quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Núcleo/Jornal MaCAC-ando Carnavais (fevereiro 2009)


Fragmentos de uma introdução anunciada. BEM VINDOS!


Esse jornal tem 2 anos. Mais ou menos.
Nasceu filho de chocadeira, inseminação artificial, proveta, fecundação assistida, clonagem... Passou a infância nos orfanatos românticos e na FEBEM. Tornou-se um espécime raro, de funcionamento obscuro, sexualidade indefinida e comportamento imprevisível. Já foi ativista político, caderno de poesia, artista decadente, bailarina pós-dramática e hoje é macaco cientista da símio-logia da arte.
Apresenta traços ao mesmo tempo autoritários e anárquicos. É um ser contraditório que possibilita pouquíssimo controle.

Bem vindos. Aos subterfúgios da civilização: o curso universitário de teatro.

[O português é uma das poucas línguas (essa proporção é uma estimativa) que o verbo ‘ser’ e o verbo ‘estar’ são diferentes. O que possibilita que você esteja você e não necessariamente seja você, ou que você esteja CAC e não seja CAC; em francês, por exemplo, não haveria essa diferença. Isso faz com que qualquer símio-ótico atinja o êxtase! Pois podemos explodir tudo sem nos matar! E podemos ser macacos sem estar macaco! Enfim...]

Esse ano acontece a III MOSTRA CAC [entre os dias 02 e 06 de março] cujo tema central será o tripé universitário. Tripé é uma metáfora imbecil de algo com três pés onde cortando um deles cai o todo. Os pés são o ensino, a pesquisa e a extensão; o todo somos nós. Ensino e pesquisa são ensino e pesquisa. Extensão é estender o conhecimento produzido (e não adquirido – guardem bem!) na academia para a comunidade.
Nessa semana, para desespero dos bixos ansiosos, não haverá aulas no departamento (é... Nós somos o último curso da USP a começar as aulas – e saiba que nos orgulhamos muito disso!). A ideia que rege o evento é ser o momento de reflexão do curso e o espaço de ver e mostrar os trabalhos realizados aqui; também é o momento de levantar pontos chaves de discussão sobre arte, teatro e universidade.
Assim, a Mostra é, sobretudo, um espaço em construção (como esse jornal) por isso é anômala e problemática buscando encontrar seus interlocutores e suas vozes... Nem sempre ela consegue ser clara, objetiva ou eficiente; poucas vezes consegue direcionar práticas e questionar a fundo os paradigmas, mas é um espaço totalmente idealizado, construído e mantido pelos estudantes! E isso faz com que a responsabilidade sobre ela seja de todos nós...

Esse jornal e a Mostra CAC são primo-irmão... Nasceram ambos de nossas indignações, inquietações e necessidades, são tentativas de dialogar de buscar caminhos e de criticar a fundo os parâmetros instituídos. São ambos a objetivação de uma crítica, são propostas de ação direta, são gritos de provocação e construção; como todo bom parente nasceram de facções opostas que, depois de alguns incêndios, se uniram novamente.

Por fim, é hora de reconhecer que nossa vida na universidade é passageira e fugaz (como na vida, diriam os menos otimistas)... 4 anos para uns, algo mais para outros... Nossas construções aqui vão tornando-se efêmeras, como nossas passagens... E esses macacos já são anciões com medo da morte...

Então... Ficam as melancólicas boas vindas aos novos, o entusiasmado convite para construir conosco e o desejo de muita força nessa luta/arte/teatro que cada um de nós escolheu se envolver... Luta em que, como diria Walter Benjamim “os inimigos não têm cessado de vencer”.

Mas,
“Antes de me despedir
Deixo ao sambista mais novo
O meu pedido final
Não deixe o samba morrer...”

