segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Núcleo/Jornal maCACando diálogos - Out. 2008


maCAC-ando Contra-indicações

Em frente. Com baixas e novos colaboradores prontos à símio-ótica visceral. O recorde de ibope delineou nossas peculiares contra-indicações e as, indissociáveis, reações adversas dessa maCAC-cracia de papel. Resultado: estamos transbordados de combustível perigoso, inflamável e altamente poluidor!
Macacos posicionados!
Novidade 1. Firmado o acordo de parceria entre nós, destrambelhados macacos alcoolizados e os cênico-dependentes irrecuperáveis bacânticos experimentais (WWW.bacante.com.br). O regimento é um guardanapo em branco, com letras invisíveis e um erótico fetiche pela crítica ativa (aguarde mais informações). Nesse mês, dois diálogos críticos se encontram pela web-selva; um deles aqui publicado. Advertência: nossas fileiras símias estão agora engordadas de catapultas formais jamais vistas nessa guerra contra a mediocridade. Preparem-se, ou sê macaco (enquanto é tempo). Não haverá misericórdia.
Novidade 2. Nossas orelhas quentes nos fizeram assinar as críticas desta vez. Mas, ávidos pela discórdia chimpanzistica, nossa lei é: faça o que tu queres... Se gritar, gritamos em dobro. Paga pra vê!
Novidade 3. Verá que estamos mais sérios esse mês. Mas é um acumulo de energia, um satz, uma decupagem de movimentação, um recolhimento como pesquisa de linguagem, jo-ha-kyu, um se mágico, um laboratório da peste latente. Só pra avisá... Sacou? Fica esperto!
É nóis! (e aí, vai votar em quem?)

A Supermarionete - por Paloma Franca

Entrevistas - na íntegra!

1. Como você acredita que esteja reverberando a Semana de Arte e Cultura agora?
2. Tendo em vista as Mostras CAC, Semana de Arte e Cultura e Mostra da Licenciatura, qual a relevância, pra você, dessas atividades?


Fernanda (1º ano)


1. Das pessoas todas que participaram eu não sei. Eu posso falar do que ta mais próximo de mim, que é a minha turma e eu mesma. Da minha turma eu acho que o pessoal viu que é possível fazer alguma coisa. E agora parece que deu um gás pra por em prática as buscas de cada um ou as buscas coletivas, de um pequeno coletivo. Em mim, ta reverberando muito a fala do Moreira, no dia em que ele veio ai compor as mesas, porque as vezes agente passa tanto tempo aqui que agente começa a tomar as coisas como verdade e eu acho que essas coisas as vezes são ensimesmadas demais para serem tomadas assim, e é isso.

2. Acho que o diálogo, o diálogo com quem vem aqui trocar. Um outro espaço que possibilita outros tipos de diálogos e diálogos da gente com a gente mesmo.


Denise (1º ano e da organização da Semana de Arte e Cultura no CAC)

1. Então, dentro da classe eu vi comentarem bastante, falarem que realmente foi muito legal e todo mundo que veio só teve opiniões positivas. Agora, tem muita gente que não veio que também não fala nada e pergunta sem querer saber de verdade. Mas eu acho que a repercussão ta sendo muito boa. Quem viu só tem elogios. Assim, eu ouvi bastante gente falar que realmente a primeira parte das mostras (de cenas) e a segunda parte dos debates ficaram meio sem encaixe, mas eu acho que foi super produtivo o debate, assim, os últimos dois especificamente reverberaram muito, todo mundo pensando muito sobre... Mas eu queria ver se alguém tava afim de fazer algo um pouco mais prático, sabe? A gente que organizou, a gente ta muito afim, discutindo coisas, outras propostas sobre o que a gente pode fazer a respeito e procurando saber como funciona realmente toda essa burocracia... A gente entrou agora e não sabe realmente como funciona e também ninguém dá apoio pra isso. E aí é isso, eu acho... Tamo tentando ir pelas nossas próprias perninhas. E o resto espero que também tenha ficado estimulado e também queira ir com suas próprias perninhas.

2. Pô, eu acho que é muito relevante, né, é um espaço que é pra discutir esses assuntos que as vezes agente deixa de discutir em aula, a gente fica discutindo a cena, fica discutindo coisas extremamente específicas e a gente não discute como isso pode reverberar na sociedade, na comunidade, e acho que esses são espaços ótimos pra isso e pra gente conversar mesmo, pra gente saber dos nosso projetos do nossos anseios. Acho que é isso, e acho que pô, eu faço licenciatura e pra mim... eu quero muito ver a semana de licenciatura. No CAP eu sempre, faz uns dois anos que eu vou na semana de arte e educação, e é esse o contato que eu tenho. Então, eu não sei, eu não sei como funciona aqui, eu vejo que aqui é meio parado, assim com é lá, mas eu quero ver como funciona...


