quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

O que (é) (foi) (será) o ensino...

Na Mostra CAC do ano passado foi-nos apresentada uma nova proposta para o indefinível Ciclo Básico. A ideia foi dividir os quatro semestres em eixos temáticos. Passado um ano, resolvemos mapear essa proposição de ensino. Para isso, elaboramos seis perguntas e convidamos três estudantes do 1° ano e três do 2° além de um professor (um estudante do 1° ano e o professor não toparam responder as questões). Com as respostas em mãos tentamos criar uma linha de pensamento que caminhasse sobre os argumentos de cada um.

*AQUI NO BLOG NÃO CONSEGUIMOS REPRODUZIR O DESENHO/LABIRINTO DA LINHA DE PENSAMENTO... [seguem só as respostas editadas que foram pra edição em papel e logo acima o link para download de todas as respostas na íntegra]

* Participaram da entrevista: Amanda Tavares, Ludmilla Facella, Nadia Genara, Bruno Fracchia e Lira Alli


Perguntas:

1. Dentro da nova proposta do ciclo básico, quais suas impressões, da idéia em si, enquanto professor/estudante?
2. Tendo em vista os eixos dessa nova proposta (tragédia, comédia, drama, pós-drama/épico; nessa ordem), como você enxerga essas escolhas e essas divisões?
3. Como você faria uma avaliação da operação prática dessa proposta no ano de 2008?
4. A arte vem tentando conquistar, ao longo dos anos, um espaço claro na estrutura acadêmica. Suas dificuldades definem-se, sobretudo, por uma inadequação, a priori, entre campo experimental artístico e o pragmatismo da pesquisa universitária, entre outros. Como você entende que atividade artística teatral deve se colocar na universidade?
5. O momento teatral na contemporaneidade é marcado por uma profunda indiferença da sociedade como um todo. O que você acredita ser, dentro desse quadro, uma atuação relevante por parte da academia?
6. A despeito da subjetividade da questão, o que você entende por teatro hoje?

Respostas:

LUDMILA (1): [...] A 1ª impressão foi: "Que bom que não o CAC não é algo engessado/estagnado e que ocorrem transformações no curso".A 2ª impressão: "Essa idéia é pra transformar algo de fato ou é pra 'tapar o sol com a peneira'?". [...]


BRUNO (1): [...] As disciplinas deixaram de parecer peças de quebra-cabeças que não sabíamos como, quando e se seriam juntadas [...].

NADIA (1): [...] [a idéia] permite um trabalho mais integrado entre as diferentes disciplinas [...] [entretanto] dificulta mais ainda que as pessoas construam sua trajetória curricular própria . Se as pessoas resolvem mesmo assim fazer um percurso curricular diferente do recomendado, não funciona nem a visão geral nem o mergulho num eixo.



LUDMILA (2): [...] Enxergo essas escolhas e essas divisões bem distantes de mim, como estudante, pois até onde eu entendi não foi algo debatido pelo corpo docente e discente do departamento [...] Não foi uma proposta que surgiu de debates e reuniões abertas (não considero as reuniões do conselho departamental como reuniões abertas, mesmo tendo um Representante Discente presente, considero-as fechadas e diria que algumas parecem ser lacradas [...]

Amanda (2): [...] drama e pós-drama parece mais coerente, pois serem separações claras na história do teatro. [...] O que aconteceu no mundo no período estudado era, obviamente, a mesma coisa para tragédia e comédia e as diferenças de autores e temas pareceram não ser tão consistentes para formar um semestre de estudos separado. Eu realmente acredito que essas divisões devam ter uma lógica maior para terem sido escolhidas, maior que a explicação histórica, mas não pude perceber ao longo do meu primeiro ano aqui no departamento.

NADIA (2): Toda escolha tem seu grau de arbitrariedade e seu critério. É uma forma de
ordenar o pensamento [...]

LIRA (3): [...] Foram poucos os professores que tomaram a proposta como um projeto seu, o que por vezes emperrou processos e transformou num jogo de empurra [...]

LUDMILA (3): [...] Tive a impressão que a abordagem dos eixos prejudicou algumas disciplinas e diluiu o foco do projeto pedagógico de alguns professores. [...]

