domingo, 21 de setembro de 2008

Em Processo - Editorial

Em processo de transformação. Ou transformados. Temos nome, um nome variável como o tempo paulistano, ou como as regras do jogo de bolinhas-de-gude de Mr. Piaget. E somos. Formamos o coletivo maCAC-ando (escreva como quiser) Núcleo/Jornal.
Que se faça nossa ordenação: Cavaleiro da III (Des)-Ordem dos Eternos Dissidentes, por méritos e valores! Não sobrarão dragões páreos a nossos macacos! Nem moinhos de vento à nossa pós-contemporaneidade!
Que tremam os poderosos.
Montados em nosso grandioso alazão Ameba, galoparemos por sobre os escombros da fausta civilização, derrubaremos a porta de aço do Quartel Departamental Conselhar, re-fundaremos as diretrizes baseados na espontaneidade símia!
MaCAC-cracia!
Não há ordem que nos contenta. Não há confronto que nos intimide! Não há edital que nos contemple! Não há Deleuze que nos entenda! Não há tradição que nos conheça!
Pelo Auto-Fomento de Incentivo à Ruptura, que se faça implodir a contradição de identidade nas “Ilhas de Desordem” do terceiro mundo!

E somos 5, sentados nas cadeiras de plástico branco da nossa área de vivência, contando os últimos cigarros, olhando a movimentação mecânica da cantina, inconformados com a máquina de café ... Sem muita motivação para caminhar à nossa próxima disciplina-rização. Ainda acreditamos ser possível pensar, dialogar, embora cada ano nos torne rígidos, cabisbaixos, e pouco otimistas. Muito pouco sabemos sobre teatro... ou sobre qualquer coisa. Largado em cima da mesa, o jornal (dia 16) estampa a bancarrota do Lehman Brothers (este com um N a menos do que o nosso): pior crise financeira desde 87 – a “segunda-feira negra”; no editorial do New York Times, o título: “Versão pós-moderna (!) da crise”. E os grandes neoliberais começam a dizer, entre lágrimas: “achei que estávamos prontos... mas não desanimem queridos, um dia vocês serão livres sujeitos econômicos, é natural. O fim da história chegará novamente!”. Mais ao sul, o líder cívico dos autonomistas bolivianos categorizou: “É preciso acabar com esse índio podre [leia-se Evo Morales] e com os comunistas” – Na foto, outros 5 jovens, inconformados como nós. Mas esses gordos e bravos, exibindo facões, paus e pedras, com máscaras de luta livre e bonés do FBI, comemoravam a morte de 100 camponeses. Pra tudo existe consolo, nos cadernos de cultura, os resumos dos próximos capítulos, a coluna social e o horóscopo do dia!

É...Nós fazemos teatro... Sabe qual nossa opinião?
Meyerhold leva ao paroxismo a teatralidade de Gordon Craig, pelas vias do simbolismo de Mallarmé! Isso mesmo! não podemos perder o prazo de inscrição do PAC! E a noite tem samba na Vila Madá! Viva, Viva!

Cansado disso? Sê macaco! Símio-logia da arte!

12 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom esse editorial, hein!

Parabéns a voces que botaram a mao na massa pra fazer o jornal e nao se deixaram levar pelo pessimismo e cabisbaixismo que realmente vai nos tomando a cada ano!

Dahora!

Anônimo disse...

Valeu Marta!
Tamo junto! eh nóis!

Anônimo disse...

Caros,
eu estou bem confuso para articular as minhas opiniões a respeito do jornal e, no final das contas, toda opinião de cu é rola, coisa que todo mundo tem de monte e sai entuchando nos outros de graça. Então vou escrever sobre como me provocou esse edital, ok?
Inicialmente, acho a proposta do jornal legítima e muito bem vinda para movimentar os corpos do departamento. Não porque eu pense que eles estejam mortos em vida, como eu entendo que vocês insinuam, mas porque é sempre bom gerar encontros e debates. Digo isso porque em alguns poucos dias pude falar sobre esse jornal com muita gente que não costumo falar e ouvir coisas que me fizeram pensar bastante.
Então, parabéns pra vocês!

