quinta-feira, 7 de maio de 2009




Núcleo/Jornal MaCACando ... Conceitos edição maio 2009

Observação importante

Devido a proposta gráfica dessa edição recomendamos a leitura do jornal em seu arquivo original .pdf. (ou a versão impressa em papel)


No entando, todos os textos e gravuras estão publicados aqui no blog, logo abaixo.

Memórias da Mostra

por Paloma Franca (4°ano)

(Queremos sim abraçar o mundo, só resta saber se o mundo quer ser abraçado. E se basta mesmo o corpo a corpo com o tapinha nas costas para que desejos mundanos se realizem.)

Naturalmente: nós queremos abraçar o mundo, sobretudo quando este mundo diz respeito à formação de uma unidade comum, na qual idéias e intuições podem ser compartilhadas sob o olhar e a crítica de todos numa linguagem que é familiar e corresponde a integração de um grupo.

(Ai CAC que não me sai do pensamento)

Aqui, como em qualquer outro curso em que se partilha saberes, aprendemos a nos comunicar dentro de uma chave típica, conceitos, premissas estéticas, palavras de ordem, corporalidade autoral, performances pós-envernizadas, tudo está no campo do dizível, pelo silêncio ou pelo ruído.

Assimilando o modo como se manifestam as relações deste nosso quase casa-lugar começamos a desejar, querer mudar, divergir de nós mesmos, cavar contradições (prática muito saudável em tempos de verdades moldadas com primor) e exigimos, tomando nas mãos o direito de agir sobre a ação, refletir sobre o que nos engole.

Quebrar os ossos do mundo de tanto aperto.

E quando os novos habitantes aqui aterrissam o mundo já está de um jeito que não era antes, está meio torto, com cicatrizes novas, com marcas da transformação, resquícios das pequenas revoluções, recuperando-se dos últimos impactos que sempre existirão; os novos habitantes começam a experienciar a inserção numa comunidade que ainda não foi de fato tocada por eles, mas que já passa por mudanças decorrentes do movimento dos antigos.

Normalmente para habitar este nosso mundo é preciso vencer desafios públicos como touradas, concursos e exames vestibulísticos, depois, ainda existe o difícil processo de adaptação às propostas de um antes até então desconhecido que abarca desde estruturas burocráticas acadêmicas até poéticas permanentes de integração social.

A Mostra CAC de 2009 foi de alguma maneira lugar de iniciação no campo estudantil. Ao mesmo tempo em que nas rodas de discussão colocou-se várias vezes uma latente insatisfação determinada pela ausência dos professores, também surgiram sinceras reclamações sobre a participação dos calouros nos debates e nas tentativas de resolução dos problemas já existentes no departamento. Por parte dos calouros, fervilhou uma sensação de inadequação ao sistema que já estava instituído; por parte dos veteranos certa frustração misturada com o dever emergencial de encontrar saída para os impasses já visitados e revisitados em outros anos. Nos primeiros dias existiram então três ilhas que evidenciavam a ligação Mostra/participantes (incluo aqui os professores como participantes simbólicos, porque o são), na primeira os veteranos e sua luta agregadora para legitimar o caráter coletivo da mostra, na segunda os mesmos veteranos e suas lutas coletivas para garantir a legitimidade democrática do curso, o que demandava uma articulação mais precisa dos debates; na terceira, os bixos.

A Mostra porém está em seu terceiro ano e provavelmente o que ocorreu nos dias seguintes foi fruto de um amadurecimento que não existiria agora se não tivessem ocorrido as outras duas Mostras anteriores. Ao contrário do que fora previsto, o número de pessoas ativas na programação não diminuiu drasticamente, e a voz dos novos começou a ser ouvida com mais atenção e generosidade, o movimento estudantil nesta situação adquiriu uma dimensão memorial, visto que a história do departamento não foi velada e sim exposta para que, mesmo que timidamente, os novos pudessem fazer parte dela.

Não são dados para que nós estudantes nos vangloriemos, são levantamentos que nos trazem questões: por que foram necessárias três Mostras para que os calouros se sentissem minimamente pertencentes a este mundo? O não comparecimento da maioria dos professores revela uma falta de boa vontade (será que o evento se dá nestas instâncias pessoais?) ou mais uma lacuna na estruturação da mostra que pede modificação? E de que maneira não abandonar a Mostra nas mãos de poucos que carregam todas estas inquietações durante o desenrolar da Mostra e o período de organização?

Há antigos que dizem: bixo paga breja!
Há antigos que estudam vorazmente a possibilidade de abrir diálogo com os novos.
Há antigos que falam oi nos corredores.
Há antigos que donos de suas cadeiras jamais foram vistos e são de um tempo mítico em que o não palpável ainda definia destinos.

Quem são os antigos?

Caderno de Licenciatura II

por Catarina São Martinho (5°ano)
ENSINO BÁSICO FORMAL E FORMAÇÃO ACADÊMICA: AQUELA VELHA HISTÓRIA DA PONTE ENTRE A UNIVERSIDADE E SEUS ALÉM-MUROS.

Este escrito parte de um desejo de pensar o papel da educação-artística no ensino formal, básico e público. A escola pública de massa ocupa um lugar contraditório em nossa sociedade, na medida em que serve a objetivos de disciplinarização e normatização do Estado, ao mesmo tempo em que conserva em si a possibilidade de democratização do conhecimento e da construção de cidadania para além dos objetivos deste mesmo Estado. Dentro deste quadro, quem se forma em Licenciatura em Artes Cênicas lidar ainda com um problema mais específico: ministrar aulas referentes à disciplina obrigatória de educação-artística no ensino básico.
Historicamente, a implementação desta disciplina na escola brasileira pressupunha o professor de artes polivalente, alguém que pudesse dar conta do ensino de todas as linguagens artísticas.
A formação de pedagogos nesta área na Universidade de São Paulo surge de acordo com este pressuposto. A partir da luta política de pensadores da área, a educação-artística na USP foi dividida em habilitações específicas –, a saber, Artes Cênicas, Artes Plásticas e Música. No entanto, apesar dos esforços, as leis referentes ao ensino básico não acompanharam a mudança que ocorreu na formação profissional, tornando-se, na verdade, confusas.
Atualmente, temos na Universidade uma formação especializada e quando chegamos ao ensino formal nos deparamos com contradições que dizem respeito tanto a leis e programas que devemos cumprir, quanto ao preconceito em relação à matéria de artes advindo do senso comum sobre o que seria esta prática.
Numa primeira vista, pode nos parecer que o que devemos fazer é lutar com garras e dentes pela separação do ensino de arte em linguagens, mas é importante ver esta questão por outros lados. É preciso questionar o quanto nossa formação não produz uma alta especialização, quando ela limita ou impede o diálogo efetivo com as demais linguagens. De fato, a separação das disciplinas e a atuação de três ou quatro profissionais de áreas distintas na escola solucionaria algum problema referente à educação-artística? Solucionaria algum problema referente à formação de teatro-educadores na USP?
Parece-me que as conquistas realizadas foram muito importantes e muitos questionamentos ainda nos dizem respeito. Um legado importante desta luta, por exemplo, é a visão de que o pedagogo não seria um professor de artes, mas sim um arte-educador – teatro-educador no caso dos “caquianos”. Isto significa que este pedagogo é também um artista produtivo em sua área e não alguém que se forma para transmitir certos conhecimentos em artes.
No entanto, é justamente no ponto desta conquista que vejo um possível lugar de contradição em nossa formação, e volto aqui ao problema da especialização.
Visto que o teatro contemporâneo – assim como as demais linguagens artísticas hoje – se vale do dito “hibridismo” como um alargador de possibilidades formais e temáticas, é coerente dizer que um pedagogo que se pretenda artista não pode deixar passar em branco esta questão. Mais que isso, a relação entre o teatro com as demais linguagens deveria ser abordada dentro da habilitação de licenciatura, pensando nas ligações tradicionais – no que o teatro se relaciona às artes visuais, dança ou música desde sempre – até as conseqüências mais radicais de experiências contemporâneas.
Ao dizer da necessidade desta questão “dentro” da habilitação, digo que em primeiro lugar, o interesse pelos outros departamentos não pode ficar a cargo do graduando artista-educador, pois isso não constitui uma decisão política e é disto que estamos falando quando questionamos a ponte entre a universidade e o ensino básico. Em segundo lugar, embora interessante, não seria suficiente, por exemplo, acrescentar uma disciplina extra, inter ou trans-departamental ao currículo, se a abordagem das disciplinas já existentes de licenciatura continuar intocada.
É preciso olhar com atenção para as disciplinas existentes, para o conteúdo do qual tratam e para a maneira de tratar este conteúdo. A questão das especializações em contraposição a questão do professor polivalente pretendeu, neste texto, ser um breve desdobramento da questão já levantada pelo caderno anterior, que se preocupou com a distinção conceitual e metodológica entre teatro-educação no ensino formal e no informal.Endereçamos estas inquietações aos alunos de licenciatura, esperando que surjam mais questões e mais reformulações das mesmas questões, esperando que o questionar sirva não à produção de certezas e verdades, mas que produza e desloque nossos campos de açã

Discurso das Estrelas

por Júlio Barga (3°ano)
Aries.
Adoram o pericón né? Calma benzinho, não se afobe! Os projetos vão andar. A partir do dia 21 Vênus fica pertinho de Marte, você arrasa nessa época!

