domingo, 21 de setembro de 2008

Mais um salve ao Grande Chefe

(Colaboração ao Jornal de Lívia La Gatto, licenciatura 3°ano)


Criada em 1990, a Bolsa Trabalho, tinha como finalidade, custear os estudos dos alunos desfavorecidos sócio-economicamente e assim promover a permanência deste estudante na Universidade. Seu valor estava atrelado a um salário mínimo, e dez horas semanais que poderiam ser completadas em meio aos estudos e aulas. Assim, trabalhando dentro da faculdade, o aluno não necessitaria se deslocar ou trancar seus estudos para procurar um trabalho, cujo salário suprisse suas necessidades básicas. A verba destinada à Bolsa Trabalho vinha da Herança Vacante, ou seja, dinheiro de pessoas e/ou organizações importantes, que não mais existiam e haviam doado os seus bens para o governo, mais especificamente, a universidade pública.
Porém, em 2007 esse dinheiro acabou! E coincidentemente para os reitores, acabou também a função da bolsa trabalho. Quase vinte anos se passaram e somente agora os pró-reitores se reuniram e acharam pertinente a decisão de acabar com a Bolsa, pois esta estava se tornando uma forma de se baratear a mão-de-obra administrativa da universidade. Seu foco estava desvirtuado uma vez que houve denúncias de que o trabalho realizado pelos alunos era precário e muitos acabavam fazendo uma carga horária superior às 10hs semanais, assumindo funções específicas de funcionários. De fato isso acontecia em alguns casos.
A partir da deliberação da Comissão de Gestão de Política de Apoio à Permanência e Formação Estudantil da USP, nossa excelentíssima reitora Suely Vilela, junto a excelentíssima comissão de pró-reitores, criou uma nova Bolsa para substituir a Bolsa Trabalho. “Aprender com Cultura e Extensão” programa que teoricamente, concilia mérito acadêmico e condições sócio-econômicas do estudante. Essa substituição diminui mais de 30% do valor da Bolsa (em vez de um salário mínimo, o bolsista terá que se sustentar com R$300,00 por mês), e ainda aumenta a carga horária para 12 horas mensais, sem justificativa da reitora, retirando quase um milhão de reais por ano da Permanência Estudantil. Com a diminuição, aquele estudante que precisa, fica sem uma verdadeira assistência para exercer seu direito à educação.
Essa decisão foi tomada em Novembro de 2007 e chegou aos bolsistas em Junho deste ano, da forma mais cruel possível. Na folha mensal de pagamento e em no máximo duas linhas, a informação de que o estudante só receberia mais um mês de salário e que procurasse mais informações no site do programa aprender com cultura e extensão. No site, um projeto extremamente mal explicado, expunha condições burocráticas para se fazer parte do projeto. Com menos de um mês, o bolsista teria que consultar um professor, que estivesse disposto a fazer um projeto “x”, edificá-lo com propostas descentes e conseguir se inscrever no site. Grande foi a surpresa dos professores que não haviam sido informados da modificação.
Muitas foram as dúvidas e reclamações. Não havia a quem recorrer. No site, um e-mail para consultas, nada mais. Nenhum contato eficiente para retornar. Na COSEAS ninguém era culpado, ninguém sabia de nada. Os pró-reitores não se deram ao trabalho de mostrar as caras, de se colocarem a disposição para reclamações. Os bolsistas se depararam com toda aquela velha história do Grande Chefe, da responsabilidade repassada. Temos que reconhecer a perspicácia da reitoria na má divulgação da mudança. Realmente, comunicar de fato os bolsistas, convocando-os para uma reunião, alertando com antecedência, geraria conseqüências catastróficas para nossa Reitora, pois os bolsistas entenderiam de fato o que estaria se passando, e pior, se comunicariam uns com os outros! O Grande Chefe sabe que os bolsistas não se conhecem e estão espalhados pela universidade. Uni-los, não seria uma decisão inteligente. Parabéns Suely! É de cabeças assim que a universidade precisa.
Para a infelicidade da reitoria, no dia 13 de Agosto, o DCE Livre da USP organizou uma Audiência Pública sobre o tema “Permanência Estudantil”. Foram convidados o Vice Reitor Franco Maria Lajolo, o Pró-Reitor de Cultura e Extensão Ruy Altafim e a representante da COSEAS Rosa Godoy. Peculiar foi o fato de que logo no começo, nosso Pró-Reitor quase se retirou da Audiência, ofendidíssimo com a manifestação de um estudante de Artes Plásticas que, acreditando no impacto da imagem, colocou sobre a mesa dos convidados, seis reais em dinheiro e moedas para mostrar o que ele passou a ganhar por hora com o novo programa Aprender com Cultura e Extensão. – Eu tenho coisas muito mais importantes para fazer. Aceitei vir, pois achei que seria sério. – palavras de Ruy Altafim. Entre nervos alterados e palavras cheias de ironia, a verdade começou aparecer. O novo programa foi sim mal divulgado. – Nós mandamos toda a informação por e-mail para todos os bolsistas! Agora, se eles não receberam eu não posso fazer nada. – Palavras de Rosa Godoy. Querida Rosa, mandei um e-mail te demitindo. A Sra não recebeu? Ah, não posso fazer nada.
“Decidiu-se que a distribuição de bolsas voltadas para a permanência estudantil, deveria ser feita sem ter como condição qualquer contrapartida por parte do aluno, pois a imposição de obrigações aos alunos desfavorecidos sócio-economicamente, os coloca em desvantagem em relação aos demais alunos, já que as horas despendidas para os estudos são menores devido à imposição de tais condições. Passar o dia estudando na biblioteca, dando conta das tarefas acadêmicas e freqüentando espaços de sociabilidade estudantil também é um direito. Nesse sentido, a política de permanência não pode ser concebida como um empréstimo que o aluno pede à universidade que deve ser pago com horas trabalhadas.” Texto redigido por Laura, RD do Cocex e Aline, diretora do DCE
Enfim, com muito custo, os membros da reitoria, admitiram erros de comunicação e transparência uma vez que a nova bolsa não alterou muito o quadro da anterior. Uma das demandas estudantis é que a nova Bolsa possua caráter de “cultura e extensão” e não seja um novo nome bonitinho. Afinal, desinformados estamos todos. Ofendidos estamos todos. E para quem não conseguiu se inscrever no novo projeto, aquele abraço

Um comentário:

Kiko Rieser disse...

Puta texto importante, relevante. Parabéns, Livoca!!!