Agora... sobre o edital... ele me deixa meio puto, porque vocês se valem do recurso da ironia, da gozação, que é um recurso, um lugar, um ponto de vista muito perigoso de se tomar. Porque lendo, relendo, trelendo, me parece que vocês se põem superiores a entidade CAC (ela realmente existe?). Porque quando vocês ironizam, vocês se descolam do objeto de ataque... mas, meus caros, eu vejo vocês materialmente ocupando esse objeto todo santo dia. E arrisco dizer que não só materialmente. Ou seja, o CAC também contém vocês. E muitos outros e diversas vozes. Acho beeeeeemmmm perigoso rotular o CAC como um lugar x,y,z, somente.
E então, quando vocês escrevem eu me sinto ofendido (oh! coitado de mim.) de ser taxado de viver numa ilha de fantasia por colegas que habitam a ilha comigo mas que tem mais consciência da situação do que todo o resto (do que todos os outros, tipo, oitenta).
Lógico que entendo o conceito do jornal (sim, porque ele tem um conceito, e não me rotulem acadêmico boçal por escrever isso). O conceito do macaco, da criança, do desvario... aliás, acho que tem um pessoal que tá ficando muito ofendido com o jornal porque está levando ele muuuiiiitttooo a sério... coisa que eu acho que vocês deixam bem claro que não deve-se fazer.

Bom, acho que era isso que eu tinha pra falar. Agora também quero ouvir vocês.

até,
Luiz

Kiko Rieser disse...

Eu, particularmente, penso que a ironia não significa tirar o próprio da reta. Ela contém, sim, um distanciamento crítico, um tentar ver de fora, um olhar que procura refletir. O que não quer, absolutamente, dizer que não estamos nessa. Não nos eximimos disso, nem achamos que estamos por cima da carne podre. Inclusive porque assumimos que estamos nos tornando "rígidos, capisbaixos e pouco otimistas". É um pouco um espírito de "aos que virão depois de nós". Uma chacoalhada geral, uma provocação, uma centelha pra ver no que dá. E eu me pego constantemente vivendo nessa ilha de fantasia, quando lembro que ela pode naufragar (e naufraga a todo momento - para retomar fôlego e voltar à superfície, ou não). Creio que todos têm essa consciência, e é bem possível que a tenham muito mais do que eu. Podem discordar da minha visão, mas nem por isso deixam de ter consciência e refletir. A ironia não é aos outros membros do CAC, mas à instituição (essa existe, é um departamento de uma universidade - não sei se é uma entidade, me soa estranho), na qual se incluem todos - e nós -, que também são responsáveis por ela. O buraco é mais embaixo. Não sei, também não sei bem o que responder ao seu comentário. Só penso que estamos mais lançando uma provocação do que fechando problemáticas e apontando causas ou soluções. Não é uma análise, só um grito. Mas, ainda que fosse, não nos colaria em uma pretensa posição superior. Geralmente tudo que criticamos (e essa primeira do plural não é o conselho do jornal, mas os sete bilhões de seres humanos), incluindo o próprio mundo - esta gigantesca e quase abstrata "entidade" (?) -, nos inclui. Sei lá, é pra se pensar. Por enquanto, é isso que me vem à cabeça. Mas refletirei... Obrigado pela contribuição.

Paulo disse...

Bom Luiz, eu posso começar
(não que isso seja um peso pra mim, porque eu adoro escrever aqui!)... e eu escrevo muito, desculpa... eu me empolgo..

Primeiro valeu pela crítica.
Acho justa e super importante.

Sobre o recurso utilizado. Eu concordo, Luiz, que a utilização do sarcasmo é perigosa. Entretanto, vale o risco, pelo simples motivo de ter em si muito mais potencial de estímulo à leitura e ao posicionamento. Além do que, possibilita uma relativização das verdades (uma crítica que começamos a fazer acerca de nossa própria atuação no departamento, sempre muito afirmativa, e sempre sem qualquer interlocutor - a não ser em tempos de caos e greve). Essa brincadeira é uma brincadeira com nós mesmos - eternos dissidentes. Claro que com algumas provocações, mas que cabem a nós facilmente.
Ou seja, não tiramos o nosso da reta. A auto-exaltação no fim do texto "Sê macaco" é absolutamente irônica, é "quixotesca", estamos nos afirmando Dom Quixotes em nossa luta! (é duro pra gente também dizer isto, no fundo, eu ainda me mantenho muito idealista).
Mas, se nós vamos nos ridicularizar então que venham todos. E, acho, que esse foi o grande ponto da insatisfação geral.
É engraçado Lu,
porque quando nós apontávamos o dedo e dizíamos: "Vocês não fazem nada! É preciso debater, discutir! chega dessa passividade, dessa alienação" Ninguém levava a sério, ninguém tava nem aí, éramos motivo de gozação. E no fundo, nossa figura era mesmo bem patética nesse lugar inquisitor (eu to usando o plural, mas nesse caso estou falando de mim mesmo).
E agora, que não apontamos nada, que ridicularizamos tudo. Gerou uma reação imensa!
Porque, talvez, o patético não estava só em nós "inquisitores".