Touro
Aproveite o inferno astral e continue bravinho e gostosinho.

Gêmeos
Passo...

Câncer
Que bom que você é calma, mas para de julgar vagabunda! No resto vai ser um bom mês com os amigos e no trabalho.

Leão
Adoro, jogou merda no ventilador, não adianta correr porque todo mundo já viu a fofa que aprontou a sujeira. Dica: nem usando um pretinho básico você é uma pessoa discreta (vide Madonna em “Human Nature”). Beijos!

Virgem

Um, cabeça cheia de trabalho, mas sempre descansando quando pode. Dois, pode deixar o sorvete cair na blusinha branca, relaxa gata. Três, hora de soltar o seu lado B na cama!

Libra
Ai...quer a atenção do outro mas fica se achando a última bolachinha do pacote! E baby, não adianta discutir o sexo dos anjos!

Escorpião
Para de causar! Por favor! Para de causar!

Sagitário
Todo mês é mês de tirar férias e ir para os trópicos brilhar no sol mais maravilhoso do mundo! Ok, voltando pra vida real vai ser uma época para o love e para o work. Arrasa, sempre buscando o equilíbrio!

Capricórnio
Poderosos, chiques e no fundinho, moralistas. Pode ser interessante enfiar o pé na jaca e comprar a bagaça! E não se preocupe com o que os outros vão pensar, você sabe se justificar com as palavras.

Aquário
Observador, adora acertar! Vai falar muito “Não te avisei” para outras pessoa. Pelo menos a vida delas anda... e a sua também seu calculista.

Peixes
O último e mais sensível signo do zodíaco. Para os mais dispersos, cuidado para não se afogar nos sentimentos dos outros, os seus já são enormes. É bom ser um pouquinho egoísta de vez em quando, as pessoas entendem. Aproveite esse mês para dar atenção à questões materiais, é difícil mas vamos lá!

Experimento Literário nº1



Experimento Literário nº1:
Tu da silhueta avantajada,
Das proporções agigantadas,
Amoleiradas, flácidas,
Tu das curvas rinocerônticas,
Cai sobre mim

Reverberações da Mostra

Nos últimos dias da Mostra CAC desse ano, reunidos em grande assembléia, deliberamos sobre alguns pontos problemáticos no departamento, evidenciados ao longo das discussões na semana, que seriam inclusos em carta aberta dos estudantes dirigida ao Conselho do CAC. (leia aqui). Dois meses depois, diversos pontos foram debatidos e, em sua maioria, positivamente transformados, configurando, assim, uma força enorme dos estudantes e de seus novos RDs (Otávio e Tutti do 2° ano) nesse ano de 2009. Segue abaixo um pequeno esquema das reverberações objetivas, a partir das propostas da carta:
1
PROPOSTA:
DRT para todos

AÇÃO DOS ESTUDANTES:
Abaixo assinado com cerca de 110 assinaturas (quase todo o corpo discente efetivo no departamento). Exposição de comissão de estudantes no conselho. Convocação de conselho extraordinário.

RESULTADO EFETIVO
Deliberou-se em conselho extraordinário realizado em 17 de março, que todos os formados no CAC receberão a carta garantindo o documento. No entanto, a resolução é válida apenas por um ano (até novembro de 2009)[1]; para que “incentive-se” a disposição, de estudantes e professores, em resolver a questão no Ministério do Trabalho.

[1] Foi também criada uma Comissão de docentes e discentes para tentar resolver o problema em longo prazo

2
PROPOSTA
Democratização das instâncias burocráticas no departamento.

AÇÃO DOS ESTUDANTES:
Apresentação da proposta pelos RDs no conselho do CAC.

RESULTADO EFETIVO:
Criação de uma proto-conselho democrático (chamado de assembléia do cac) que acontecerá às primeiras terças do mês e será aberto a todos. Entretanto, não tem poder deliberativo, apenas indicativo.

3
PROPOSTA
Reforma Curricular

AÇÃO DOS ESTUDANTES:
Apresentação da demanda pelos RDs no conselho do CAC. Incorporação de pauta na primeira assembléia do CAC.

RESULTADO EFETIVO:
Apresentação da nova proposta curricular na primeira assembléia do CAC (28/04). Alteração da proposta inicial a partir das proposições levadas pelos estudantes; como a reintegração da disciplina Teatro e Sociedade e, na habilitação em teoria, a troca da obrigatoriedade da disciplina Didática para Introdução aos estudos de educação. Além de esclarecimento do caráter de todas as mudanças e incorporações.

4
PROPOSTA:
Institucionalização da Mostra CAC

RESULTADO EFETIVO:
A crítica aos professores devido a sua não participação na Mostra CAC desse ano teve repercussão inicial absolutamente negativa quando da leitura da carta no conselho. O principal argumento foi de que “não fomos convidados a construir conjuntamente; por isso não participamos”. O assunto não voltou a ser discutido desde então.

Anexo virtual - Carta aberta dos estudantes

São Paulo, Março de 2009

Carta aberta de proposições ao departamento a partir das discussões realizadas na III Mostra CAC.

Em assembléia estudantil especialmente convocada para a redação de propostas ao departamento de artes cênicas realizada durante a III Mostra CAC, no dia 05 de março de 2009 às 14h contando com a presença de cerca de 50 estudantes, encaminharam-se as seguintes proposições práticas:

DRT para Todos. Frente à impossibilidade dos formandos em licenciatura e bacharelado com habilitação em teoria teatral em retirar seu Atestado de Capacitação Profissional na Delegacia Regional do Trabalho do Ministério do Trabalho – que pela Lei 6.533 de maio de 1978 regulamentada pelo decreto nº 82.385 reconhece o artista e sua profissão – apresentamos duas frentes de ação propositiva.

A. Em longo prazo, propomos o posicionamento do departamento frente ao Ministério do Trabalho e à Delegacia Regional de Trabalho para a inserção das categorias de “teórico/dramaturgo” e “educador artístico habilitado em artes cênicas” entre àquelas contempladas com o Atestado de Capacitação Profissional (popularmente chamado DRT), que regula e reconhece o exercício profissional do artista.
B. Em curto prazo, enquanto não se resolve o problema frente às instâncias maiores, reivindica-se o direito universal aos licenciados e aos bacharéis em teoria teatral formados nesta instituição de obter por meio dos docentes do departamento uma carta onde se afirma que este estudante “é apto a exercer o ofício de ator”, resolvendo paliativamente o problema profissional frente aos órgãos trabalhistas e possibilitando o exercício da profissão de artista cênico quando da obrigatoriedade de apresentação deste documento, com todos os direitos trabalhistas assegurados pela lei.

Entendemos que a justificativa apresentada até então pela não redação da carta, de que sua emissão configuraria um desprestígio a formação de bacharel com habilitação em interpretação teatral, não corresponde à realidade da reivindicação tendo em vista a consciência entre os estudantes de que a carta é um esforço paliativo em curto prazo, que viabiliza possibilidades de atuação em um já restrito mercado de trabalho (inclusive requerido em áreas estritamente pedagógicas, como o projeto Vocacional da Prefeitura de São Paulo) e não um nivelador promíscuo em áreas díspares de atuação artística.
Ademais, consideramos, pelos debates e discussões realizados na Mostra, o período do Ciclo Básico como uma formação absolutamente coerente com o exercício do ofício do ator. Disciplinas como Voz, Corpo, Improvisação e Interpretação são obrigatórias e possuem alta carga horária. O que jamais tornaria a carta, e sua decorrente afirmação de aptidão, uma falácia.
Entendemos que a escolha de habilitação em interpretação é motivada pelo desejo no aprofundamento de questões relacionadas à pesquisa e ao exercício da interpretação e nunca por uma formação técnica exclusiva. Por fim, o atestado que reconhece, historicamente, o ofício do artista é um direito constituído, jamais um privilégio. Negá-lo dentro deste contexto é um entrave à já dificultosa atuação artística na sociedade contemporânea.