DRT - Agora ou nunca

por Paulo V. Bio Toledo, 4° ano

No dia 05 de outubro de 1978 o presidente militar Ernesto Geisel assinou o decreto n° 82.385 que regulamentou a Lei 6.533/78 de maio do mesmo ano.
Antes dessa famigerada lei a profissão de “artista” não era reconhecida por lei ou por qualquer relação trabalhista – tratava-se, na melhor das hipóteses, de uma relação informal. A partir dela, o “artista” pode ter em sua carteira de trabalho um “atestado de capacitação profissional” que o inclui nos direitos assegurados pela legislação trabalhista vigente no país.
Esse “atestado de capacitação profissional” é emitido pela Delegacia Regional do Trabalho, ou DRT (por isso chamamos o atestado de DRT), em três hipóteses; apresentação de:

“I - diploma de curso superior de Diretor de Teatro, Coreógrafo, Professor de Arte Dramática, ou outros cursos semelhantes, reconhecidos na forma da Lei; ou
II - diploma ou certificado correspondentes às habilitações profissionais de 2º Grau de Ator, Contra-regra, Cenotécnico, Sonoplasta, ou outras semelhantes, reconhecidas na forma da Lei; ou
III - atestado de capacitação profissional fornecido pelo Sindicato representativo das categorias profissionais e, subsidiariamente, pela Federação” respectiva.”

(Lei 6.533/78)


Até aí nenhum problema, mas o que torna a questão complexa é que quem se forma no CAC em licenciatura ou em teoria não consegue tirar o “atestado” DRT. Teoricamente, a simples apresentação do diploma na Delegacia Regional do Trabalho, no Ministério do Trabalho, possibilitaria a emissão do atestado; entretanto, o diploma de licenciatura é um diploma de “Educação artística – com habilitação em artes cênicas”, “categoria” que não possui um “atestado” (ou DRT) próprio, tampouco a habilitação em teoria do teatro (seja crítico ou dramaturgo). Sendo assim, o ministério nega o documento. Para romper o impasse há dois caminhos; o primeiro é o item III: conseguir um atestado do SATED (nosso sindicato) a partir das nossas horas cumpridas em aula. Só que isso tem um custo: exatamente um salário mínimo (!). O segundo caminho é que o departamento assinasse uma carta com os seguintes dizeres:
“Tal estudante está apto a exercer a função de ator...”

E é aí que mora o problema. Os professores negam-se a emitir tal carta. Seus argumentos são que essa afirmação encobriria, minimizaria a habilitação em interpretação, ou seja, eles não podem dizer que tal pessoa é apta a ser ator se ela não é da habilitação em interpretação.

Exposto o problema; passemos agora a expor outro lado da história.
O DRT é um documento controverso – pois mais do que regulamentar ele institucionaliza a profissão estabelecendo paradigmas de funcionamento que são contrários à arte em si, em busca do desconhecido – entretanto, não possuí-lo fecha inúmeras portas de trabalho, sendo a mais emblemática: para dar aula (repito: DAR AULA) no projeto vocacional da prefeitura de São Paulo é indispensável o “atestado” DRT (!). Um exemplo entre muitíssimos outros.
Sendo assim, a não emissão da carta por parte dos professores beira a infâmia, pois fecha um já restrito leque de trabalho para seus próprios egressos estudantes em nome de uma moral deturpada e sem sentido, dando a entender que quem cursa a habilitação em interpretação o faz unicamente para conseguir o “atestado”; criando, ademais, um argumento pautado numa micro-justiça às avessas: “seria injusto dar essa carta àqueles que não passaram por toda a formação indispensável ao ator” – esquecem, entretanto, que a carga horária do ciclo básico (com disciplinas de corpo, voz, improvisação e interpretação) é maior do que uma infinidade de cursos técnicos para ator em São Paulo, que possibilitam o “atestado”. Além de que, de acordo com Ligia de Paula Souza, presidente do SATED:

“[o DRT] é obrigatório como, por exemplo, CRM ao Médico, OAB ao Advogado etc.. Não se fala em vantagens e sim pela obrigação de cumprir a lei. O exercício profissional sem habilitação é contravenção penal e passível de punição”
(e-mail encaminhado a mim no dia 16 de fevereiro respondendo dúvidas técnicas da questão)

Será então que esperam que todos os formandos em licenciatura e/ou teoria não exerçam jamais a profissão de ator? Se for assim, para que esses estudantes têm de cumprir as disciplinas do ciclo básico?

