no campo artístico. O pensamento renovador que permeava todas essas correntes concomitantes deve sempre vir à tona para que a arte não fique estagnada em um status quo irrefletido. Por isso, se utilizadas como necessidade propulsora, não são meros modismos suas revisões, revisitações e novas versões. Se estudadas fora de seu contexto, porém, as vanguardas perdem seu sentido e se tornam fórmulas atemporais, despidas de sua dialética histórica. Suas resoluções formais, componentes essencialmente ontológicos, são características de um movimento particular e irreprodutível. São moldadas, com técnicas próprias de seu tempo, a partir de seu conceito primordial. Este, como eixo central, também diz respeito, por sua vez, a questões específicas de uma época. Embora as técnicas e tecnologias estejam em constante evolução, tornando-se muitas vezes obsoletas, certas formalizações organizacionais pouco mudaram neste último século, e é por isso que o espírito de muitas das vanguardas históricas ainda é atual. Torna-se mister, no entanto, pensar se suas resoluções ainda são as melhores para veicular suas idéias hoje.
O dadaísmo, uma dessas vanguardas, surgiu, acima de tudo, como uma forma de estupidificação da burguesia. Questionando o racionalismo e a falta de sentido da guerra (vazios e absurdos que, não só nas guerras, se fazem presentes ainda hoje), fazia os burgueses lidarem com o limite de sua compreensão do mundo. Exemplificam-se, aí, os ready-mades de Duchamp. Objetos retirados de seu contexto original, sem ressignificação, eram expostos com a intenção de que a burguesia dispendesse seu esforço em achar um sentido inexistente (informação que não havia no programa da exposição antidadaísta do artista em São Paulo).
Podemos pensar em uma versão moderna desta vanguarda ao compreendermos o trabalho do grupo Oficina. Como numa espécie de neodadaísmo, o diretor da companhia, Zé Celso, buscou em suas últimas encenações uma estupidificação da burguesia, através da grande quebra de tabus morais que envolvem o sexo. Seus espetáculos eram como grandes rituais dionisíacos, dos quais por diversas vezes o público era convidado a participar e onde desfilavam símbolos freudianos, passando por cima de hipocrisias sociais e revelando o instinto mais intrínseco da carne.
Pensando por esta via, pode-se perguntar o que há de dadaísmo em Ubumáquina. O texto original de Alfred Jarry (a peça montada é uma adaptação), vinculado ao surrealismo, outra dessas vanguardas, aproximava-se do dadaísmo na época em que foi escrito (última década do seculo XIX), em virtude do impacto que podiam causar suas personagens alegóricas em relação ao mundo burguês e sua aparente falta de lógica (esta vanguarda, prezando pelo acaso como componente criador, assemelhava-se àquela, defensora do livre fluxo de idéias). Hoje, não cria o mesmo efeito (tampouco a adaptação). As resoluções são comuns aos dois movimentos, mas não contemplam mais o espírito dadaísta. O que se encontra, então, com este espírito no espetáculo? A questão erótica, que só aparece superficialmente no figurino sensual das atrizes e nos movimentos de mera sugestão sexual do Pai Ubu e da Mãe Ubu? Nas relações de poder que, mal aparecem, já são abandonadas? Nas atualizações do texto, que fazem referências a pessoas e corporações questionáveis sem criticá-las propriamente, mas abraçando-as no enredo da peça? Nas artimanhas vis que quase não são vistas, já que as personagens parecem mais se divertir com o coro amorfo do que agir? Nos inumeráveis adereços e objetos de cena, numa época em que a hipertrofia da visualidade é o leitmotiv dos grandes shows de massa?
Talvez haja procedimentos dadaístas (o acaso pautando as construções), mas seu conceito parece estar longe desta encenação.
Essa necessidade de buscar o novo sem se ter uma base sólida (construir para desconstruir) parece ser uma constante no CAC. Há a habitual cobrança da pesquisa, da geração do novo, de “neos” e “pós” (que, quando aplicadas ao tempo, não fazem nenhum sentido, pois, mesmo com uma chamada visão de futuro, mesmo apontando para futuro, mesmo imbuídos desse espírito de futuro, somos pessoas de nosso tempo, contemporâneos uns dos outros), mas pouco disso é pela necessidade de achar novos meios para expressar algo que não é possível de ser concretizado com as técnicas que conhecemos. Pouco se pensa na relevância do que se faz e no diálogo disto com o mundo. Muito se faz voltado para o próprio umbigo, para satisfazer o desejo egóico de virtuosismo. Triste é esquecer que arte é a forma compartilhada das inquietações do artista, expressão mais legítima de seu pulsar. É, antes de se saber como dizer, uma descoberta do que dizer. Mas o CAC continua achando que a arte não precisa partir do artista, impondo peças para os diretores dirigirem e ver quem alcança o melhor resultado. É a tentativa de mais um néo que nosso departamento concretiza: a néo pièce-bien-faite.