Sobre nós também compormos a "entidade cac" embora nos descolamos dela, é uma questão interessante, pois já apareceu muitas vezes de bocas muito diferentes.
Eu discordo que isso aconteça desse modo (até porque é algo inconsciente nas matérias do jornal).
Acredito que cria-se essa impressão porque existe sim uma ala, principalmente de professores (mas também composta de muitos estudantes), que fomenta essa "normatização identificativa", que entope o cac de verdades e definições de arte. Que "pós-estruturaliza" tudo. Enfim..
A ridicularização dessa "ala" não é, de forma alguma, deslocamento da nossa responsabilidade enquanto parte do cac. É sim crítica à justamente esse tipo de identidade!

É ironia frente às definições do "espaço cac" como espaço da experimentação, da pesquisa individual, dos processos, etc..
(e elas existem! E não fomos nós que as criamos! Elas foram construídas, e nós as seguimos!)

Justamente por nós nos considerarmos parte desse aglomerado chamado cac, chamado universidade, chamado
"ilha" que criticamos esse "lugar comum" da identidade.
Por nos sentirmos responsáveis pelo nosso entorno! E não apenas preocupados com nossa formação individual.

Essa coisa que a galera tá dizendo muito: "o cac somos nós", eu acho bonito e tudo mais. Entretanto, todos sabemos que existem pressuposições, paradigmas, parâmetros, escolhas, o quais não perpassam por nós - só com muita luta.

Ia ser muito legal nós sentarmos todos juntos e pensarmos um cac de todos. Mas isso é um tanto romântico. Eu já vivi, na usp, greves, discussões curriculares, conselhos, dossiês, congregações, mostras, debates, fóruns, reuniões, eleições, grêmio, CAs, ocupação, encontros, etc.. E, de tudo isso (que considero minha grande formação humana até hoje) o que fica é a força das coisas que nós fazemos enquanto categoria (como essa Semana de Arte e Cultura, que o 1°ano organizou), e a inutilidade daquilo que pretende-se construir em conjunto, como "comunidade acadêmica" - Eu demorei pra achar isso, mas hoje eu acredito que, com honrosas excessões, os interesses dos professores e dos dirigentes não são os mesmos que os nossos.

Sendo assim, nossa [coletivo do jornal] atuação enquanto estudantes será, inevitavelmente, contraponto às construções outorgadas como "Departamento de Artes Cênicas".

Essa é nossa parte de contribuição ao "nosso cac".
Pois a crítica, seja como for, é essencial para sairmos da mediocridade permanente e é sempre construtiva.
Mas é por esse tipo de debate que vamos entendendo melhor as complexidades da "comunidade" que buscamos.
(vide a fala do Moreira na discussão de hoje da Semana de Arte e Cultura. Mesmo se discordarmos da análise marxista que ele faz, é patente que existe uma complexidade nas relações da "comunidade" muito além daquelas que nos acostumamos a enxergar)

Paulo disse...

ehehe.. acho que o kiko começou antes que eu...

Anônimo disse...

No começo eu não gostava desse texto. Até porque discordo de muitas idéias e conceitos que estão nele. Mas depois que eu li e reli algumas vezes (tudo isso antes de ser publicado, alterando algumas coisas) só uma coisa me preocupava: por que estamos falando tanto de nós mesmos (nós eu quero dizer nós cinco) e dando tanta importância prum texto que fala como é tosca nossa pretensão de querer que um jornalzinho - uma folha A3 impressa frente e verso (na minha época de escola fazia um maior e melhor) - provoque discussões, possibilite debates e tal? Afinal, nós não somos grande coisa.