Todavia, não é necessário ser muito sagaz para entender que a carta é um mero instrumento de burlar um problema da lei – a falta de categorias explícitas para arte educador e para teórico – e não um atestado de equivalência entre todos os estudantes do CAC!
Resta dizer que a defesa do “DRT para todos” é apoiado por grande parte dos estudantes (para não dizer: por todos os estudantes) e por diversos professores.
Sendo assim, é preciso exercer os instrumentos da democracia na USP: é direito constituído dos estudantes, por meio de seus representantes, pautarem um ponto de votação no conselho departamental. Ademais, que esse conselho (do dia 10 de março) seja aberto para que todos possam falar e assistir. Que haja espaço para expormos nossos argumentos.
Não basta defender a democratização da USP (o conselho do CAC aprovou, em 2007, a defesa das “diretas para reitor”) é preciso exercê-la!

Programação III MOSTRA CAC

SEGUNDA-FEIRA, 02/03

Manhã
9h* - Leitura Dramática – A Primeira Dor
[Texto escrito por Paulo Bio Toledo na disciplina Dramaturgia I]
10h - Os Sete Afluentes do Rio Ota
[Cenas construídas no processo da disciplina Interpretação II]
10h30 - Romeu e Julieta
[Cenas dirigidas por Julio Barga e Clóvis Lima na disciplina de Direção I]
11h – Debate sobre os exercícios apresentados

Tarde
13h30 - Debate do eixo Ensino com professores convidados
16h30 - O Homem Que Queria
[Cena dirigida por Diogo Spinelli idealizada na disciplina de Direção II]


TERÇA FEIRA, 03/03

Manhã
9h – Strangenos
[Espetáculo criado a partir de pesquisa de mestrado de Gina Monge e iniciação científica de Daniel Alberti]
10h – Conversa/exposição sobre material levantado na pesquisa científica de Gabriela Itocazo, estudante de teoria do CAC.
Tarde
13h30 – Debate do eixo pesquisa com professores convidados
16h30 – Lançamento de livro com conversa com a autora

QUARTA FEIRA, 04/03

Manhã
9h – Apresentação dos TCC’s de formatura em licenciatura
[Paola Lopes e Projeto Encontro]
10h – Diálogos entre os PTs com a presença dos formandos
Tarde
13h30 - Debate do eixo extensão com professores convidados

QUINTA FEIRA, 05/03
Manhã
9h - Isabela [Exercício idealizado na disciplina de Expressão Vocal I e II e Poéticas da Voz]
10h - Manter em local seco e arejado [espetáculo dirigido por Rodrigo Oliveira idealizado na disciplina de Direção III]
Tarde
13h30 - Reunião estudantes para deliberação de propostas para diretrizes do departamento: redação da carta de diretrizes
16:30h – (Des)esperando [espetáculo de teatro de animação criado com estudantes do CAC sob orientação do professor Felisberto Sabino]

SEXTA FEIRA, 06/03
Manhã
10h30 - Café da Manhã do Grêmio - discussão sobre DRT e outras...
Tarde
13h30 - Reações adversas [PT de direção de Joana Doria]
15h – Cerimônia de encerramento com leitura da carta
16h30 – PT de direção de André Nascimento

*Horários sujeitos à confirmação

CADERNOS DE LICENCIATURA

...Sem título...


por Liz Nátali e Daniel Córdova


- Por que é separado? Ah, tem a ver com uma estratégia do governo meticulosamente calculada para assegurar que se formem 10 pedagogos especializados em teatro a cada ano. É isso, certamente.
- E me parece que são apenas 10 vagas porque mais que isso o mercado de trabalho não comporta, não comporta, não comporta mesmo!
- Não sei, acho que fazem os vestibulares separados para fortalecer o curso de licenciatura e impedir que qualquer um do bacharelado faça licenciatura só pra ganhar dinheiro com educação.
- Mas eu ouvi uma história que quando os vestibulares de bacharelado e licenciatura não eram separados (?) ninguém fazia licenciatura não, então resolveram separar para obrigar que alguns professores se formassem!
- Eu não sei de mais nada...



