quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Entrevista dos organizadores da 1ª Motra CAC com parte deles - Pequenas notícias do mundo lá fora

1- Por que escrever um texto sobre a Mostra CAC?
A: Alguém lembrou dos veteranos? Esses seres obsoletos?
B: É um espaço para falar o que foi especificamente o projeto da 1ª Mostra CAC, num espaço que tembém não existia, o jornal.
C: Para lembrar que nem sempre foi assim, nem sempre houve ação dessa natureza dos alunos no CAC.
D: Eu pensei... Olhar sobre nós mesmos. Reconhecer o que era o CAC. Reconhecer-se. Antes o que havia era o contrário de sincronia: você não conhecia o trabalho do outro, a faculdade não permitia isso. Dava vontade de conhecer a produção de outros cursos (UNESP, UNICAMP), de chamar outras pessoas, mas a gente nem conhecia os eixos dos outros cursos do CAC.

2- O que moveu a produção da 1ª Mostra CAC?
A: Criação de espaço, diálogo. Criação de espaço para a diferença aparecer. Olhar para nossa condição, para o que estamos construindo com nossa presença diária nesse lugar. Sair da reclamação e ir para a ação. Tomada de consciência.
B: Vontade de olhar para o que estava sendo feito, por nós mesmos, no espaço público. Perceber os trabalhos que de uma forma ou de outra ocupam esse espaço e não somente passam por ele.
C: Foram as perguntas que insistiam em voltar: Por quê os alunos que se formam aqui não continuam os seus projetos? Por quê os alunos e professores não veem os projetos uns dos outros. Por que a produção – especificamente o produtor do CAC – não move uma palha pelos projetos do CAC e, em certos casos, age tentando boicotar os trabalhos? Por que não se toca no tema da Produção nessa Faculdade?
D: Indignação.

3- Há um certo vampirismo em relação à Instituição Pública que também se reflete na Universidade? Como você enxerga isto no CAC?
A: Sim. Acabamos por criar uma terra arrasada por utilizarmos do espaço público com interesses meramente imediatos. Confundimos a estrutura da USP como uma grande teta-mãe pronta a nos suprir. E quando tentamos travar algum diálogo com a teta, partimos para a reclamação, para a revolta, para a cobrança, numa postura de resistência que só afirma a condição na qual a USP se encontra; burocracia, lentidão, decadência. Acho que criar, agir é mais inteligente do que resistir, do que se opor.
B: Claro que sim. Mas ainda há a vontade de não estar no espaço público sem ocupá-lo. De não só passar, só extrair.
C: Com certeza. É cada um no seu quadrado, pensando só na sua pesquisa, seu projeto pessoal, suas produções.
D: Encaro como a continuação de um grande colegial. Estudamos nos melhores colégios e esquecemos que estamos num lugar público, que a relação com este lugar é outro.

4- Duas coisas que não existiam no CAC quando você entrou e que existem agora:
A: Aula de iluminação séria. Aula de dramaturgia séria.
B: Reclamações sobre o ciclo básico e a Mostra CAC. Quem entra, já entra reclamando. Relaxa, curte, depois transgride. O jornal também não existia. São três, então.
C: Reuniões mais frequentes entre os alunos, como por exemplo o Grêmio, e a constante reavaliação do curso e da grade por parte dos professores.
D: Milhares de aulas de voz depois da mudança da grade. Cursos com professores que não são do CAC (Anette Ramershoven, Juliana Galdino, Juliana Jardim), uma tentativa legal, mas que não sei se melhorou o curso de Interpretação.

5- Como foi ou está sendo a saída da Universidade?
A: O que vou fazer com a minha formação, com os cinco anos dedicados a ela? Tenho um trabalho e não sei produzi-lo. Como se escreve um projeto? Como se escreve um orçamento? Onde trabalhar? Como ganhar dinheiro? Onde ensaiar?
B: Olhar para a universidade, olhar para quem está dentro, para quem já saiu, ser olhado.
C: Para quem interessa mesmo estudar teatro? Para que serve mesmo as artes cênicas? Ah... eu ainda lembro? Opa! Então vamos buscar todas as brechas possíveis para continuar a criar e conseguir sobreviver de teatro.
D: Falta de grana para a pesquisa. Quem vai ver? Hermetismo? Para quem interessa?

6- No início do curso tendemos a achar que apesar do que possam falar ou criticar, que com a gente vai ser diferente. Com você foi diferente?
A: Nos primeiros anos somos radicais, cobramos, reclamamos e temos idéias prontas. Pura insegurança, cada um se protege nas três ou quatro certezas que tomou emprestado de alguém.
B: Foi diferente com quem foi diferente. Tudo que os veteranos falaram de uma forma ou de outra se cumpriu. As aulas ruins eram realmente ruins, cada um na sua pesquisa, PT abandonado e a sensação, ao sair para o mundo lá (aqui) fora, de ter vivido quatro, ou mais, anos de clausura. Mas espaços de criação foram gerados. O que foi diferente esteve nesses espaços.
C: Não foi diferente. As coisas foram se confirmando. Se formar é foda. Não tem orientação. Parece que para quem se forma, no CAC, só tem a porta dos fundos. Mitos se confirmaram. A diferença foi a criação e a ocupação de outros espaços como a Mostra e o Jornal.
D: Não. Demorei muito para entender o foco do curso. Clichês, clichês, clichês...

Maurício Perussi, formado em Direção Teatral.
Paola Lopes, formada em licenciatura.
Rodrigo Batista de Oliveira, último ano de Direção Teatral.
Thaís Póvoa, último ano de Teoria do Teatro.
Também fizeram parte da organização da 1ª Mostra Cac: Beatriz Schiferli e Maíra Gerstner, ambas formadas em licenciatura.

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