Maíra (5º ano)

1. 1. Então, pra ser sincera... Eu to saindo da faculdade e tenho um mês pra entregar meu TCC, então eu não tive possibilidade de vir acompanhar assim, de perto, né? Porque eu to com os prazos muito em cima, então eu venho o mínimo possível pra universidade. Venho cumprir minhas obrigações, mesmo porque eu to saindo nesse momento, isso em termos práticos. Agora, em termos conceituais, assim de ver a coisa acontecer, eu fico muito feliz, porque é o último ano que eu to aqui, eu não tinha visto essa iniciativa antes assim desse jeito, tenho visto outras iniciativas mas não dessa maneira. Eu acho importante trazer pessoas que venham contribuir pro nosso diálogo aqui dentro. Mas acho que algumas coisas ficam meio na superficialidade no sentido de... Até pra questões que são questões que a gente acaba não discutindo o ponto nevrálgico delas, assim... Que a meu ver hoje é [por exemplo] a questão da produção, que é produzir teatro, como se produz teatro? Então, você chama alguns grupos que tão produzindo, que tão passando pelas dificuldades, que tem a lei de Fomento, a gente sabe que tem isso... Mas tá, e daí? Assim, sabe? A gente fica, acho, que no meio do caminho e acho que as iniciativas tão um pouco, ficam um pouco nesse sentido. E aí, uma coisa que eu queria falar na verdade é uma coisa que eu to pensando muito nisso: eu tava lendo aquele texto da Susan Sontag que ela escreveu abordando Artaud, não sei se você já leu, todo mundo fala desse texto, né? E eu nunca tinha lido. Me caiu como uma luva para as coisas que eu tenho pensado: o quanto Artaud queria uma revolução cultural pelas questões pungentes dele do fazer teatral, mas pensava isso fora do âmbito político. E o que ela ta chamando atenção ali, a meu ver, é de como a arte precisa pensar a revolução cultural ou o que quer que a gente possa chamar de revolução hoje, pensar atrelado a questões políticas; e hoje a revolução política, a meu ver, está em se pensar em outros modos de fazer. Eu acho que ela chama atenção pra esse texto e eu fiquei pensando nisso sabe? Que artistas que pensaram as duas coisas? Os que pensam a revolução política vai pra alguma coisa que fica estritamente às vezes ligadas as questões partidárias ou questões do fazer a arte em prol de alguma coisa e outros, às vezes pensam a revolução cultural por essa perspectiva só do, que também é intenso, mas eu fico preocupada, sei lá tipo... eu enxergo que o Beckett foi um cara que pensou um pouco as duas coisas, mas ainda num âmbito que talvez a gente não consiga enxergar. Não sei. Mas é uma questão pra mim hoje e acho que ver esse tipo de coisa [acontecendo] me reverberou a pensar essas coisas.

2. Ah eu acho assim: eu acho que elas são iniciativas distintas entre si apesar de carregarem também em si um pressuposto comum que é essa idéia de pensar a universidade pra fora, pensar, tal... Como eu participei da criação das outras duas mostras CAC, a gente tinha a idéia... Na real, a primeira idéia da mostra, era aquela coisa do departamento olhar pra si: então promover o dialogo aqui dentro. A gente tava saindo, tava no meio do caminho, e sentia que isso não existia muito. Então, a meu ver, a Mostra CAC tem um pouco essa característica, não sei como que vai se desdobrar daqui pra frente, mas ela nasceu dessa vontade, assim, da gente poder conversar a partir de tudo que a gente produz aqui e entender pra entender o teatro que a gente produz aqui dentro. A Mostra de Licenciatura, no sentido de fazer alguma relação, ela também tem um pouco desse olhar, no sentido de abrir uma fissura aí, pra produção do que é, do que se produz aí na licenciatura, que é um curso que sai, que vai produzir fora mesmo, na maioria das vezes. E acho que, na verdade, essas coisas tinham que estar mais intercaladas, eu sinto que são um pouco, iniciativas um pouco... não isoladas, mas desmembradas. Acho que vem um pouco a idéia da mostra CAC: eu me lembro que a gente começou a discutir porque o departamento não parava pra ver a Mostra de licenciatura. Assim, o departamento pára em greve, o departamento pára em um monte de coisa, mas pra ver o trabalho do outro não parava. Tanto que a idéia inicial da Mostra CAC era fazer no final do ano, então faz mostra da licenciatura, faz mostra de direção, de interpretação tudo junto e aí a gente promove dialogo tal; só que tem sempre aquela coisa, no final do ano ta todo mundo cansado, então fica um pouco sem lugar às vezes. Sempre vai ter uma intempérie, acho que a grande questão vai ser como que a gente vai lidar com as intempéries pra sempre tentar promover o dialogo. Porque sempre vai ter algum tipo de... alguém vai ter algum problema. Eu meu problema agora é meu TCC por exemplo, entendeu? Não pude vir na Semana de Arte e Cultura, entendeu? Fiquei sabendo tal... mas enfim, de todo modo eu to saindo da faculdade e acho legal as pessoas estarem com garra pra coisas continuarem acontecendo assim.. e acho que é isso.