No diploma de quem se forma em licenciatura em artes cênicas no CAC está escrito Educação Artística - habilitação Artes Cênicas. Esta questão se dá por um ajuste de nomenclaturas entre o CAC e as burocracias da rede pública de educação, isto é, nela só serão aceitos os profissionais formados, antes de mais nada, em Educação Artística.
Não se trata de pensarmos na nomenclatura em si, mas no significado de, depois de formados no curso de licenciatura do CAC, termos a permissão de ingressar como professores de educação artística na rede pública. É muito claro que o curso de licenciatura do CAC não se direciona e muito menos se restringe à formação de professores do ensino formal da rede pública - embora alguns de nossos professores sejam fervorosos na crença de que estejamos aptos a trabalhar o ensino de teatro, seja lá o que isso signifique, em uma classe de 50 alunos em 2 aulas semanais de 50 min, ou 45 min na rede municipal. O pensamento de que talvez o curso não deva mesmo se restringir a isto pode ser legítimo, principalmente se pensarmos naqueles que desejam desenvolver alternativas ao ensino público, cada vez mais sucateado. A questão que se coloca é: o curso de licenciatura do CAC se direciona a alguma coisa?
A nosso ver, o que marca essa habilitação é a ausência de qualquer conceito educacional. Um exemplo disso é que somos livres para estagiar em lugares muito diferentes, de forma que uma mesma turma pode ter pessoas observando escolas particulares, públicas e ONGs ao mesmo tempo. Isso pode ser interessante pela possibilidade do diverso, mas negativo quando as discussões sobre os estágios permeiam exatamente as mesmas bases teóricas e vão de um tipo de educação a outro sem muito explorar seus contextos. Isto culmina numa análise extremamente superficial dos diferentes conceitos de educação do ensino formal (instituição escolar) e do ensino informal (ONGs, ação cultural...), conduzida por bases subjetivas e opinativas, quando muito. Um dado interessante é que se houvesse uma proposta em que uma turma se restringisse a estagiar somente na rede pública durante um semestre, muitos teriam que deixar de seguir o "cardápio da Malu" (opções de lugares para estagiar com profissionais de confiança da professora Maria Lúcia Pupo - em sua maioria formados no CAC), já que atualmente existe neste "cardápio" um número reduzido de professores da rede pública. Sintomático? Talvez.
Embora seja indiscutível a necessidade de que nossas bases teóricas ligadas à área de educação e de teatro-educação, tais como Piaget e Viola Spolin, sejam adaptadas aos contextos em que são aplicados, nosso curso não vai muito além desta identificação óbvia. Saímos do curso sabendo seguir as receitas de bolo de Viola Spolin (e com alguma sorte até questionando-a de forma fundamentada), mas com uma fraca reflexão sobre os possíveis significados da Educação Artística com habilitação em Artes Cênicas nos diversos conceitos e contextos educacionais existentes.
Tudo isso faz com que o espaço de licenciatura do CAC (e isso não é um problema restrito ao CAC, mas que abrange todo o pensamento neoliberal da USP que coloca, por exemplo, na disciplina Metodologia do Ensino de todos os cursos uma carga horária muito superior a qualquer outra disciplina de licenciatura) acabe sendo reduzido, talvez de forma inconsciente e inocente, a um processo de instrumentalização do profissional pedagógico da área teatral, isto é, o pensamento intelectual que poderia se aprofundar nas complexidades do campo da educação e do teatro-educação, dá lugar àquilo que seria cobrado no tal mercado de trabalho. É claro que a metodologia importa, porém no momento em que ela está sozinha sem aprofundamento de definições conceituais contextualizadas, ela estará pronta para reproduzir um senso comum que impede qualquer possibilidade de verdadeira transformação.
Se por um lado, o curso de licenciatura do CAC pensa o teatro-educação de forma ampla, possibilitando que os discentes sigam suas respectivas vontades no que diz respeito ao campo profissional da pedagogia em teatro, por outro perambula de forma rasa nas muitas possibilidades de aprofundamento em relação aos assuntos educacionais. Diante disto, a fim de que possamos transcender esta situação, é preciso que, com base em teorias consistentes ligadas à educação, os lugares do teatro-educação sejam identificados e problematizados. E para isso os possíveis direcionamentos do curso devem ser mais bem definidos, clareados e aprofundados. Só assim poderemos fazer jus à atual complexidade posta por todo o sistema educacional.

