quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Fragmentos de uma introdução anunciada. BEM VINDOS!


Esse jornal tem 2 anos. Mais ou menos.
Nasceu filho de chocadeira, inseminação artificial, proveta, fecundação assistida, clonagem... Passou a infância nos orfanatos românticos e na FEBEM. Tornou-se um espécime raro, de funcionamento obscuro, sexualidade indefinida e comportamento imprevisível. Já foi ativista político, caderno de poesia, artista decadente, bailarina pós-dramática e hoje é macaco cientista da símio-logia da arte.
Apresenta traços ao mesmo tempo autoritários e anárquicos. É um ser contraditório que possibilita pouquíssimo controle.

Bem vindos. Aos subterfúgios da civilização: o curso universitário de teatro.

[O português é uma das poucas línguas (essa proporção é uma estimativa) que o verbo ‘ser’ e o verbo ‘estar’ são diferentes. O que possibilita que você esteja você e não necessariamente seja você, ou que você esteja CAC e não seja CAC; em francês, por exemplo, não haveria essa diferença. Isso faz com que qualquer símio-ótico atinja o êxtase! Pois podemos explodir tudo sem nos matar! E podemos ser macacos sem estar macaco! Enfim...]

Esse ano acontece a III MOSTRA CAC [entre os dias 02 e 06 de março] cujo tema central será o tripé universitário. Tripé é uma metáfora imbecil de algo com três pés onde cortando um deles cai o todo. Os pés são o ensino, a pesquisa e a extensão; o todo somos nós. Ensino e pesquisa são ensino e pesquisa. Extensão é estender o conhecimento produzido (e não adquirido – guardem bem!) na academia para a comunidade.
Nessa semana, para desespero dos bixos ansiosos, não haverá aulas no departamento (é... Nós somos o último curso da USP a começar as aulas – e saiba que nos orgulhamos muito disso!). A ideia que rege o evento é ser o momento de reflexão do curso e o espaço de ver e mostrar os trabalhos realizados aqui; também é o momento de levantar pontos chaves de discussão sobre arte, teatro e universidade.
Assim, a Mostra é, sobretudo, um espaço em construção (como esse jornal) por isso é anômala e problemática buscando encontrar seus interlocutores e suas vozes... Nem sempre ela consegue ser clara, objetiva ou eficiente; poucas vezes consegue direcionar práticas e questionar a fundo os paradigmas, mas é um espaço totalmente idealizado, construído e mantido pelos estudantes! E isso faz com que a responsabilidade sobre ela seja de todos nós...

Esse jornal e a Mostra CAC são primo-irmão... Nasceram ambos de nossas indignações, inquietações e necessidades, são tentativas de dialogar de buscar caminhos e de criticar a fundo os parâmetros instituídos. São ambos a objetivação de uma crítica, são propostas de ação direta, são gritos de provocação e construção; como todo bom parente nasceram de facções opostas que, depois de alguns incêndios, se uniram novamente.

Por fim, é hora de reconhecer que nossa vida na universidade é passageira e fugaz (como na vida, diriam os menos otimistas)... 4 anos para uns, algo mais para outros... Nossas construções aqui vão tornando-se efêmeras, como nossas passagens... E esses macacos já são anciões com medo da morte...

Então... Ficam as melancólicas boas vindas aos novos, o entusiasmado convite para construir conosco e o desejo de muita força nessa luta/arte/teatro que cada um de nós escolheu se envolver... Luta em que, como diria Walter Benjamim “os inimigos não têm cessado de vencer”.

Mas,
“Antes de me despedir
Deixo ao sambista mais novo
O meu pedido final
Não deixe o samba morrer...”

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