Paloma - 3° ano


1. Então, eu não participei da Semana de Arte e Cultura. Eu acho assim, eu não escuto as pessoas falando muito. Eu apenas ouço alguns comentários, mas num ouço uma reverberação, não sinto que suscita muita discussão nos corredores, eu não sei muito bem. Algumas pessoas vem falar das palestras tal. Mas pra mim ainda é muito pouco.

2. Eu acho que elas são muito relevantes, mas elas tem que ser... elas tem que ganhar potencia, e eu não sei bem como fazer isso, assim... eu vejo o pessoal se organizando, eu vejo o pessoal fazendo as coisas, eu vejo as pessoas se articulando, mas no final a reverberação da primeira pergunta eu não sinto tanto né? Que é o eco. Quando elas estão acontecendo elas acontecem mesmo, e é muito legal, mas o eco e as discussões e o que elas trazem não acontecem muito...


Julio - 2° ano

1. Agora? tipo uma semana depois? Ah, eu num sei se ta reverberando tanto, não ouvi falar muito. Mas na semana acho que tava bacana ... uma galera quis vir na aula, ou nem vir na semana pra prestigiar. Mas, ah, eu não sei se ta reverberando muito, mas eu acho que a idéia foi bacana. Ah, eu acho a mostra super importante, mas do jeito que foi organizado, uma coisa muito do pessoal do Arte e Cultura, eu acho que foi muito do nada. Aí, de repente: ‘Ah a gente tá a num sei quantos meses organizando, é... você que num prestou atenção nos cartazes num sei que...’, mas eu num acho que tem tanta divulgação aqui no departamento. Eu acho que a divulgação, [mesmo] depois, pra semana mesmo, quando tava tudo pronto, eu acho que a divulgação não foi muito boa. Então, acho que tem ser mais organizada, sabe? Eu acho. Não quer dizer que foi desorganizada a Semana de Arte e Cultura, mas o departamento ficou muito a parte disso, o departamento em geral. Eu acho. E não foi por que a gente quis. É porque, meu, é no meio da semana tinha professores que queriam dar aula e que não iam deixar de dar aula e a gente ta com o cronograma atrasado, não é culpa nossa e eu não falo que é culpa do professor exatamente. Mas pode ser que sim. Mas, meu, a gente tem que cumprir o calendário sabe? E tem que ter uma comunicação maior entre as partes do departamento. Não sei se tô sendo claro.

2. Eu acho muito importante porque a gente sabe o que tá acontecendo em todo o departamento. Sei lá, eu acho bem relevante. Eu gosto dessas semanas. Gosto muito da Mostra CAC. E gosto muito dos debates que tem e das polêmicas também. Que eu acho que quando rola polêmica é porque é serio, assim... sabe? Não é qualquer coisa e eu acho que tem coisas que precisam ser discutidas nesse departamento.

Paranoid

Por Rodrigo Batista de Oliveira – 5º Ano

A idéia deste texto surgiu na ocasião da II Mostra CAC onde coincidentemente aconteciam as primeiras exibições do filme de Gus Van Sant, “Paranoid Park”, no Brasil. Pensando que esta edição do jornal seria para refletir sobre o caráter, relevância e reverberações desse tipo de mostra dentro do Departamento, parece que este momento é propício para a escrita deste texto. Antes, o artigo se chamaria “Paranoid Cac”, mas achei que pareceria adolescente demais, embora eu goste do tom enfadonho, patético e adolescente que o título antigo possui.
Antes de falar sobre o filme, gostaria de ressaltar a relevância do cinema de Gus Van Sant para o panorama cinematográfico atual. Sem nenhum experimento mirabolante de linguagem, com a simplicidade de seus planos longos e fixos, seus recortes temporais e sua temática adolescente, ele consegue fixar uma pesquisa clara e que se desenvolve a cada filme de forma cada vez mais surpreendente. Os filmes dele basicamente falam sobra a apatia em relação à morte. Uma apatia que não surge de um descaso simples, mas de uma rede complexa de ações, inações, vontades e desejos velados. De forma muito inteligente, Gus Van Sant consegue falar dessas ameaças à vida sem culpar alguém, ou a sociedade, fazendo com que atos como o Columbine não sejam contados de forma maniqueístas. Não existem culpados, só existem apáticos.
No filme em questão acompanhamos a vida de um adolescente norte-americano, que faz parte do gueto dos skatistas, tem uma namorada, pais separados, mas que num acidente mata um policial. Culpado ou não, ele viu um corpo ser dividido em dois na sua frente. A partir daí ações paralelas acontecem, mas o pensamento do protagonista não poderia estar concentrado em outra coisa.
Talvez a grande metáfora do filme esteja nas longas e lentas tomadas dos jovens com seus skates girando em enormes tubos que parecem não ter fim. E é assim que senti o Departamento no fim da II Mostra CAC, vários bandos girando em túneis sem fim, cada um com o seu tipo de apatia, que se revelava em cada tipo de discurso, do mais engajado ao mais despreocupado.
A cena em que o protagonista e uma amiga discutem, através de um discurso vazio, a guerra no Iraque, sendo que ele tinha acabado de matar alguém, apresenta a metáfora de um falso engajamento. Um engajamento que está no discurso, preocupado com coisas que não diz respeito de fato com as questões que nos cercam.
O que nos falta é matar alguém (não preciso dizer que isso é uma metáfora), pois discutir a guerra no Iraque (também outra metáfora) fazemos muito bem e nos achamos engajados, informados, antenados e coisa e tal...
E o pior é que não estamos sozinhos como muitos pensam e escrevem, estamos em bandos, todos iguais com seus skates girando dentro de tubos gigantes e sentindo prazer. São bandos que escrevem as críticas, são bandos que pesquisam a linguagem, são bandos que torcem o nariz, são bandos que picham, são bandos que protestam, são bandos que ensaiam suas peças, são bandos que produzem seus textos, enfim, ninguém está sozinho. Esta idéia toda de individualização e ensimesmamento me parece já estafada. No mínimo temos que complexificar a individualização.
Mas, insisto, o que nos falta é matar alguém, para assim, vivermos com uma culpa, uma inquietação real, material, verdadeira.
Isso tudo está longe de ser uma teoria, manifesto ou qualquer coisa parecida, são só metáforas desconexas que criei ao ver um filme que só retrata a adolescência norte-americana como muitos críticos escreveram na época. O recorte de Gus Van Sant com certeza não diz respeito somente à fatia que ele escolhe.