Entrevista dos organizadores da 1ª Motra CAC com parte deles - Pequenas notícias do mundo lá fora

1- Por que escrever um texto sobre a Mostra CAC?
A: Alguém lembrou dos veteranos? Esses seres obsoletos?
B: É um espaço para falar o que foi especificamente o projeto da 1ª Mostra CAC, num espaço que tembém não existia, o jornal.
C: Para lembrar que nem sempre foi assim, nem sempre houve ação dessa natureza dos alunos no CAC.
D: Eu pensei... Olhar sobre nós mesmos. Reconhecer o que era o CAC. Reconhecer-se. Antes o que havia era o contrário de sincronia: você não conhecia o trabalho do outro, a faculdade não permitia isso. Dava vontade de conhecer a produção de outros cursos (UNESP, UNICAMP), de chamar outras pessoas, mas a gente nem conhecia os eixos dos outros cursos do CAC.

2- O que moveu a produção da 1ª Mostra CAC?
A: Criação de espaço, diálogo. Criação de espaço para a diferença aparecer. Olhar para nossa condição, para o que estamos construindo com nossa presença diária nesse lugar. Sair da reclamação e ir para a ação. Tomada de consciência.
B: Vontade de olhar para o que estava sendo feito, por nós mesmos, no espaço público. Perceber os trabalhos que de uma forma ou de outra ocupam esse espaço e não somente passam por ele.
C: Foram as perguntas que insistiam em voltar: Por quê os alunos que se formam aqui não continuam os seus projetos? Por quê os alunos e professores não veem os projetos uns dos outros. Por que a produção – especificamente o produtor do CAC – não move uma palha pelos projetos do CAC e, em certos casos, age tentando boicotar os trabalhos? Por que não se toca no tema da Produção nessa Faculdade?
D: Indignação.

3- Há um certo vampirismo em relação à Instituição Pública que também se reflete na Universidade? Como você enxerga isto no CAC?
A: Sim. Acabamos por criar uma terra arrasada por utilizarmos do espaço público com interesses meramente imediatos. Confundimos a estrutura da USP como uma grande teta-mãe pronta a nos suprir. E quando tentamos travar algum diálogo com a teta, partimos para a reclamação, para a revolta, para a cobrança, numa postura de resistência que só afirma a condição na qual a USP se encontra; burocracia, lentidão, decadência. Acho que criar, agir é mais inteligente do que resistir, do que se opor.
B: Claro que sim. Mas ainda há a vontade de não estar no espaço público sem ocupá-lo. De não só passar, só extrair.
C: Com certeza. É cada um no seu quadrado, pensando só na sua pesquisa, seu projeto pessoal, suas produções.
D: Encaro como a continuação de um grande colegial. Estudamos nos melhores colégios e esquecemos que estamos num lugar público, que a relação com este lugar é outro.

4- Duas coisas que não existiam no CAC quando você entrou e que existem agora:
A: Aula de iluminação séria. Aula de dramaturgia séria.
B: Reclamações sobre o ciclo básico e a Mostra CAC. Quem entra, já entra reclamando. Relaxa, curte, depois transgride. O jornal também não existia. São três, então.
C: Reuniões mais frequentes entre os alunos, como por exemplo o Grêmio, e a constante reavaliação do curso e da grade por parte dos professores.
D: Milhares de aulas de voz depois da mudança da grade. Cursos com professores que não são do CAC (Anette Ramershoven, Juliana Galdino, Juliana Jardim), uma tentativa legal, mas que não sei se melhorou o curso de Interpretação.

5- Como foi ou está sendo a saída da Universidade?
A: O que vou fazer com a minha formação, com os cinco anos dedicados a ela? Tenho um trabalho e não sei produzi-lo. Como se escreve um projeto? Como se escreve um orçamento? Onde trabalhar? Como ganhar dinheiro? Onde ensaiar?
B: Olhar para a universidade, olhar para quem está dentro, para quem já saiu, ser olhado.
C: Para quem interessa mesmo estudar teatro? Para que serve mesmo as artes cênicas? Ah... eu ainda lembro? Opa! Então vamos buscar todas as brechas possíveis para continuar a criar e conseguir sobreviver de teatro.
D: Falta de grana para a pesquisa. Quem vai ver? Hermetismo? Para quem interessa?