Democratização das instâncias burocráticas. Foi diagnosticada, durante os debates da III Mostra CAC, a distância existente entre as decisões tomadas no departamento e as pessoas direta e indiretamente afetadas por elas. Propomos, todavia, uma forma de abertura da instância deliberativa do conselho departamental, que daria direito de participação a todos os estudantes, funcionários e professores não-membros do conselho interessados, mantendo-se, entretanto, o direito a voto apenas aos membros oficiais do conselho. Esta abertura proposta adota como modelo a abertura do Conselho do Departamento de Artes Plásticas que está em vigor desde o ano de 2007 e da experiência positiva do Conselho de Departamento de Jornalismo.

Mostra CAC. Em decorrência de um comparecimento quase nulo dos professores nas atividades da III Mostra CAC (com pouquíssimas exceções pontuais); propomos que a Mostra seja reconhecida como atividade programada do departamento (assegurando, assim, ao menos a presença de professores quando dos dias e horários em que ministrariam suas disciplinas). Sendo a Mostra um evento idealizado como espaço de discussão do departamento, e assim comemorado pelos professores e estudantes, é estranhíssimo a constatação do minúsculo comparecimento docente esse ano (balanceado, por outro lado, pela alta participação estudantil).

Reforma Curricular. Durante os debates da Mostra, com professores convidados, surgiram diversos apontamentos sobre uma reforma curricular que está sendo pensada para o curso. Entretanto, os professores que se referiram a ela não tiveram clareza para apresentá-la e explicá-la. Não concordamos, contudo, com o modo que as propostas pedagógicas e curriculares vêm sendo formuladas e aplicadas. Acreditamos que o fato das novas propostas serem pensadas sem consulta aos estudantes sob suas experiências e impressões exclui uma voz que poderia potencializar as melhorias a que o curso se pretende.
Somos a todo momento chamados, enquanto estudantes universitários, a não só receber, como também a pensar sobre o conhecimento para nós transmitido e por isso mesmo nos sentimos capazes de colaborar no processo de reflexão e elaboração das propostas pedagógicas de nossos próprios cursos.
Nossa proposta, portanto, é a abertura de espaços de troca de idéias sobre o curso em si, possibilitando através do diálogo professor/estudante uma reflexão conjunta sobre os possíveis rumos a serem tomados.
Pedimos também que essa proposta curricular que está sendo gerida nesse momento seja aberta para todos os estudantes e que os responsáveis por aprová-la possam ouvir e discutir sobre nossas opiniões, sugestões e experiências enquanto “receptores pedagógicos” antes de sua formulação final e aprovação.

Problemas Curriculares. Ao longo da III Mostra foram levantados diversos problemas e carências relativas ao curso; entre eles: falta de um projeto pedagógico claro na habilitação em interpretação teatral, fragilidade nos processos de formação (e conseqüente avaliação) nas habilitações do bacharelado, insipiência das orientações em PT’s, ausência de interesse pela habilitação em cenografia, falta de consistência na habilitação de teoria teatral. Diversas propostas quanto a isso foram levantadas ao longo das discussões da assembléia; entendemos, todavia, que elas devam ser apresentadas em um espaço de construção conjunta e não como afirmativas unilaterais de nossa parte. Porém, são questões que pedem, indiscutivelmente, um olhar mais atento.



Sem mais,
Estudantes do departamento de artes cênicas da ECA-USP

Subterfúgios do dia-a-dia

por Marcelo Gasparini (5°ano)

A todos os discentes, docentes e funcionários do Departamento de Artes Cênicas da Universidade de São Paulo
(e também ao Chico da música, Carol, Karina, namorados das artes plásticas e ao respeitável senhor que fica lendo jornal na mesa ao lado às quartas e sextas)

Venho, por meio desta, enfim, levantar o debate que venho fomentando há meses – talvez anos – com certeza anos – sentado nesta cadeira de plástico, na segunda mesa da parte externa do teatro laboratório, a partir da cantina. É desse ponto que observo, com olhos de águia, todos os questionamentos, problemas, crises e tropeçadas humilhantes nos degraus das escadas desse departamento. E é ao redor dessa mesa – ó, amada mesa – que se reúne a elite pensadora da juventude contemporânea dos artistas teatrais fumantes e beberrões que usam óculos escuros em quaisquer ocasiões e/ou horários independentemente da claridade – e apesar do recorte exageradamente específico, trata-se de uma grande parcela do meio teatral.

Há muitos anos, esta mesa – ó, idolatrada mesa – nos presta serviços inenarráveis, apoiando nossos copos de café para que, no auge das calorosas discussões de nossa cúpula, não nos lambuzemos deste líquido fervente e adocicado, impedindo, assim, lastimáveis perdas de fio da meada, além de evitar queimaduras. Sentados em torno desta mesma mesa – ó, abençoada mesa – como os grandes guerreiros sentados ao redor da Távola Redonda – talvez com um pouco mais de barriga e menos disposição para cavalgar – somos responsáveis pela diária discussão acerca dos problemas inerentes a esse departamento. Porém, como são inerentes, não perdemos muito tempo falando sobre eles e logo nos atemos a analisar as vidas alheias. É nesta mesma mesa – ó, dogmática mesa – que classificamos, diagnosticamos e, enfim, rotulamos cada espécime dessa (nem tão) fecunda fauna (e por que não flora?) CACana.

Alvo de constantes maus tratos, vítima das intempéries do clima USPiano (todos hão de concordar, existem mais coisas entre o céu e o clima USPiano do que sonha nossa vã meteorologia) e abarrotada pelas mochilas, malas, figurinos, bandejas de PF e pés imundos de nossos mundrungos estudantes, esta mesa – ó ociosa mesa – faz-se responsável pela ebulição de todo e qualquer colóquio, solilóquio ou distanciamento Brechtiano dos alunos desse tão profícuo departamento. É graças a essa mesa – ó, aliciadora mesa – que, por tantas e tantas vezes, nossos alunos debatem sobre os maiores problemas existentes dentro de suas salas de aula – sempre encontrando a mesma solução: cabular a aula ali mesmo.

Por esses e mais outros inumeráveis motivos, não vos caleis, ó pracistas! Contra as injustiças cometidas contra a Praça, AVANTE! A marcha continua, ininterrupta, até a próxima rodada de café!

AVANTE! NÃO AO ABUSO CONTRA A MESA – ó, magnânima mesa – DA CANTINA! SIM AO TOLDO PARA APARAR O SOL DAS QUATRO DA TARDE!

É que pega direto no meu olho!

Ombudsman

A palavra Ombudsman passou às línguas modernas através do sueco (ombudsman significa representante). No sentido de alguém que representaria a maioria não contemplada por determinado meio de comunição ou esfera política. Faria, portanto, o trabalho de crítica impessoal sobre o órgão. No Brasil, a palavra ouvidor/ouvidoria é mais usada no sentido político ou empresarial. Já o estrangeirismo Ombudsman para os meios de comunicação.Pode ser definido hoje como o profissional contratado por determinado meio de imprensa (tradicionalmente os jornais de grande circulação contratam alguém pelo período de 1 ano em que não pode ser demitido) para receber críticas e reclamações e fazer, por sua vez, a crítica ao meio. Aqui faremos uma experimentação. No desejo de rever a forma que vinha se configurando no jornal convidamos nosso professor de Teoria (e crítico teatral da Folha de S. Paulo) Luiz Fernando Ramos para escrever sobre os três números do Núcleo/Jornal MaCACando

OMBUDSMAN (por Luiz Fernando Ramos)