maCACrítica: Reações Adversas - A SECRETÁRIA ELETRÔNICA da adversidade CONTEMPORÂNEA



Por Paulo V. Bio Toledo

(Um aparelho velho, mofado e corroído pelo devir. Em suas teclas os números já desapareceram. Seu coração é de gelo; a temperatura ambiente é de eterna negatividade, o que impede seu descongelamento. De quando em quando soa um sinal de alerta, luz vermelho-esverdeada acende-se, uma voz rouca e metálica vaza das células do aparelho)

You have thirteen Messages.

1. Message from Peter Pál Pelbart, 23h14min:
"Nem tudo vai ser compreensível, nem tudo vai ser entendível, e isso não tem a menor importância”

2. Message from David Lapoujade, 23h35min:
"Mesmo nas situações cada vez mais elementares que exigem cada vez menos esforço, o corpo não agüenta mais. Tudo se passa como se ele não pudesse mais agir, não pudesse mais responder. O corpo é aquele que não agüenta mais"

3. Message from Johann Fatzer, dos papéis amassados de Bertolt Brecht, 23h49min:
“Eu cago para a ordem do mundo, eu estou perdido.”

4. Message from espectador especializado, 23h57min:
Acabo de assistir ao espetáculo Reações Adversas. Não sei ao certo o que falar sobre. Mas me senti completo e feliz. Parabéns. Obrigado. Eu me vi refletido nos olhos de cada atriz e ator - irresistivelmente fui de encontro a mim mesmo. Quando acordei já havia me afogado. Desculpem-me.

5. Message from ... (anônimo), 23h59min,:
Seria o poder tão líquido, as relações tão adversas, que é impossível traçar linhas seguras de interpretação histórica?
E, se assim for, a representação teatral, racional e cognitiva da idéia, é suficiente, ou melhor, tem alguma potencialidade?
(pausa)
... Provavelmente estou andando em círculos... Mas não há ninguém por perto...
(pausa)
Qual a esperança?
(pausa)
Meu coração é um tijolo congelado, mas bate por você

6. Message from Ofélia, -00:00h:
"Aqui fala Electra. No coração das trevas. Sob o sol da tortura. Para as metrópoles do mundo. Em nome das vítimas. Rejeito todo o sêmen que recebi. Transformo o leite dos meus peitos em veneno mortal. Renego o mundo que pari. Sufoco o mundo que pari entre as minhas coxas. Eu o enterro na minha buceta. Abaixo a felicidade da submissão. Viva o ódio, o desprezo, a insurreição, a morte. Quando ela atravessar os vossos dormitórios com facas de carniceiro, conhecereis a verdade."

7. Message from Paulo Bio Toledo, sem registro de data:
Essencialmente, por meio dessas críticas buscamos realçar o debate, sublinhar inquietações, viabilizar discursos e compartilhar...
Como prática, a tentativa é de explorar as possibilidades para além da crítica instituída; para que seu exercício seja também operação artística, em processo. O que vai contra... (ruídos, a fala torna-se inaudível)

8. Message from Heiner Müller, um dia antes da morte:
"O momento da verdade quando no espelho
O Rosto do inimigo aparece”


9. Message from um olhar desprendido de seu corpo, entre o passado e o futuro:

A repetição mecanizada, o corpo desnudado, viciado na sobrevivência, esvaziado da experiência, se não vinculado ao seu respectivo processo histórico-político, reproduzirá o mesmo esvaziamento liquido – principal complexidade do Capital na contemporaneidade.
Walter Benjamim é seguidamente relido pelas interpretações filosóficas neo-acadêmicas e adaptado (remoção do indissociável materialismo histórico) a uma visão subjetivista onde os conceitos pairam sem tempo, hegemônicos, universais, como nada – como a forma superdimensionada nas artes.