6- No início do curso tendemos a achar que apesar do que possam falar ou criticar, que com a gente vai ser diferente. Com você foi diferente?
A: Nos primeiros anos somos radicais, cobramos, reclamamos e temos idéias prontas. Pura insegurança, cada um se protege nas três ou quatro certezas que tomou emprestado de alguém.
B: Foi diferente com quem foi diferente. Tudo que os veteranos falaram de uma forma ou de outra se cumpriu. As aulas ruins eram realmente ruins, cada um na sua pesquisa, PT abandonado e a sensação, ao sair para o mundo lá (aqui) fora, de ter vivido quatro, ou mais, anos de clausura. Mas espaços de criação foram gerados. O que foi diferente esteve nesses espaços.
C: Não foi diferente. As coisas foram se confirmando. Se formar é foda. Não tem orientação. Parece que para quem se forma, no CAC, só tem a porta dos fundos. Mitos se confirmaram. A diferença foi a criação e a ocupação de outros espaços como a Mostra e o Jornal.
D: Não. Demorei muito para entender o foco do curso. Clichês, clichês, clichês...

Maurício Perussi, formado em Direção Teatral.
Paola Lopes, formada em licenciatura.
Rodrigo Batista de Oliveira, último ano de Direção Teatral.
Thaís Póvoa, último ano de Teoria do Teatro.
Também fizeram parte da organização da 1ª Mostra Cac: Beatriz Schiferli e Maíra Gerstner, ambas formadas em licenciatura.

Recordando recortando Trotski

Por Fernanda Donnabella, 2° ano


(trechos de um crítica à escola de poesia formalista, no "Literatura e Revolução")


Para eles, "no começo era o Verbo". Para nós, no começo era a ação. A palavra acompanhou-a como sua sombra fonética.

É verdadeiramente útil, indispensável, medir uma palavra não só conforme sua significação intrínseca, mas também de acordo com seu valor acústico, pois é antes de tudo pela acústica que se transmite ao outro essa palavra.

À medida que tratamos de uma escola contemporânea, viva, é necessário testá-la por meio da forma social.

Não significa dominar a arte por meio de decretos e prescrições. É falso que só consideramos nova e revolucionária a arte que fala do operário.

Moreira complementa com um "conto da carochinha": O artista vivia à frente de seu tempo e não estava preso a nenhum lugar: o que fazia era "universal" e "eterno". Diziam até que sua História era diferente dos homens comuns: era a História da Arte. Era tão livre que vivia de ficção.

Ninguém pode ir além de si próprio. Mesmo os delírios de um louco nada contêm além do que ele recebeu antes do mundo exterior.

O poeta só pode encontrar material de criação no seu meio social, e transmite os novos impulsos da vida através de sua própria consciência artística.

Métodos de análise formal são necessários, mas não suficientes.

Para eles, "no começo era o Verbo". Para nós, no começo era a ação. A palavra acompanhou-a como sua sombra fonética.

(trechos de uma crítica à escola de poesia formalista, no "Literatura e Revolução")

Arquivo com íntegra de todas as entrevistas!!

http://www.megaupload.com/?d=FXE7DN53

e quanto a pesquisa e a extensão?

“ a gente vai levando, a gente vai levando...”
Pois é, como todos já entenderam elas também serão debatidas durante a famosa MOSTRA CAC e por isso viemos aqui para esclarecer (bem sucintamente ou ingenuamente) o que elas são para nós do departamento de Artes Cênicas... Afi nal de contas a maioria de nós não tem nenhum envolvimento com projetos de pesquisa e extensão e os motivos são muitos (e podemos começar pela falta de informação!)
Pesquisa é pesquisa, sabe? Desde iniciações científi cas – projetos pessoais de estudantes sobre determinado tema – até teses de doutorado... Teoricamente todo professor da USP tem de manter uma pesquisa ativa. Ademais, existem alguns órgãos de auxílio à pesquisa, que dão bolsas e incentivos aos pesquisadores... Já extensão universitária se pretende como uma atividade acadêmica capaz de contribuir signifi cativamente para a mudança da sociedade. É um processo que articula o ensino e a pesquisa de forma a viabilizar a interação transformadora
entre a universidade e a sociedade.
Eis aqui o nosso ilustre TRI-PÉ...

O que (é) (foi) (será) o ensino...

Na Mostra CAC do ano passado foi-nos apresentada uma nova proposta para o indefinível Ciclo Básico. A ideia foi dividir os quatro semestres em eixos temáticos. Passado um ano, resolvemos mapear essa proposição de ensino. Para isso, elaboramos seis perguntas e convidamos três estudantes do 1° ano e três do 2° além de um professor (um estudante do 1° ano e o professor não toparam responder as questões). Com as respostas em mãos tentamos criar uma linha de pensamento que caminhasse sobre os argumentos de cada um.