O ombudsman é um aliado do leitor, que zela pela qualidade do que lhe é oferecido à leitura. Mas é impossível aqui não misturar um pouco as bolas e comentar, rapidamente, um aspecto que foge ao estrito exame das três primeiras edições do MaCACando. Sempre me espantou que não houvesse, por parte dos alunos do CAC, o desejo de criar um veículo para expressão de suas idéias. È certo que a maioria deles se exercita na expressão de idéias cênicas, mas faltava o exercício do pensamento escrito, em qualquer uma de suas inúmeras formas possíveis. Ressalte-se, portanto, o mérito intrínseco da publicação ao superar um silêncio de décadas.
A opção editorial, com base nos três primeiros números, ainda não se definiu com clareza, visto que os exemplares oscilam entre a forma lúdica dos fanzines e a sisuda seriedade das análises de conjuntura. Entre esses dois extremos há espaço para incisões inspiradas e tolices banais que reforçam uma ou outra tendência. De qualquer modo, qualquer linha que se defina, ou mesmo que se opte pela instabilidade como programa – até refletindo a flutuação do corpo de editores -, seria importante aprimorar os critérios e assumir até as últimas conseqüências as opções definidas.
Numa análise pontual dos três primeiros números é possível perceber alguns avanços graduais, bem como a manutenção de uma displicência afetada que atrapalha o leitor.
O número inaugural, de setembro de 2008, tem como destaque de primeira página uma diluição rasgada do que foi uma ação artística interessante. No lamber a cria narcisista, ao entrevistar freqüentadores do CAC sobre a ação de pichar uma frase inspirada na rampa, o jornal dilui os efeitos libertários daquela ação. O editorial demarca um estilo poético/jocoso/crítico que se repetirá nas duas outras edições e sinaliza na direção da linha fanzine. Uma crítica ao espetáculo Ubumáquina, não assinada, destila preconceitos e entra na provocação do espetáculo a alguns mitos esquerdistas. Não fosse por fugir da análise do espetáculo – só é mencionado a primeira vez no quinto parágrafo – a crítica é ruim por desconsiderar a possibilidade de um diálogo real com os alunos/artistas que o criaram. No trecho final se diz, numa recorrente mistificação do CAC como uma entidade demoníaca –
“Mas o CAC continua achando que a arte não precisa partir do artista, impondo peças para os diretores dirigirem e ver quem alcança o melhor resultado”. Em tempo, seria mais contundente dizer que um espetáculo de PT 2, em que um aluno escreveu dramaturgia original e encenou com parcos recursos, só foi assistido por dois dos professores.
Ainda no primeiro número há um texto, pode-se dizer, de serviço chamando para a 13º semana de arte e cultura, e um bom artigo crítico, fazendo o histórico do fim da Bolsa Trabalho. Na última página, o oportuno Box “modo de usar”, que informa sobre o veículo e serve como chamariz a novos colaboradores, e um belo poema, contrastam com mais brincadeirinhas com o espetáculo Ubumáquina, desta vez justificadas pela virulência imaginável de um cronista impiedoso, o Mico Leão.
No segundo número, de outubro de 2008, há um equívoco jornalístico básico na capa. Coloca-se uma foto do importante debate que fechou a 13º Mostra de Arte e Cultura, sem identificar o evento nem os que aparecem na foto. É como se, querendo-se homenagear os ilustres palestrantes, achasse-se que são tão notórios e suas falas tão importantes que dispensam identificação e qualquer menção ao que disseram. É certo que no artigo interno MostraCACando, de quatro autores, é feita uma menção à mostra organizada pelo primeiro ano e que tanto interesse atraiu. Mas é só para contrastar com duas outras mostras, as do CAC e a da Licenciatura, que os autores julgam “cooptadas”. Muito mais pertinente que estabelecer uma gradação de valores entre iniciativas com pesos completamente distintos era realizar uma boa síntese dos depoimentos dos não identificados César Vieira e Moreira durante a Semana de Arte e Cultura.
Outro problema do segundo número, que reforça estratégia já anunciada no primeiro, é fazer da matéria de capa uma enquête ouvindo opiniões dos alunos. Desta vez as respostas referem-se às três mostras citadas. Não se critica aqui a iniciativa de realizar pesquisas de opinião. O que não parece interessante éa forma de apresentar essas opiniões, agravada nesse caso pela falta dos nomes dos entrevistados, que aparecem em letras minúsculas e de cabeça para baixo na última página. Qual é o ponto? Não deveríamos valorizar as opiniões das pessoas e a coragem moral de oferecê-las à comunidade? Porque o anonimato? Mas o pior, do ponto de vista jornalístico, é a confusão que gera no leitor, tendo que pescar falas soltas sem identificar seus autores e sem perceber com clareza o contexto em que se inserem. No corpo principal o “modo de usar” do primeiro número é substituído pela seção “Contra-indicações”, que assume ares de editorial. Nada a objetar. Já em a “carta a Cibele” em que um aluno parte de uma fala de corredor da professora Cibele Forjaz sobre o jornal para fazer um longo arrazoado sobre o “totalitarismo do mercado”, há um desequilíbrio. Mais correto teria sido convidar a professora a expressar por escrito a opinião citada, de modo a que os dois lados da moeda, velha máxima do jornalismo pudessem ter se contraposto. O informe sobre o micro-ondas disponibilizado aos alunos é positivo pela condição de serviço de utilidade pública, mas peca pelo excesso de espaço dedicado à foto. Na última página, uma boa crítica de cinema abre uma perspectiva interessante de debate cultural entre áreas vizinhas, se bem que a diagramação em duas colunas irregulares confunda o leitor. Na folha avulsa do segundo número dois estilos diferentes de crítica competem positivamente. Em uma, Paulo Bio, opta pela ironia e por um discurso crítico cifrado, quer dizer, indireto, ao alcance dos iniciados, para comentar o espetáculo “Reações Adversas”. Na outra, o colaborador Fabrício Muriana, editor da ótima revista eletrônica Bacante (http://www.bacante.com.br/), faz um comentário exemplar, pela agudeza e originalidade do olhar, de dois espetáculos apresentados no teatro laboratório: O próprio “Reações Adversas” e “Ato sem Palavras I”.
No número de fevereiro de 2009, opta-se por ocupar a capa com um misto indefinido de editorial, introdução e manifesto – qualquer um dos três gêneros teria mais força isolado – e despreza-se uma das novidades que é a seção dedicada a “assuntos educacionais”. A chamada lateral em letra pequena sob a rubrica “Extra” apequena o que deveria ser valorizado. O miolo central aprofunda estratégia editorial já criticada nos números anteriores. Abdica-se de artigos em que as opiniões se expressassem com mais clareza e contundência, e organiza-se de forma confusa um jogo de perguntas e respostas que obrigam o leitor a ir caçando letras e dispersando-se do que seria mais relevante, ou seja, as próprias opiniões. O problema se repete na parte de baixo com uma entrevista caótica com os organizadores da 1º Mostra CAC. O que se diz é muito importante para ser distribuído como uma prova da Fuvest com alternativa múltipla. Na quarta página o melhor artigo desse número, na rubrica Cadernos de Licenciatura, discute questões centrais do curso de licenciatura e de sua articulação com o bacharelado. Perde-se a oportunidade de reverberar a questão com os professores da área, dando-lhes a chance de apresentar sua visão. Na folha avulsa, além da programação da Mostra CAC, um artigo discute a questão do DRT em tom de editorial, um pequeno texto ironiza de forma rasteira a idéia do tripé ensino/pesquisa e extensão. Finalmente, uma citação de “literatura e Revolução” de Trostski se confunde com declarações de Moreira na Semana de Cultura. Ambos mereciam melhor tratamento.

Experimento Literário nº852


Experimento Literário nº852:
Olhar de peixe
morto quando o peixe está morto
parece olhar de peixe vivo,
E é por esta razão que eu não como peixe.




Expediente: Núcleo/coletivo/jornal maCACando. Departamento de Artes Cênicas - ECA - Universidade de São Paulo.Paulo Toledo, Liz Natali, Paloma Franca, Lira Alli. Desenhos: Paloma Franca. Diagramação: Lira Alli ao som de Tim Maia Racional.
Tiragem: 150 exemplares.
E-mail: macaquiando@gmail.com Blog: www.macacovirtual.blogspot.com Agência Bananada.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Núcleo/Jornal MaCAC-ando Carnavais (fevereiro 2009)


Fragmentos de uma introdução anunciada. BEM VINDOS!