10. Message from Heiner Müller, arquivada em 1979:
"Enquanto a liberdade estiver baseada no poder, o exercício da arte sobre privilégios, as obras de arte terão tendência de ser prisões, as obras-primas, cúmplices do poder."

11. Message from Eduard, um espectador desavisado, todas as horas do dia:
(com voz apreensiva)... Eu não devia estar lá... Desculpem-me... Não fui capaz de entender... Desculpem-me...

12. Message from Karl Kraus, sem idéia de tempo:
A origem é o alvo.

13. Message from Peter Pál Pelbart, nesse instante:
(Muito barulho, poucas palavras audíveis) “... escravos ... sobrevivência. ... pouco importa a que custo ... é esse rebaixamento global da existência, é essa depreciação da vida, é sua redução à vida nua, à sobrevida, é esse estágio último do....” (Estampido de um tiro)

(Silêncio)

Carta a Cibele Forjaz

Por Paulo V. Bio Toledo

Na semana que saiu o primeiro número do Núcleo/Jornal maCAC-ando, uma crítica marcou território. A primeira vez que a ouvi foram algumas horas depois de distribuímos os jornais. Você elogiou o novo formato e disse [mais ou menos assim]: “só acho que vocês tratam o CAC como uma entidade, quando, na verdade, o CAC somos nós todos, inclusive vocês.”. Ao longo da semana ouviria novamente tal crítica três ou quatro vezes. Uma delas, mais marcante, quando no debate sobre Teatro Popular, promovido pelo 1°ano na Semana de Arte e Cultura, as organizadoras fizeram coro ao dito dizendo que o tratamento dado ao CAC no jornal como algo maior, externo a nós, parece uma fuga das reais questões, como o medo de apontar, literalmente, os alvos das insatisfações. E que, no fundo, parece que gostamos de criticar, mas queremos mesmo é que as coisas fiquem como estão.
Hoje eu lia uma análise sobre a crise financeira mundial. Um economista francês, Laurent Cordonnier, contrapunha as especulações financeiras mundiais com a vida real dos homens: onde “os mercados se ajustam e os atores, não” [Ajustes dolorosos entre oferta e procura. In: Le Monde Diplomatique Brasil, set. 2008], ou seja, o nível da subjetividade do capital financeiro e da auto-regulamentação do mercado é tanto que o homem torna-se o equilibrista nas alturas, rezando para que novos ventos incontroláveis e incompreensíveis não o derrubem novamente (leia-se, não o matem de fome). Por esse cenário, comecei a pensar qual seria nossa efetiva atuação no mundo (partindo do pressuposto, é claro, de que tenhamos algum desejo na transformação das coisas como estão). Precisamente, qual seria o real poder de atuação na micro-esfera social em que habitamos? Será mesmo que estamos contribuindo com alguma coisa ao reciclar o lixo, cuidar de um cachorro abandonado, praticar o “consumo consciente”? Será mesmo que nossa atuação no âmbito dos reflexos da economia global surte um mínimo de efeito? Cada vez mais, as pessoas levantam as bandeiras dessa “micro-revolução”, e, paralelamente, é cada vez maior o número desses pequenos focos de atuação que reproduzem a mesma lógica de dominação que gerou os reflexos contra os quais se luta. Vide o “desenvolvimento sustentável”, por exemplo. Uma infinidade de ativistas ambientais passa a defender que as grandes corporações não tenham tanto descaso pela natureza; entretanto, a principal tática de luta é provar a elas que a produção consciente GERA MAIS LUCRO! (ainda mais em tempos da moda ecológica). Um imenso paradoxo tendo em vista que o capitalismo moderno, em todo seu processo histórico, impôs o totalitarismo do mercado, onde a corrida pelo lucro é a única lei – destrua ou não destrua o meio natural. E, portanto, qualquer ética que desrespeite a avidez individual pelo lucro é punida com a falência – exclusão do jogo econômico/financeiro. Ou seja, argumenta-se pela via que é, e foi durante anos, a verdadeira raiz do aniquilamento natural do planeta e que, provavelmente, continuará a ser. Outro exemplo, a ONG Meninos do Morumbi tem hoje uma infra-estrutura gigantesca, tudo para “amenizar a miséria social”. Modo de operação: buscar talentos artísticos em meio à desgraça das favelas e dar subsídios para que esses seletos meninos vençam na vida! Ou seja, incute-se a lógica da disputa individual, da perseverança como salvação em seres que foram, e são, sua principal vítima. A conclusão é clara: aqueles que não vencem colhem a escassez de seu próprio demérito – nada é culpa do sistema social, embora ele tenha por lógica de funcionamento a exploração do outro, o “vencer”, que, sabemos, sempre envolve o “perder” (Como o Moreira colocou brilhantemente no debate, as pessoas da periferia acreditam-se culpadas pela sua própria situação miserável, e, quando conseguem sair dela, tornam-se os gerentes populares, garotos-propaganda da ideologia de mercado e da construção individual, principal agente da desigualdade que os oprimiu durante séculos).
Levanto esses exemplos, entre tantos outros, para recolocar as questões do começo. No CAC, como em toda USP, existe uma estrutura de poder hierárquico pela qual se sobrescreve toda uma linha de funcionamento (em nosso departamento podemos listar dezenas de fatos e medidas que o comprovam, além da própria práxis regimentar que afirma: conselho não democrático, relação hierarquizada entre as categorias, autoritarismo objetivo e subjetivo, imposição de valores e saberes num espaço que deveria ser de construção, não de recepção, de conhecimento, etc.). Sendo assim, discordo, Cibele, de que não existe uma esfera maior que pré-estabelece conceitos e diretrizes; discordo de que “o CAC somos [apenas] nós”. Concordo, obviamente, no inegável poder e força que tem a nossa atuação enquanto indivíduos na esfera da construção e criação diária no departamento, mas se negarmos essa “esfera maior”, para além do dia-a-dia entre “nós mesmos”, corremos o risco de simplesmente reproduzir a lógica operante, como já dito acima, de atuar e afirmar valores que são, em verdade, as raízes de nossas angústias enquanto pretensos artistas (mas efetivos universitários). Penso ser preciso atuar socialmente em todas as frentes “de batalha”, para tanto, é providencial reconhecer as complexidades formadoras das estruturas e, também, questionar nosso posicionamento diário e individual na sociedade. Entretanto, uma sem a outra reduz a zero qualquer possibilidade de ação efetiva.
Com certeza, a amplitude do debate que proponho a você Cibele (alguém que acredito muita disposta à troca e à divergência construtiva) é muito maior do que nosso jornal de duas folhas. Mas tal debate representa minhas principais inquietações com a arte e o teatro nos dias de hoje, e representa, acredito, nossa atuação enquanto coletivo estudantil no CAC.