LIRA (4): [...] As artes e o teatro, obviamente, se não querem estar dentro da universidade como mais uma produção de conhecimento voltada para o mercado – opção essa que normalmente é feita muito mais por purismo elitista do que por opção contra a sociedade de mercado – precisam lutar para preservar o seu já muito pequeno espaço.
E, na tentativa de fugir da lógica de mercado é necessário cuidar para não escapar da realidade: porque a maneira mais fácil de negar – na aparência – o mundo da mercadoria é criar produtos que não possam ser transformados em mercadoria para as massas. Mas aí a tradição artística/erudita/universitária cria produtos que são transformados em mercadoria, mas somente para uma elite inteligente que tem acesso à ela [...]

NADIA (4): [...] A pesquisa universitária é sustentada por verba pública, ou seja, pela população. Deveria ser voltada para os interesses da maioria da população e estar sob o controle desta. NO entanto, como tudo nas universidades públicas e na sociedade capitalista, "interesses da maioria da população" é chutado para baixo de um termo traiçoeiro como " interesses da sociedade", que afinal é capitalista, e que efetivamente é traduzido como interesses das empresas e principalmente das grandes empresas [...]

LUDMILA (5): Uma atuação que considero muito relevante é olhar para fora da "bolha USP" e descobrir que existe uma comunidade externa a ela. Falamos muito que a sociedade é indiferente ao teatro, mas o teatro também não é indiferente a sociedade?Até que ponto não fazemos teatro para nós mesmos? Essas são questões que sempre são debatidas, debatidas e nada.E afinal, de que teatro falamos? A palavra é uma só - Teatro-, mas cada um quer dizer uma coisa com ela [...]

BRUNO (5): [...] Queremos que a Academia, que a Sociedade pense na Arte, mas o inverso também é necessário: precisamos pensar, estudar a Academia e a Sociedade, identificando, de modo imparcial, o seu mecanismo de funcionamento para depois obtermos as nossas conclusões e aí sim quem quiser fazer julgamentos e agir de modo a combater essa indiferença. [...]

NADIA (5): Não sei se o pressuposto de vocês está correto. Quando se fala em indiferença, é indiferença em relação a alguma coisa. O momento teatral é marcado pela indiferença da sociedade a quê? Ao teatro? Aos problemas sociais? Á inovação / criatividade? [...] O alto grau de individualismo, principalmente nesta geração que já nasceu com o capitalismo neoliberal destroçando a gente, aparece como indiferença, que é indiferença a questões sociais mas não a grifes, ao seu próprio bem estar imediato, etc.
Um filme recente mostra uma balança onde de um lado está o mundo e de outro uma pilha de dinheiro e afirma que ninguém trocaria o mundo por uma pilha de dinheiro, porque se não iria morrer junto com o mundo e não usaria o dinheiro. No entanto, tem gente que trocaria metade do mundo por metade daquela pilha de dinheiro, exatamente porque sabe que está na metade que não iria se trocada. E tem muita gente que aceita esta troca sem perceber que está justamente na metade que VAI SER TROCADA. E tem mais gente ainda que nem sabe que a tal troca já está acontecendo.(e é claro, também está na metade que vai ser trocada).
O que seria uma atuação relevante das formações teatrais que contribuísse para sacudir as pessoas e desenvolver sua percepção desta situação? [...] creio que há uma grande tarefa pela frente. Primeiro, porque parte dos professores e dos alunos estão no campo do 1o caso, por sua situação de classe objetiva. Segundo, porque tem toda uma ideologia dominante em ação no sentido contrário. Aliás, a carga horário do curso de artes cênicas no ciclo básico contribui, de certa forma, para se estar "fora do mundo". Mal dá tempo para estudar fora da sala da aula quanto mais tempo para se dar conta que tem toda uma realidade social frente á qual não se pode ser indiferente. [...]
Creio que se conseguíssemos desenvolver uma relação mais estreita entre ensino, pesquisa e extensão, dentro de uma concepção de formação teatral que tivesse como pressuposto a perspectiva não apenas do desenvolvimento da criticidade e da criação/ inovação artística mas
também da ação coletiva e da consciência de uma sociedade baseada na exploração de uma classe sobre outra [...], talvez ajudasse.

Amanda (6): Teatro é uma arte para poucos mas que se pretende para muitos. Acredito que o teatro é necessário, como forma de expressão passível de ser ao menos experimentada por todos. Hoje penso que o teatro ainda é um luxo para poucos, tanto ao assistir a uma peça quanto participar de aulas. Na USP o nosso curso é em período integral também é um fator de elitização do teatro. Assim, a idéia difundida da arte é a de que "só rico faz, só rico tem tempo para isso". Cada vez mais o teatro tem espaço diminuído, porque se restringe a quem já o conhece.

NADIA (6): Teatro hoje é diferente de teatro ontem ?

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