*AQUI NO BLOG NÃO CONSEGUIMOS REPRODUZIR O DESENHO/LABIRINTO DA LINHA DE PENSAMENTO... [seguem só as respostas editadas que foram pra edição em papel e logo acima o link para download de todas as respostas na íntegra]

* Participaram da entrevista: Amanda Tavares, Ludmilla Facella, Nadia Genara, Bruno Fracchia e Lira Alli


Perguntas:

1. Dentro da nova proposta do ciclo básico, quais suas impressões, da idéia em si, enquanto professor/estudante?
2. Tendo em vista os eixos dessa nova proposta (tragédia, comédia, drama, pós-drama/épico; nessa ordem), como você enxerga essas escolhas e essas divisões?
3. Como você faria uma avaliação da operação prática dessa proposta no ano de 2008?
4. A arte vem tentando conquistar, ao longo dos anos, um espaço claro na estrutura acadêmica. Suas dificuldades definem-se, sobretudo, por uma inadequação, a priori, entre campo experimental artístico e o pragmatismo da pesquisa universitária, entre outros. Como você entende que atividade artística teatral deve se colocar na universidade?
5. O momento teatral na contemporaneidade é marcado por uma profunda indiferença da sociedade como um todo. O que você acredita ser, dentro desse quadro, uma atuação relevante por parte da academia?
6. A despeito da subjetividade da questão, o que você entende por teatro hoje?

Respostas:

LUDMILA (1): [...] A 1ª impressão foi: "Que bom que não o CAC não é algo engessado/estagnado e que ocorrem transformações no curso".A 2ª impressão: "Essa idéia é pra transformar algo de fato ou é pra 'tapar o sol com a peneira'?". [...]


BRUNO (1): [...] As disciplinas deixaram de parecer peças de quebra-cabeças que não sabíamos como, quando e se seriam juntadas [...].

NADIA (1): [...] [a idéia] permite um trabalho mais integrado entre as diferentes disciplinas [...] [entretanto] dificulta mais ainda que as pessoas construam sua trajetória curricular própria . Se as pessoas resolvem mesmo assim fazer um percurso curricular diferente do recomendado, não funciona nem a visão geral nem o mergulho num eixo.



LUDMILA (2): [...] Enxergo essas escolhas e essas divisões bem distantes de mim, como estudante, pois até onde eu entendi não foi algo debatido pelo corpo docente e discente do departamento [...] Não foi uma proposta que surgiu de debates e reuniões abertas (não considero as reuniões do conselho departamental como reuniões abertas, mesmo tendo um Representante Discente presente, considero-as fechadas e diria que algumas parecem ser lacradas [...]

Amanda (2): [...] drama e pós-drama parece mais coerente, pois serem separações claras na história do teatro. [...] O que aconteceu no mundo no período estudado era, obviamente, a mesma coisa para tragédia e comédia e as diferenças de autores e temas pareceram não ser tão consistentes para formar um semestre de estudos separado. Eu realmente acredito que essas divisões devam ter uma lógica maior para terem sido escolhidas, maior que a explicação histórica, mas não pude perceber ao longo do meu primeiro ano aqui no departamento.

NADIA (2): Toda escolha tem seu grau de arbitrariedade e seu critério. É uma forma de
ordenar o pensamento [...]

LIRA (3): [...] Foram poucos os professores que tomaram a proposta como um projeto seu, o que por vezes emperrou processos e transformou num jogo de empurra [...]

LUDMILA (3): [...] Tive a impressão que a abordagem dos eixos prejudicou algumas disciplinas e diluiu o foco do projeto pedagógico de alguns professores. [...]

LIRA (4): [...] As artes e o teatro, obviamente, se não querem estar dentro da universidade como mais uma produção de conhecimento voltada para o mercado – opção essa que normalmente é feita muito mais por purismo elitista do que por opção contra a sociedade de mercado – precisam lutar para preservar o seu já muito pequeno espaço.
E, na tentativa de fugir da lógica de mercado é necessário cuidar para não escapar da realidade: porque a maneira mais fácil de negar – na aparência – o mundo da mercadoria é criar produtos que não possam ser transformados em mercadoria para as massas. Mas aí a tradição artística/erudita/universitária cria produtos que são transformados em mercadoria, mas somente para uma elite inteligente que tem acesso à ela [...]