Olhar externo: Reações Adversas e Ato sem Palavras I - Formas, meios e espaços (ou um título genérico pra falar do tudo e do nada)

Por Fabrício Muriana, editor da Revista Bacante (WWW.bacante.com.br)

Que delícia é imaginar que o texto que escrevo estará impresso num jornal, com textura, peso, cheiro e materialidade. Imagino-o entre os dedos do leitor que agora se depara com esse deslumbrado que vos escreve. É claro, eu também aprendi a escrever com papel e caneta, mas me acostumei tanto com teclados e a virtualidade falsa da internet que vai ser curioso ver um texto meu publicado num jornal. Não dá pra dar CTRL+C nem CTRL+V (ok, no blog você consegue, mas aqui não). Pense bem na apropriação imediata: a poesia implícita nos diversos usos que esse jornal ganhará, no exato momento em que perder seu valor de uso. Pense no vendedor de bananas da feira, que trabalhou duro pro filho japonês poder estudar e entrar na "USPE" e que vai usar esse jornal como mais um embrulho pros seus clientes. Ou no catador que vai vender essas palavras impressas por kg. Imagine a quantidade de origamis que poderíamos fazer com uma tiragem completa do jornal. Citando Bete Dorgam, que por sua vez cita uma mestra sua sobre a melhor técnica pra fazer origami: escuta papel, escuta papel!.

Mas suponhamos que você tenha passado do primeiro parágrafo. Pois bem, vamos conversar então sobre as duas peças que estiveram em cartaz nos dois teatros do CAC (ou seriam os dois teatros da EAD? Ou dos dois? Sempre me confundo). Reações Adversas do lado esquerdo, Ato Sem Palavras do lado direito (olhando de frente, não perca o referencial). O primeiro, um TCC de alunos do CAC apresentado às 19h. O segundo, trabalho final de uma turma da EAD (com três assistentes de direção se formando pelo CAC) às 21h. Em comum, ambos não usam palavras (descontada uma sercretária eletrônica pouco expressiva) e estiveram em cartaz na Shangri-la universitária de São Paulo.