Esse jornal tem 2 anos. Mais ou menos.
Nasceu filho de chocadeira, inseminação artificial, proveta, fecundação assistida, clonagem... Passou a infância nos orfanatos românticos e na FEBEM. Tornou-se um espécime raro, de funcionamento obscuro, sexualidade indefinida e comportamento imprevisível. Já foi ativista político, caderno de poesia, artista decadente, bailarina pós-dramática e hoje é macaco cientista da símio-logia da arte.
Apresenta traços ao mesmo tempo autoritários e anárquicos. É um ser contraditório que possibilita pouquíssimo controle.

Bem vindos. Aos subterfúgios da civilização: o curso universitário de teatro.

[O português é uma das poucas línguas (essa proporção é uma estimativa) que o verbo ‘ser’ e o verbo ‘estar’ são diferentes. O que possibilita que você esteja você e não necessariamente seja você, ou que você esteja CAC e não seja CAC; em francês, por exemplo, não haveria essa diferença. Isso faz com que qualquer símio-ótico atinja o êxtase! Pois podemos explodir tudo sem nos matar! E podemos ser macacos sem estar macaco! Enfim...]

Esse ano acontece a III MOSTRA CAC [entre os dias 02 e 06 de março] cujo tema central será o tripé universitário. Tripé é uma metáfora imbecil de algo com três pés onde cortando um deles cai o todo. Os pés são o ensino, a pesquisa e a extensão; o todo somos nós. Ensino e pesquisa são ensino e pesquisa. Extensão é estender o conhecimento produzido (e não adquirido – guardem bem!) na academia para a comunidade.
Nessa semana, para desespero dos bixos ansiosos, não haverá aulas no departamento (é... Nós somos o último curso da USP a começar as aulas – e saiba que nos orgulhamos muito disso!). A ideia que rege o evento é ser o momento de reflexão do curso e o espaço de ver e mostrar os trabalhos realizados aqui; também é o momento de levantar pontos chaves de discussão sobre arte, teatro e universidade.
Assim, a Mostra é, sobretudo, um espaço em construção (como esse jornal) por isso é anômala e problemática buscando encontrar seus interlocutores e suas vozes... Nem sempre ela consegue ser clara, objetiva ou eficiente; poucas vezes consegue direcionar práticas e questionar a fundo os paradigmas, mas é um espaço totalmente idealizado, construído e mantido pelos estudantes! E isso faz com que a responsabilidade sobre ela seja de todos nós...

Esse jornal e a Mostra CAC são primo-irmão... Nasceram ambos de nossas indignações, inquietações e necessidades, são tentativas de dialogar de buscar caminhos e de criticar a fundo os parâmetros instituídos. São ambos a objetivação de uma crítica, são propostas de ação direta, são gritos de provocação e construção; como todo bom parente nasceram de facções opostas que, depois de alguns incêndios, se uniram novamente.

Por fim, é hora de reconhecer que nossa vida na universidade é passageira e fugaz (como na vida, diriam os menos otimistas)... 4 anos para uns, algo mais para outros... Nossas construções aqui vão tornando-se efêmeras, como nossas passagens... E esses macacos já são anciões com medo da morte...

Então... Ficam as melancólicas boas vindas aos novos, o entusiasmado convite para construir conosco e o desejo de muita força nessa luta/arte/teatro que cada um de nós escolheu se envolver... Luta em que, como diria Walter Benjamim “os inimigos não têm cessado de vencer”.

Mas,
“Antes de me despedir
Deixo ao sambista mais novo
O meu pedido final
Não deixe o samba morrer...”

DRT - Agora ou nunca

por Paulo V. Bio Toledo, 4° ano

No dia 05 de outubro de 1978 o presidente militar Ernesto Geisel assinou o decreto n° 82.385 que regulamentou a Lei 6.533/78 de maio do mesmo ano.
Antes dessa famigerada lei a profissão de “artista” não era reconhecida por lei ou por qualquer relação trabalhista – tratava-se, na melhor das hipóteses, de uma relação informal. A partir dela, o “artista” pode ter em sua carteira de trabalho um “atestado de capacitação profissional” que o inclui nos direitos assegurados pela legislação trabalhista vigente no país.
Esse “atestado de capacitação profissional” é emitido pela Delegacia Regional do Trabalho, ou DRT (por isso chamamos o atestado de DRT), em três hipóteses; apresentação de:

“I - diploma de curso superior de Diretor de Teatro, Coreógrafo, Professor de Arte Dramática, ou outros cursos semelhantes, reconhecidos na forma da Lei; ou
II - diploma ou certificado correspondentes às habilitações profissionais de 2º Grau de Ator, Contra-regra, Cenotécnico, Sonoplasta, ou outras semelhantes, reconhecidas na forma da Lei; ou
III - atestado de capacitação profissional fornecido pelo Sindicato representativo das categorias profissionais e, subsidiariamente, pela Federação” respectiva.”

(Lei 6.533/78)


Até aí nenhum problema, mas o que torna a questão complexa é que quem se forma no CAC em licenciatura ou em teoria não consegue tirar o “atestado” DRT. Teoricamente, a simples apresentação do diploma na Delegacia Regional do Trabalho, no Ministério do Trabalho, possibilitaria a emissão do atestado; entretanto, o diploma de licenciatura é um diploma de “Educação artística – com habilitação em artes cênicas”, “categoria” que não possui um “atestado” (ou DRT) próprio, tampouco a habilitação em teoria do teatro (seja crítico ou dramaturgo). Sendo assim, o ministério nega o documento. Para romper o impasse há dois caminhos; o primeiro é o item III: conseguir um atestado do SATED (nosso sindicato) a partir das nossas horas cumpridas em aula. Só que isso tem um custo: exatamente um salário mínimo (!). O segundo caminho é que o departamento assinasse uma carta com os seguintes dizeres:
“Tal estudante está apto a exercer a função de ator...”

E é aí que mora o problema. Os professores negam-se a emitir tal carta. Seus argumentos são que essa afirmação encobriria, minimizaria a habilitação em interpretação, ou seja, eles não podem dizer que tal pessoa é apta a ser ator se ela não é da habilitação em interpretação.

Exposto o problema; passemos agora a expor outro lado da história.
O DRT é um documento controverso – pois mais do que regulamentar ele institucionaliza a profissão estabelecendo paradigmas de funcionamento que são contrários à arte em si, em busca do desconhecido – entretanto, não possuí-lo fecha inúmeras portas de trabalho, sendo a mais emblemática: para dar aula (repito: DAR AULA) no projeto vocacional da prefeitura de São Paulo é indispensável o “atestado” DRT (!). Um exemplo entre muitíssimos outros.
Sendo assim, a não emissão da carta por parte dos professores beira a infâmia, pois fecha um já restrito leque de trabalho para seus próprios egressos estudantes em nome de uma moral deturpada e sem sentido, dando a entender que quem cursa a habilitação em interpretação o faz unicamente para conseguir o “atestado”; criando, ademais, um argumento pautado numa micro-justiça às avessas: “seria injusto dar essa carta àqueles que não passaram por toda a formação indispensável ao ator” – esquecem, entretanto, que a carga horária do ciclo básico (com disciplinas de corpo, voz, improvisação e interpretação) é maior do que uma infinidade de cursos técnicos para ator em São Paulo, que possibilitam o “atestado”. Além de que, de acordo com Ligia de Paula Souza, presidente do SATED:

“[o DRT] é obrigatório como, por exemplo, CRM ao Médico, OAB ao Advogado etc.. Não se fala em vantagens e sim pela obrigação de cumprir a lei. O exercício profissional sem habilitação é contravenção penal e passível de punição”
(e-mail encaminhado a mim no dia 16 de fevereiro respondendo dúvidas técnicas da questão)

Será então que esperam que todos os formandos em licenciatura e/ou teoria não exerçam jamais a profissão de ator? Se for assim, para que esses estudantes têm de cumprir as disciplinas do ciclo básico?

Todavia, não é necessário ser muito sagaz para entender que a carta é um mero instrumento de burlar um problema da lei – a falta de categorias explícitas para arte educador e para teórico – e não um atestado de equivalência entre todos os estudantes do CAC!
Resta dizer que a defesa do “DRT para todos” é apoiado por grande parte dos estudantes (para não dizer: por todos os estudantes) e por diversos professores.
Sendo assim, é preciso exercer os instrumentos da democracia na USP: é direito constituído dos estudantes, por meio de seus representantes, pautarem um ponto de votação no conselho departamental. Ademais, que esse conselho (do dia 10 de março) seja aberto para que todos possam falar e assistir. Que haja espaço para expormos nossos argumentos.
Não basta defender a democratização da USP (o conselho do CAC aprovou, em 2007, a defesa das “diretas para reitor”) é preciso exercê-la!

