domingo, 21 de setembro de 2008

Cada macaco no seu galho

Duas Perguntas, várias pessoas, tantas respostas.

PERGUNTAS:

1. O que vc achou de terem pixado a rampa?

2. O que vc acha da frase escrita: se não mudar a vida de mais ninguém (além da do artista) então ele falhou.



Bertha – funcionária da produção

1. Um horror. Sujaram o chão. O aluno que pixou devia lavar depois. Pixou, criou, tá; depois devia lavar. Por que que a gente tem que aturar um chão pintado, ou escrito, estendeu? Não faz parte do chão isso. Pra isso existe papel, tela, outros meios de comunicação.
2. Eu gostei da frase. Eu acho que a frase é isso mesmo. Se ele não consegue, do jeito que ele faz a coisa, tanto faz se ele é ator, se ele é pintor, se ele é músico, se ele não consegue mudar a cabeça dos outros, então ele falhou mesmo.


Gustavo – funcionário da técnica.

1. Pra mim é indiferente, não tenho nenhum problema com pixação. Algumas depreciações eu não aconselho, claro. Mas uma pixação na rampa não me afetou em nada, não afetou a escola e não vi dano ao patrimônio. É uma manifestação.
2. Eu acho absolutamente coerente. Porque a arte não é uma coisa só do artista. Se ele tá fazendo uma arte pra ele mesmo, e se ela só tá reverberando internamente nele, ou ele tá fazendo alguma coisa errada ou ele tá fazendo de maneira errada. Eu acho que a arte só pode ser considerada arte quando ela é pra uma comunidade e não só pra uma pessoa.

Marcelo (Tchello) – estudante 4°ano CAC

1. Pixaram a rampa? (lembra-se) Ah! Não me causou nenhum tipo de reação, nem positiva nem negativa. Eu nem tinha reparado até reclamarem pra mim, e eu concordei. Eu nem sei qual é o intuito, nem cheguei a ler a coisa ainda.
2. Hum... A frase é boa, ‘se não mudar a vida de ninguém (além da do artista) então ele falhou’. Bicho, eu concordo, acho que eu concordo. Acho que é uma coisa boa das pessoas daqui lerem. É... Acho que é uma coisa boa das pessoas daqui lerem.


Vinícius – estudante pós-graduação CAC

1. Ah não... não gostei. Meio estranho, marcou demais..
2. Eu não guardei. Acho que é isso...


Rodrigo – estudante 6°ano CAC

1. Eu não sei muito bem o que falar sobre, necessariamente, a rampa do CAC, mas sobre pixações, lambes, esse tipo de intervenção, é um tipo de intervenção que não me pega porque a gente já vive numa coisa tão visual que é mais um. É mais um.
2. Eu acho ingênuo, acho ingênuo. Não me pega. Acho uma ingenuidade que, ao mesmo tempo, é inevitável, um pensamento. É um paradoxo a minha sensação em relação a isso. Mas, a princípio, não me pega. Chegar a alguém, tocar alguém além do artista já é inevitável, de certa forma, embora a gente ache que tá num mundo que tá tudo individualizado, não é tão assim, talvez... Acho que a gente faz um drama muito grande.


Luiz Fernando – professor de teoria CAC

1. Ah! Achei legal, achei sussa, achei normal. Acho que tem pouca intervenção deste tipo aqui no espaço. Achei normal.
2. Achei uma frase inspiradíssima, inteligente, que deveria ser uma referência pra todo mundo aqui nessa escola.

4 comentários:

Ju Bueno disse...

O ato de pixar a rampa foi o mais mobilizador em todas as inúteis aulas sobre a performance, nesse enfadonho curso de teoria II. Teve até quem parasse pra pensar que há um erro de Português (me parece que não há sujeito na frase).
Tédio.
Essa edição do jornal está fenomenal!
Agora Assinando...

Diogo. disse...

Olá a todos.
Enfim, começo dizendo que também gostei muito dessa edição do jornal. Há um visível aprimoramento em toda a idéia dele.
Quanto à esta matéria eme special, ela me instigou a pensar sobre o assunto, e tentar eu mesmo responder a essas perguntas, em especial à segunda. Aí vai o esboço da minha resposta:
2. Eu fico pensando no conteúdo da frase, e eu não sei, ele me parece duvidoso em vários aspectos. Primeiramente, não acredito que seja possível mesurar a quantidade e a qualidade com que uma intervenção artística modifica o interlocutor desta. Como medir que uma intervenção artística "mudou" a vida de alguém? Existem intervenções artísticas que se restrinjam exclusivamente a fomentar a discussão e fruição de seus criadores? Além disso - e o jornal me pareceu esclarecer isso - uma intervenção artística não acaba em si própria. A interveção artística mencionada não havia surtido nenhum efeito sobre a minha pessoa, até a discussão acerca dela ser instaurada, ou seja: um olhar crítico ou analítico sobre uma intervenção pode ser muito mais "modificador" do que ela em si.
Enfim, acho que fico por aqui.
Só um esboço aí.
Parabéns pela reformulada do jornal.
Até.

Kiko Rieser disse...

Interessantíssimo. Olha, Di, é quase um olhar neodadaísta! Hahahaha.
Brincadeiras à parte, você, a partir de seu argumento, ratifica algo que a gente vem tentando pôr na prática: a crítica (e não se entenda crítica num conceito restrito, ligado à crítica valorativa, mas num sentido mais amplo, de reflexão sobre a obra) enriquece o olhar de todos e a discussão sobre o produto artístico. Outra coisa: não sei o que você quis dizer por "não havia surtido nenhum efeito sobre a minha pessoa", mas me parece também uma outra questão importante de se levantar: as diferenças entre a arte posta como arte (não estou me expressando bem, mas quero dizer em destaque, assumida) e a arte imiscuída ao ambiente (ou seja, a intervenção), pois me parece que, se a mesma frase ocupasse uma página de um livro ou estivesse pixada na parede de uma galeria, você teria dado mais atenção a ela. Posso estar errado. Melhor, pergunto: estou errado?
Quanto a poder mensurar a mudança que causa na vida de alguém, penso que não precisa ser uma mudança radical, daquelas que você diz "nossa, mudou a minha vida", mas algo que, mesmo imperceptivelmente, você vai carregar consigo, e aquilo vai, posteriormente, te levar a refletir e até pode te influenciar. A frase tem um quê de idealista, por isso essa "generalização", penso. Porque se formos levar ao pé da letra, você ver uma peça já mudou a sua vida, porque você poderia ter ido comprar pão do outro lado da rua e ter conhecido a pessoa com quem você se casaria (ou simplesmente teria dormido, mas já seria outra coisa e sua vida seria, ainda que minimamente, diferente). Sei lá, acho que é besteira se pegar nisso. Acho que a mensagem é clara, é fazer algo que não seja voltado só pro seu umbigo. A resposta do Gus me parece a mais esclarecedora a esse respeito. Eu, pelo menos, acredito que sim, existem intervenções artísticas que se restringem exclusivamente a fomentar a fruição de seus criadores (e a discussão, quando é um grupo de criadores, e não quando há apenas um criador, pois, para discutir, é preciso um interlocutor).
Tô empolgado. Discussões legais!!!

Anônimo disse...

ultimamente tô achando que se mudar a vida do artista, já é muito

tantas obras que já começam prontas, no sentido de já saberem que direção seguir ou ao menos o modelo a ser seguido para.......