Quando falamos das diferenças, aí a lista é bem mais longa. Começando pelo lado esquerdo, vejo em Reações Adversas tudo que há de melhor e pior em projetos universitários. A radicalização de uma forma que só tem contexto na própria academia e a desconexão entre essa forma e qualquer referencial macro-político e histórico. Veja bem, é sempre bom repetir, não quero normatizar. Ao mesmo tempo que vejo uma busca da quebra daqueles referenciais que estabelecem um indivíduo - com ações repetidas por quatro atores, embaçando a idéia de foco, protagonista, curva da narrativa - ainda assim é impossível dissociar essa "experiência" da casca que nos envolve: uma hora de trânsito pra chegar; se for domingo, sem transporte pra voltar; montagem no palco italiano (ou elizabetano? na usp isso sempre me confunde). O que do trabalho nos aponta para uma investigação contemporânea, perde potência pelo invólucro institucionalizado. Talvez pra mim (de novo, pra mim) a proposição de experiência só se complete num espaço que não seja tão cheio de narrativas quanto a Universidade de São Paulo, nossa Brasília paulistana. Talvez a mesma apresentação, num espaço com menos dispersão do olhar, com mais proximidade do público, trouxesse a experiência desejada. Talvez seja o caso de não encarar a pesquisa como acabada, mas como iniciada. Empreender a busca fora dos muros ultra-protetores da USP. Talvez.

Parêntesis: na internet, em todos os textos, no momento em que os redijo, parece que já estou em diálogo. O meio obriga essa postura. 101% dos textos têm pontos incompreensíveis e mal contextualizados. Pra essas dúvidas, estão lá os comentários. Quase pedi pra você, leitor, deixar seu relato nos comentários. O jornal é mais autoritário, nesse sentido. Ainda bem que tem sempre a próxima edição. Voltando à programação normal...

Na EAD o buraco é mais pro lado. Há que se encarar qualquer obra a partir de onde se parte e, vamos falar um pouco do que todo mundo cochicha: como fugir da forma EAD? Ah, você não sabe qual é a forma EAD? Então pense numa turma de aproximadamente 20 alunos, os quais estudam somente interpretação (o que não é pouco). Não se esqueça, é uma formação técnica, como aquele de telecomunicações que eu fiz e não terminei, em que se pode ser técnico e estar habilitado a exercer uma profissão (!). Um projeto de formação que se foi com o ideário modernista, mas que persiste pelo status de uma formação gratuita, em que encontramos os mestres no bem-fazer. Mais do que no CAC, vendo de fora, a EAD faz o papel das Belas-Artes européias do início do século XX: antítese das vanguardas. E a razão disso pra mim (de novo), é o fato de esse ideário modernista estar presente nas montagens de forma muito clara. Pegando as recentes que pude conferir: Amor e Restos Humanos, Prepare seu Coração, Orgasmatron e Ato Sem Palavras, não há perigo de tensão de linguagem. Porque todos os alunos têm que aparecer em cena, porque os textos são todos de "autores consagrados" e a espinha dorsal de qualquer dos trabalhos, porque as direções, por mais que generosas, não são suficientemente colaborativas e porque são montadas sempre no mesmo teatro. Dentro dessa perpectiva pouco otimista, Ato Sem Palavras é a montagem, entre as quatro, que mais dá conta de colocar estranheza. Ao montar o Beckett revezando atores no primeiro momento e improvisando no segundo, o texto perde a autonomia de vetor de todas as forças. Os atores têm suficiente liberdade para propor um jogo que poderia até prescindir do texto, mas que acaba instituindo-o como parâmetro (mesmo para ser quebrado em alguns momentos). Claro que esse caleidoscópio de olhares interessa muito mais que o Beckett ipsis litteris. As variações, o ator que erra, a diacronia que se torna sincronia, a impossibilidade de uma leitura única, tudo isso torna o encontro com o público bem mais potente do que aquele texto encenado no início por apenas um ator, com algumas triangulações forçadas. Fica, no entanto, uma sensação de mero exercício, por conta da desconexão com outros elementos da peça, como cenografia e figurino. Esses, parece que saíram daquele kit-beckett, que todo mundo deve comprar na mesma loja (a Beckett's) na hora de montar o irlandês ou é uma grande coincidência.

O resultado desse texto é uma frustração. Tanto tempo pensando em como propor formas diversas também no jornal do CAC, vejo-me produzindo um texto que não consegue deixar de lado os julgamentos. Aqueles mesmos que a Bárbara Heliodora fazia há mais de 50 anos ou na última edição d'O Globo. Acho que preferiria mandar só uma seqüência de links ou algum vídeo do youtube. Há algo de velho nessa forma, que, não sei bem, pode ser que esteja relacionado com o que há de museológico nas formas dos espetáculos criticados. Enfim, se não servir de nada o diálogo, sempre nos resta o origami.

Mostras

por Paola Lopez, Paulo V. Bio Toledo, Luiz Paulo Pimentel e Liz Natali Sória.