Programação III MOSTRA CAC

SEGUNDA-FEIRA, 02/03

Manhã
9h* - Leitura Dramática – A Primeira Dor
[Texto escrito por Paulo Bio Toledo na disciplina Dramaturgia I]
10h - Os Sete Afluentes do Rio Ota
[Cenas construídas no processo da disciplina Interpretação II]
10h30 - Romeu e Julieta
[Cenas dirigidas por Julio Barga e Clóvis Lima na disciplina de Direção I]
11h – Debate sobre os exercícios apresentados

Tarde
13h30 - Debate do eixo Ensino com professores convidados
16h30 - O Homem Que Queria
[Cena dirigida por Diogo Spinelli idealizada na disciplina de Direção II]


TERÇA FEIRA, 03/03

Manhã
9h – Strangenos
[Espetáculo criado a partir de pesquisa de mestrado de Gina Monge e iniciação científica de Daniel Alberti]
10h – Conversa/exposição sobre material levantado na pesquisa científica de Gabriela Itocazo, estudante de teoria do CAC.
Tarde
13h30 – Debate do eixo pesquisa com professores convidados
16h30 – Lançamento de livro com conversa com a autora

QUARTA FEIRA, 04/03

Manhã
9h – Apresentação dos TCC’s de formatura em licenciatura
[Paola Lopes e Projeto Encontro]
10h – Diálogos entre os PTs com a presença dos formandos
Tarde
13h30 - Debate do eixo extensão com professores convidados

QUINTA FEIRA, 05/03
Manhã
9h - Isabela [Exercício idealizado na disciplina de Expressão Vocal I e II e Poéticas da Voz]
10h - Manter em local seco e arejado [espetáculo dirigido por Rodrigo Oliveira idealizado na disciplina de Direção III]
Tarde
13h30 - Reunião estudantes para deliberação de propostas para diretrizes do departamento: redação da carta de diretrizes
16:30h – (Des)esperando [espetáculo de teatro de animação criado com estudantes do CAC sob orientação do professor Felisberto Sabino]

SEXTA FEIRA, 06/03
Manhã
10h30 - Café da Manhã do Grêmio - discussão sobre DRT e outras...
Tarde
13h30 - Reações adversas [PT de direção de Joana Doria]
15h – Cerimônia de encerramento com leitura da carta
16h30 – PT de direção de André Nascimento

*Horários sujeitos à confirmação

CADERNOS DE LICENCIATURA

...Sem título...


por Liz Nátali e Daniel Córdova


- Por que é separado? Ah, tem a ver com uma estratégia do governo meticulosamente calculada para assegurar que se formem 10 pedagogos especializados em teatro a cada ano. É isso, certamente.
- E me parece que são apenas 10 vagas porque mais que isso o mercado de trabalho não comporta, não comporta, não comporta mesmo!
- Não sei, acho que fazem os vestibulares separados para fortalecer o curso de licenciatura e impedir que qualquer um do bacharelado faça licenciatura só pra ganhar dinheiro com educação.
- Mas eu ouvi uma história que quando os vestibulares de bacharelado e licenciatura não eram separados (?) ninguém fazia licenciatura não, então resolveram separar para obrigar que alguns professores se formassem!
- Eu não sei de mais nada...



No diploma de quem se forma em licenciatura em artes cênicas no CAC está escrito Educação Artística - habilitação Artes Cênicas. Esta questão se dá por um ajuste de nomenclaturas entre o CAC e as burocracias da rede pública de educação, isto é, nela só serão aceitos os profissionais formados, antes de mais nada, em Educação Artística.
Não se trata de pensarmos na nomenclatura em si, mas no significado de, depois de formados no curso de licenciatura do CAC, termos a permissão de ingressar como professores de educação artística na rede pública. É muito claro que o curso de licenciatura do CAC não se direciona e muito menos se restringe à formação de professores do ensino formal da rede pública - embora alguns de nossos professores sejam fervorosos na crença de que estejamos aptos a trabalhar o ensino de teatro, seja lá o que isso signifique, em uma classe de 50 alunos em 2 aulas semanais de 50 min, ou 45 min na rede municipal. O pensamento de que talvez o curso não deva mesmo se restringir a isto pode ser legítimo, principalmente se pensarmos naqueles que desejam desenvolver alternativas ao ensino público, cada vez mais sucateado. A questão que se coloca é: o curso de licenciatura do CAC se direciona a alguma coisa?
A nosso ver, o que marca essa habilitação é a ausência de qualquer conceito educacional. Um exemplo disso é que somos livres para estagiar em lugares muito diferentes, de forma que uma mesma turma pode ter pessoas observando escolas particulares, públicas e ONGs ao mesmo tempo. Isso pode ser interessante pela possibilidade do diverso, mas negativo quando as discussões sobre os estágios permeiam exatamente as mesmas bases teóricas e vão de um tipo de educação a outro sem muito explorar seus contextos. Isto culmina numa análise extremamente superficial dos diferentes conceitos de educação do ensino formal (instituição escolar) e do ensino informal (ONGs, ação cultural...), conduzida por bases subjetivas e opinativas, quando muito. Um dado interessante é que se houvesse uma proposta em que uma turma se restringisse a estagiar somente na rede pública durante um semestre, muitos teriam que deixar de seguir o "cardápio da Malu" (opções de lugares para estagiar com profissionais de confiança da professora Maria Lúcia Pupo - em sua maioria formados no CAC), já que atualmente existe neste "cardápio" um número reduzido de professores da rede pública. Sintomático? Talvez.
Embora seja indiscutível a necessidade de que nossas bases teóricas ligadas à área de educação e de teatro-educação, tais como Piaget e Viola Spolin, sejam adaptadas aos contextos em que são aplicados, nosso curso não vai muito além desta identificação óbvia. Saímos do curso sabendo seguir as receitas de bolo de Viola Spolin (e com alguma sorte até questionando-a de forma fundamentada), mas com uma fraca reflexão sobre os possíveis significados da Educação Artística com habilitação em Artes Cênicas nos diversos conceitos e contextos educacionais existentes.
Tudo isso faz com que o espaço de licenciatura do CAC (e isso não é um problema restrito ao CAC, mas que abrange todo o pensamento neoliberal da USP que coloca, por exemplo, na disciplina Metodologia do Ensino de todos os cursos uma carga horária muito superior a qualquer outra disciplina de licenciatura) acabe sendo reduzido, talvez de forma inconsciente e inocente, a um processo de instrumentalização do profissional pedagógico da área teatral, isto é, o pensamento intelectual que poderia se aprofundar nas complexidades do campo da educação e do teatro-educação, dá lugar àquilo que seria cobrado no tal mercado de trabalho. É claro que a metodologia importa, porém no momento em que ela está sozinha sem aprofundamento de definições conceituais contextualizadas, ela estará pronta para reproduzir um senso comum que impede qualquer possibilidade de verdadeira transformação.
Se por um lado, o curso de licenciatura do CAC pensa o teatro-educação de forma ampla, possibilitando que os discentes sigam suas respectivas vontades no que diz respeito ao campo profissional da pedagogia em teatro, por outro perambula de forma rasa nas muitas possibilidades de aprofundamento em relação aos assuntos educacionais. Diante disto, a fim de que possamos transcender esta situação, é preciso que, com base em teorias consistentes ligadas à educação, os lugares do teatro-educação sejam identificados e problematizados. E para isso os possíveis direcionamentos do curso devem ser mais bem definidos, clareados e aprofundados. Só assim poderemos fazer jus à atual complexidade posta por todo o sistema educacional.

Entrevista dos organizadores da 1ª Motra CAC com parte deles - Pequenas notícias do mundo lá fora

1- Por que escrever um texto sobre a Mostra CAC?
A: Alguém lembrou dos veteranos? Esses seres obsoletos?
B: É um espaço para falar o que foi especificamente o projeto da 1ª Mostra CAC, num espaço que tembém não existia, o jornal.
C: Para lembrar que nem sempre foi assim, nem sempre houve ação dessa natureza dos alunos no CAC.
D: Eu pensei... Olhar sobre nós mesmos. Reconhecer o que era o CAC. Reconhecer-se. Antes o que havia era o contrário de sincronia: você não conhecia o trabalho do outro, a faculdade não permitia isso. Dava vontade de conhecer a produção de outros cursos (UNESP, UNICAMP), de chamar outras pessoas, mas a gente nem conhecia os eixos dos outros cursos do CAC.