NADIA (4): [...] A pesquisa universitária é sustentada por verba pública, ou seja, pela população. Deveria ser voltada para os interesses da maioria da população e estar sob o controle desta. NO entanto, como tudo nas universidades públicas e na sociedade capitalista, "interesses da maioria da população" é chutado para baixo de um termo traiçoeiro como " interesses da sociedade", que afinal é capitalista, e que efetivamente é traduzido como interesses das empresas e principalmente das grandes empresas [...]

LUDMILA (5): Uma atuação que considero muito relevante é olhar para fora da "bolha USP" e descobrir que existe uma comunidade externa a ela. Falamos muito que a sociedade é indiferente ao teatro, mas o teatro também não é indiferente a sociedade?Até que ponto não fazemos teatro para nós mesmos? Essas são questões que sempre são debatidas, debatidas e nada.E afinal, de que teatro falamos? A palavra é uma só - Teatro-, mas cada um quer dizer uma coisa com ela [...]

BRUNO (5): [...] Queremos que a Academia, que a Sociedade pense na Arte, mas o inverso também é necessário: precisamos pensar, estudar a Academia e a Sociedade, identificando, de modo imparcial, o seu mecanismo de funcionamento para depois obtermos as nossas conclusões e aí sim quem quiser fazer julgamentos e agir de modo a combater essa indiferença. [...]

NADIA (5): Não sei se o pressuposto de vocês está correto. Quando se fala em indiferença, é indiferença em relação a alguma coisa. O momento teatral é marcado pela indiferença da sociedade a quê? Ao teatro? Aos problemas sociais? Á inovação / criatividade? [...] O alto grau de individualismo, principalmente nesta geração que já nasceu com o capitalismo neoliberal destroçando a gente, aparece como indiferença, que é indiferença a questões sociais mas não a grifes, ao seu próprio bem estar imediato, etc.
Um filme recente mostra uma balança onde de um lado está o mundo e de outro uma pilha de dinheiro e afirma que ninguém trocaria o mundo por uma pilha de dinheiro, porque se não iria morrer junto com o mundo e não usaria o dinheiro. No entanto, tem gente que trocaria metade do mundo por metade daquela pilha de dinheiro, exatamente porque sabe que está na metade que não iria se trocada. E tem muita gente que aceita esta troca sem perceber que está justamente na metade que VAI SER TROCADA. E tem mais gente ainda que nem sabe que a tal troca já está acontecendo.(e é claro, também está na metade que vai ser trocada).
O que seria uma atuação relevante das formações teatrais que contribuísse para sacudir as pessoas e desenvolver sua percepção desta situação? [...] creio que há uma grande tarefa pela frente. Primeiro, porque parte dos professores e dos alunos estão no campo do 1o caso, por sua situação de classe objetiva. Segundo, porque tem toda uma ideologia dominante em ação no sentido contrário. Aliás, a carga horário do curso de artes cênicas no ciclo básico contribui, de certa forma, para se estar "fora do mundo". Mal dá tempo para estudar fora da sala da aula quanto mais tempo para se dar conta que tem toda uma realidade social frente á qual não se pode ser indiferente. [...]
Creio que se conseguíssemos desenvolver uma relação mais estreita entre ensino, pesquisa e extensão, dentro de uma concepção de formação teatral que tivesse como pressuposto a perspectiva não apenas do desenvolvimento da criticidade e da criação/ inovação artística mas
também da ação coletiva e da consciência de uma sociedade baseada na exploração de uma classe sobre outra [...], talvez ajudasse.

Amanda (6): Teatro é uma arte para poucos mas que se pretende para muitos. Acredito que o teatro é necessário, como forma de expressão passível de ser ao menos experimentada por todos. Hoje penso que o teatro ainda é um luxo para poucos, tanto ao assistir a uma peça quanto participar de aulas. Na USP o nosso curso é em período integral também é um fator de elitização do teatro. Assim, a idéia difundida da arte é a de que "só rico faz, só rico tem tempo para isso". Cada vez mais o teatro tem espaço diminuído, porque se restringe a quem já o conhece.

NADIA (6): Teatro hoje é diferente de teatro ontem ?