Na última semana de setembro ocorreu no CAC uma mostra organizada pelo 1° ano, dentro da Semana de Arte e Cultura da USP, cuja inquietação central foi o árduo caminho entre a universidade e a comunidade. Tal evento colocou em questão, para nós do jornal, a importância, ou dês-importância, desse tipo de atividade no CAC: Mostra CAC, Mostra da Licenciatura e esta Semana.
Para que haja alguma linguagem em comum é necessário traçar as fronteiras e ponto de partida de cada um dos eventos:
No final do ano de 2006, ao questionar-se sobre a dificuldade de articulação entre as habilitações oferecidas no departamento, um grupo de estudantes se reuniu para pensar propostas de ações para debater esta e outras temáticas acerca do departamento.
O projeto da mostra CAC surgiu, então, para proporcionar um espaço específico de apresentação dos trabalhos realizados no departamento; tentando traçar uma trajetória de formação e com isso vislumbrar as tendências dos pensamentos que regem a escola, bem como mobilizar alunos, técnicos e professores para a reflexão dos trabalhos realizados.
Muito diferente da Semana de Arte e Cultura, portanto, onde a inquietação inicial voltava-se para fora da universidade, em suas possíveis relações com a comunidade, e não para dentro do departamento, como a Mostra CAC. Essa diferença vetorial, por um lado altera substancialmente o caráter do evento; mas, por outro, indica possibilidades de complementos às inquietações dos estudantes envolvidos.
Por fim, a Mostra de Licenciatura é uma semana, institucionalizada, de mostras de trabalhos internos (TCCs) que, na maior parte das vezes, constituem-se de trabalhos realizados externamente à Universidade. Como prática, a semana abarca, no espaço do CAC, a abertura dos processos pedagógicos, propostos pelos estudantes de Licenciatura, realizados em grupos e/ou comunidades. Especificamente, a Mostra de Licenciatura resulta na apresentação de diversos contatos entre Universidade e grupos externos – isto devido a uma inquietação dos próprios estudantes envolvidos e não como diretriz da Mostra ou do departamento. Entretanto, por ser um espaço destinado aos trabalhos de conclusão dos estudantes, essa semana não se ocupa objetivamente com a problematização do curso e da idéia de extensão universitária senão pontualmente através dos debates de alguns projetos.
Posto isto, o que ressalta, em verdade, é a nulidade de articulação entre esse tipo de atividade no CAC. Muito devido à efemeridade de nossa passagem pela academia, e também à falta de coesão pedagógica ou articulação progressiva do departamento. Ademais, sintomaticamente, percebe-se uma sublimação fantástica do corpo docente, e dos próprios estudantes entusiasmados pela folga que “vem a calhar”. Tal movimento deve ser questionado em duas direções: ou deve haver uma séria desarticulação entre os ocupantes do espaço CAC ou o conceito da mostra só atende aos interesses do seu pequeno grupo de curadoria. As reverberações da mostra CAC, Mostra da Licenciatura e da Semana de Arte e Cultura são distintas entre si, por orientarem cada uma um recorte de discussão, porém acabam por evidenciar a mesma relação que se gerou em relação a elas: uma apatia generalizada das pessoas sobre o meio que se inserem (entretanto, curiosamente, vemos hoje um movimento de descrédito afirmativo às mostras articuladas).
Talvez existam algumas tentativas de tornar o debate levantado por esses eventos menos pulverizado e, cada vez mais, parte do nosso cotidiano de estudantes de artes: o conselho departamental de professores e RDs, as povoadas reuniões departamentais semanais (era pra rir?), o grêmio CAC (o que é mesmo?) e este jornal na sua mão juntamente com o blog. Mas será que podemos falar de disciplinas que dão espaços para a continuidade deste tipo de reflexão? Talvez, às vezes... Ou, talvez, a característica principal destes debates esteja justamente em não acontecer vinculada a nenhuma disciplina, professor, ou aluno específico. A potência, talvez, se dê por serem movimentos sem pessoalidades em jogo, despersonalizados em si, onde não há a voz de um sujeito, mas a articulação de um coletivo.
Iniciativas como a Mostra CAC e a Semana de Arte e Cultura são advindas de um grupo pequeno de estudantes que organizam um espaço de encontro com o objetivo de evocar discentes, docentes e funcionários a pensar questões pertinentes à formação e a postura política e de caráter público do curso frente à comunidade. Porém, o que se pode dizer que repercutiu das mostras? Qual sua real urgência? Elas dizem respeito a questões apenas dos realizadores ou de outros também? Como organizar de forma a abrir brechas, e estímulos, a participação mais geral? Como se articulam os debates para que alcancem camadas mais complexas do nosso movimento de aprendizagem?
Não há, e nem deve haver, um modelo ideal de mostra, e nem de posturas ideais em relação para com elas a serem alcançados. Mas é preciso indagarmo-nos sobre até que ponto elas são uma urgência/necessidade, ou até que ponto são ações que já se tornaram cooptadas, e por isso, precisam ser reinventadas para que outros modos de ‘ato-reflexo’ possam ser experimentados por nós, para assim desenrolarem outros envolvimentos para com elas. Afinal de contas, como pessoas que praticam e pensam a arte, nossa criação e pensamento se alimentam da inventividade para buscar novos atos e novas formas para as questões que nos atravessam.