2- O que moveu a produção da 1ª Mostra CAC?
A: Criação de espaço, diálogo. Criação de espaço para a diferença aparecer. Olhar para nossa condição, para o que estamos construindo com nossa presença diária nesse lugar. Sair da reclamação e ir para a ação. Tomada de consciência.
B: Vontade de olhar para o que estava sendo feito, por nós mesmos, no espaço público. Perceber os trabalhos que de uma forma ou de outra ocupam esse espaço e não somente passam por ele.
C: Foram as perguntas que insistiam em voltar: Por quê os alunos que se formam aqui não continuam os seus projetos? Por quê os alunos e professores não veem os projetos uns dos outros. Por que a produção – especificamente o produtor do CAC – não move uma palha pelos projetos do CAC e, em certos casos, age tentando boicotar os trabalhos? Por que não se toca no tema da Produção nessa Faculdade?
D: Indignação.

3- Há um certo vampirismo em relação à Instituição Pública que também se reflete na Universidade? Como você enxerga isto no CAC?
A: Sim. Acabamos por criar uma terra arrasada por utilizarmos do espaço público com interesses meramente imediatos. Confundimos a estrutura da USP como uma grande teta-mãe pronta a nos suprir. E quando tentamos travar algum diálogo com a teta, partimos para a reclamação, para a revolta, para a cobrança, numa postura de resistência que só afirma a condição na qual a USP se encontra; burocracia, lentidão, decadência. Acho que criar, agir é mais inteligente do que resistir, do que se opor.
B: Claro que sim. Mas ainda há a vontade de não estar no espaço público sem ocupá-lo. De não só passar, só extrair.
C: Com certeza. É cada um no seu quadrado, pensando só na sua pesquisa, seu projeto pessoal, suas produções.
D: Encaro como a continuação de um grande colegial. Estudamos nos melhores colégios e esquecemos que estamos num lugar público, que a relação com este lugar é outro.

4- Duas coisas que não existiam no CAC quando você entrou e que existem agora:
A: Aula de iluminação séria. Aula de dramaturgia séria.
B: Reclamações sobre o ciclo básico e a Mostra CAC. Quem entra, já entra reclamando. Relaxa, curte, depois transgride. O jornal também não existia. São três, então.
C: Reuniões mais frequentes entre os alunos, como por exemplo o Grêmio, e a constante reavaliação do curso e da grade por parte dos professores.
D: Milhares de aulas de voz depois da mudança da grade. Cursos com professores que não são do CAC (Anette Ramershoven, Juliana Galdino, Juliana Jardim), uma tentativa legal, mas que não sei se melhorou o curso de Interpretação.

5- Como foi ou está sendo a saída da Universidade?
A: O que vou fazer com a minha formação, com os cinco anos dedicados a ela? Tenho um trabalho e não sei produzi-lo. Como se escreve um projeto? Como se escreve um orçamento? Onde trabalhar? Como ganhar dinheiro? Onde ensaiar?
B: Olhar para a universidade, olhar para quem está dentro, para quem já saiu, ser olhado.
C: Para quem interessa mesmo estudar teatro? Para que serve mesmo as artes cênicas? Ah... eu ainda lembro? Opa! Então vamos buscar todas as brechas possíveis para continuar a criar e conseguir sobreviver de teatro.
D: Falta de grana para a pesquisa. Quem vai ver? Hermetismo? Para quem interessa?

6- No início do curso tendemos a achar que apesar do que possam falar ou criticar, que com a gente vai ser diferente. Com você foi diferente?
A: Nos primeiros anos somos radicais, cobramos, reclamamos e temos idéias prontas. Pura insegurança, cada um se protege nas três ou quatro certezas que tomou emprestado de alguém.
B: Foi diferente com quem foi diferente. Tudo que os veteranos falaram de uma forma ou de outra se cumpriu. As aulas ruins eram realmente ruins, cada um na sua pesquisa, PT abandonado e a sensação, ao sair para o mundo lá (aqui) fora, de ter vivido quatro, ou mais, anos de clausura. Mas espaços de criação foram gerados. O que foi diferente esteve nesses espaços.
C: Não foi diferente. As coisas foram se confirmando. Se formar é foda. Não tem orientação. Parece que para quem se forma, no CAC, só tem a porta dos fundos. Mitos se confirmaram. A diferença foi a criação e a ocupação de outros espaços como a Mostra e o Jornal.
D: Não. Demorei muito para entender o foco do curso. Clichês, clichês, clichês...

Maurício Perussi, formado em Direção Teatral.
Paola Lopes, formada em licenciatura.
Rodrigo Batista de Oliveira, último ano de Direção Teatral.
Thaís Póvoa, último ano de Teoria do Teatro.
Também fizeram parte da organização da 1ª Mostra Cac: Beatriz Schiferli e Maíra Gerstner, ambas formadas em licenciatura.

Recordando recortando Trotski

Por Fernanda Donnabella, 2° ano


(trechos de um crítica à escola de poesia formalista, no "Literatura e Revolução")


Para eles, "no começo era o Verbo". Para nós, no começo era a ação. A palavra acompanhou-a como sua sombra fonética.

É verdadeiramente útil, indispensável, medir uma palavra não só conforme sua significação intrínseca, mas também de acordo com seu valor acústico, pois é antes de tudo pela acústica que se transmite ao outro essa palavra.

À medida que tratamos de uma escola contemporânea, viva, é necessário testá-la por meio da forma social.

Não significa dominar a arte por meio de decretos e prescrições. É falso que só consideramos nova e revolucionária a arte que fala do operário.

Moreira complementa com um "conto da carochinha": O artista vivia à frente de seu tempo e não estava preso a nenhum lugar: o que fazia era "universal" e "eterno". Diziam até que sua História era diferente dos homens comuns: era a História da Arte. Era tão livre que vivia de ficção.

Ninguém pode ir além de si próprio. Mesmo os delírios de um louco nada contêm além do que ele recebeu antes do mundo exterior.

O poeta só pode encontrar material de criação no seu meio social, e transmite os novos impulsos da vida através de sua própria consciência artística.

Métodos de análise formal são necessários, mas não suficientes.

Para eles, "no começo era o Verbo". Para nós, no começo era a ação. A palavra acompanhou-a como sua sombra fonética.

(trechos de uma crítica à escola de poesia formalista, no "Literatura e Revolução")

Arquivo com íntegra de todas as entrevistas!!

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e quanto a pesquisa e a extensão?

“ a gente vai levando, a gente vai levando...”
Pois é, como todos já entenderam elas também serão debatidas durante a famosa MOSTRA CAC e por isso viemos aqui para esclarecer (bem sucintamente ou ingenuamente) o que elas são para nós do departamento de Artes Cênicas... Afi nal de contas a maioria de nós não tem nenhum envolvimento com projetos de pesquisa e extensão e os motivos são muitos (e podemos começar pela falta de informação!)
Pesquisa é pesquisa, sabe? Desde iniciações científi cas – projetos pessoais de estudantes sobre determinado tema – até teses de doutorado... Teoricamente todo professor da USP tem de manter uma pesquisa ativa. Ademais, existem alguns órgãos de auxílio à pesquisa, que dão bolsas e incentivos aos pesquisadores... Já extensão universitária se pretende como uma atividade acadêmica capaz de contribuir signifi cativamente para a mudança da sociedade. É um processo que articula o ensino e a pesquisa de forma a viabilizar a interação transformadora
entre a universidade e a sociedade.
Eis aqui o nosso ilustre TRI-PÉ...

O que (é) (foi) (será) o ensino...

Na Mostra CAC do ano passado foi-nos apresentada uma nova proposta para o indefinível Ciclo Básico. A ideia foi dividir os quatro semestres em eixos temáticos. Passado um ano, resolvemos mapear essa proposição de ensino. Para isso, elaboramos seis perguntas e convidamos três estudantes do 1° ano e três do 2° além de um professor (um estudante do 1° ano e o professor não toparam responder as questões). Com as respostas em mãos tentamos criar uma linha de pensamento que caminhasse sobre os argumentos de cada um.

*AQUI NO BLOG NÃO CONSEGUIMOS REPRODUZIR O DESENHO/LABIRINTO DA LINHA DE PENSAMENTO... [seguem só as respostas editadas que foram pra edição em papel e logo acima o link para download de todas as respostas na íntegra]

* Participaram da entrevista: Amanda Tavares, Ludmilla Facella, Nadia Genara, Bruno Fracchia e Lira Alli


Perguntas:

1. Dentro da nova proposta do ciclo básico, quais suas impressões, da idéia em si, enquanto professor/estudante?
2. Tendo em vista os eixos dessa nova proposta (tragédia, comédia, drama, pós-drama/épico; nessa ordem), como você enxerga essas escolhas e essas divisões?
3. Como você faria uma avaliação da operação prática dessa proposta no ano de 2008?
4. A arte vem tentando conquistar, ao longo dos anos, um espaço claro na estrutura acadêmica. Suas dificuldades definem-se, sobretudo, por uma inadequação, a priori, entre campo experimental artístico e o pragmatismo da pesquisa universitária, entre outros. Como você entende que atividade artística teatral deve se colocar na universidade?
5. O momento teatral na contemporaneidade é marcado por uma profunda indiferença da sociedade como um todo. O que você acredita ser, dentro desse quadro, uma atuação relevante por parte da academia?
6. A despeito da subjetividade da questão, o que você entende por teatro hoje?

Respostas:

LUDMILA (1): [...] A 1ª impressão foi: "Que bom que não o CAC não é algo engessado/estagnado e que ocorrem transformações no curso".A 2ª impressão: "Essa idéia é pra transformar algo de fato ou é pra 'tapar o sol com a peneira'?". [...]


BRUNO (1): [...] As disciplinas deixaram de parecer peças de quebra-cabeças que não sabíamos como, quando e se seriam juntadas [...].

NADIA (1): [...] [a idéia] permite um trabalho mais integrado entre as diferentes disciplinas [...] [entretanto] dificulta mais ainda que as pessoas construam sua trajetória curricular própria . Se as pessoas resolvem mesmo assim fazer um percurso curricular diferente do recomendado, não funciona nem a visão geral nem o mergulho num eixo.



LUDMILA (2): [...] Enxergo essas escolhas e essas divisões bem distantes de mim, como estudante, pois até onde eu entendi não foi algo debatido pelo corpo docente e discente do departamento [...] Não foi uma proposta que surgiu de debates e reuniões abertas (não considero as reuniões do conselho departamental como reuniões abertas, mesmo tendo um Representante Discente presente, considero-as fechadas e diria que algumas parecem ser lacradas [...]

Amanda (2): [...] drama e pós-drama parece mais coerente, pois serem separações claras na história do teatro. [...] O que aconteceu no mundo no período estudado era, obviamente, a mesma coisa para tragédia e comédia e as diferenças de autores e temas pareceram não ser tão consistentes para formar um semestre de estudos separado. Eu realmente acredito que essas divisões devam ter uma lógica maior para terem sido escolhidas, maior que a explicação histórica, mas não pude perceber ao longo do meu primeiro ano aqui no departamento.

NADIA (2): Toda escolha tem seu grau de arbitrariedade e seu critério. É uma forma de
ordenar o pensamento [...]

LIRA (3): [...] Foram poucos os professores que tomaram a proposta como um projeto seu, o que por vezes emperrou processos e transformou num jogo de empurra [...]

LUDMILA (3): [...] Tive a impressão que a abordagem dos eixos prejudicou algumas disciplinas e diluiu o foco do projeto pedagógico de alguns professores. [...]

LIRA (4): [...] As artes e o teatro, obviamente, se não querem estar dentro da universidade como mais uma produção de conhecimento voltada para o mercado – opção essa que normalmente é feita muito mais por purismo elitista do que por opção contra a sociedade de mercado – precisam lutar para preservar o seu já muito pequeno espaço.
E, na tentativa de fugir da lógica de mercado é necessário cuidar para não escapar da realidade: porque a maneira mais fácil de negar – na aparência – o mundo da mercadoria é criar produtos que não possam ser transformados em mercadoria para as massas. Mas aí a tradição artística/erudita/universitária cria produtos que são transformados em mercadoria, mas somente para uma elite inteligente que tem acesso à ela [...]

NADIA (4): [...] A pesquisa universitária é sustentada por verba pública, ou seja, pela população. Deveria ser voltada para os interesses da maioria da população e estar sob o controle desta. NO entanto, como tudo nas universidades públicas e na sociedade capitalista, "interesses da maioria da população" é chutado para baixo de um termo traiçoeiro como " interesses da sociedade", que afinal é capitalista, e que efetivamente é traduzido como interesses das empresas e principalmente das grandes empresas [...]

LUDMILA (5): Uma atuação que considero muito relevante é olhar para fora da "bolha USP" e descobrir que existe uma comunidade externa a ela. Falamos muito que a sociedade é indiferente ao teatro, mas o teatro também não é indiferente a sociedade?Até que ponto não fazemos teatro para nós mesmos? Essas são questões que sempre são debatidas, debatidas e nada.E afinal, de que teatro falamos? A palavra é uma só - Teatro-, mas cada um quer dizer uma coisa com ela [...]

BRUNO (5): [...] Queremos que a Academia, que a Sociedade pense na Arte, mas o inverso também é necessário: precisamos pensar, estudar a Academia e a Sociedade, identificando, de modo imparcial, o seu mecanismo de funcionamento para depois obtermos as nossas conclusões e aí sim quem quiser fazer julgamentos e agir de modo a combater essa indiferença. [...]

NADIA (5): Não sei se o pressuposto de vocês está correto. Quando se fala em indiferença, é indiferença em relação a alguma coisa. O momento teatral é marcado pela indiferença da sociedade a quê? Ao teatro? Aos problemas sociais? Á inovação / criatividade? [...] O alto grau de individualismo, principalmente nesta geração que já nasceu com o capitalismo neoliberal destroçando a gente, aparece como indiferença, que é indiferença a questões sociais mas não a grifes, ao seu próprio bem estar imediato, etc.
Um filme recente mostra uma balança onde de um lado está o mundo e de outro uma pilha de dinheiro e afirma que ninguém trocaria o mundo por uma pilha de dinheiro, porque se não iria morrer junto com o mundo e não usaria o dinheiro. No entanto, tem gente que trocaria metade do mundo por metade daquela pilha de dinheiro, exatamente porque sabe que está na metade que não iria se trocada. E tem muita gente que aceita esta troca sem perceber que está justamente na metade que VAI SER TROCADA. E tem mais gente ainda que nem sabe que a tal troca já está acontecendo.(e é claro, também está na metade que vai ser trocada).
O que seria uma atuação relevante das formações teatrais que contribuísse para sacudir as pessoas e desenvolver sua percepção desta situação? [...] creio que há uma grande tarefa pela frente. Primeiro, porque parte dos professores e dos alunos estão no campo do 1o caso, por sua situação de classe objetiva. Segundo, porque tem toda uma ideologia dominante em ação no sentido contrário. Aliás, a carga horário do curso de artes cênicas no ciclo básico contribui, de certa forma, para se estar "fora do mundo". Mal dá tempo para estudar fora da sala da aula quanto mais tempo para se dar conta que tem toda uma realidade social frente á qual não se pode ser indiferente. [...]
Creio que se conseguíssemos desenvolver uma relação mais estreita entre ensino, pesquisa e extensão, dentro de uma concepção de formação teatral que tivesse como pressuposto a perspectiva não apenas do desenvolvimento da criticidade e da criação/ inovação artística mas
também da ação coletiva e da consciência de uma sociedade baseada na exploração de uma classe sobre outra [...], talvez ajudasse.

Amanda (6): Teatro é uma arte para poucos mas que se pretende para muitos. Acredito que o teatro é necessário, como forma de expressão passível de ser ao menos experimentada por todos. Hoje penso que o teatro ainda é um luxo para poucos, tanto ao assistir a uma peça quanto participar de aulas. Na USP o nosso curso é em período integral também é um fator de elitização do teatro. Assim, a idéia difundida da arte é a de que "só rico faz, só rico tem tempo para isso". Cada vez mais o teatro tem espaço diminuído, porque se restringe a quem já o conhece.

NADIA (6): Teatro hoje é diferente de teatro ontem ?