Claro que como fazemos parte do CAC - e acho que se não fosse ele talvez nem nos encontraríamos, muito menos produziríamos juntos - acabamos falando do CAC, mas nunca me pareceu essa a idéia. Acho que acabamos falando do CAC - e compreendendo CAC pelas relações produzidas mediadas pelo espaço do departamento e não uma entidade abstrata - que está em nós, ou do que foi produzido por essas relações dentro de nós.

Nada muito grande, só tosco.
Tosco porque não faz sentido levar a sério nada desse mundo - inclusive nós mesmos - embora não nos reste outra opção que não a de levar a sério.

Espero que tenha feito algum sentido isso que eu escrevi.

E acho sempre bom lembrar quanto ficamos agradecidos pelas manifestações todas, valeu!

Anônimo disse...

Bueno...
agradeço as pronunciamentos e assumo meu entusiasmo com tudo o que está acontecendo.
Parte dele vem porque percebo o movimento, como você diz Paulo. Entendo quando você diz que por essa via finalmente parece que muitos do CAC toparam se distanciar dos nichos. Digo isso porque o que observo (e atuo também) é a existencia de diversos núcleos de amizades e pesquisa com interesses semelhantes que se fecham em si e deliram diálogos dentro de uma cúpula, raramente tornando algo público. Isso me parece frequente, posto que é caminho fácil e protegido. A comissão do jornal é uma dessas "cúpulas" (perdoem a palavra, me falta agora uma melhor), no entanto vocês tornam público, se dão a ver, se pronunciam para todos nós, conseguem veicular...
E essa diferença é crucial! Porque daí, o que aconteceu? Ao invés do ato cotidiano de lidar com as diferenças pelos chavões "Questão de gosto; Melhor cada um na sua pesquisa mesmo; É tão difícil dialogar... porque ele não me escuta, eu não escuto ele, então é melhor não falar, não é mesmo?; Ai, eu finjo que nem escuto, viu... (etc)", as pessoas de diferentes pontos de vista estão indo parar num embate em que, de alguma forma, se confrontam as visões e se pode trabalhar quase para que uma coisa seja criada... como algumas que surgiram nesse espaço dos comentários do blog.

Fiquei, por exemplo, muito perturbado com os comentários acima, quando vejo vocês se colocando dessa forma em que vocês se problematizam. Acho isso de uma coragem e disposição tamanha e me leva também a me problematizar. Questionar o meu pensar/agir em arte, e, consequentemente, meu pensar/agir em vida. De fato, aplaudo a iniciativa de vocês por embaralharem e "macaquearem" nossas "certezas instantâneas" nos propondo a pensar a escola, a nos pensar na escola e a pensar nossos grupos/parceiros próximos na escola, envolvendo todo a dor do constrangimento que possa haver.

Seguimos, então,
Luiz

Anônimo disse...

Ah, desculpe a infâmia, mas só agora me liguei...
"Bueno..." não está se remetendo a Ju Bueno (ativa escritora nesse espaço). É só um suspiro em castelhano mesmo, ok?

Liz disse...

Eu sou sempre aquela que pede pra amenizar/cortar as ironias-sarcarmos-brincadeiras que se voltam criticamente contra alguma especificidade. Normalmente concordaria com o que o luiz falou sobre os perigos deste recurso, argumentaria que o debate só pode acontecer se a recepção da crítica estiver ausente de ofenças/sentimentos raivosos/feridas duramente espremidas, já que estas só nos levaria a um maior afastamento uns dos outros.. Porém, diante das manifestações expressas, diálogos correntes, posicionamentos nascentes, tanto pelo blog quanto pelos corredores do cac [talvez isso coincida com o positivo movimento desta semana de arte e cultura organizada pelo primeiro ano], penso que essas ironias-brincadeiras-sarcasmos são preciosos.
E sabe, mesmo fazendo parte do núcleo do jornal, partes desse editorial me ofendem diretamente e pisam em algumas feridas minhas, mas considero essa "dor" comum e pública [talvez], um bom começo/recomeço para pensarmos e repensarmos o porque disto.. e acredito que o encontraremos em questões que transcendem as atitudes individuais, embora estas, sejam necessárias para que esta busca aconteça.
Tomara que muitos de nós nos encontremos na terça 11h..

Anônimo disse...

amém.

Fabrício Muriana disse...

Só uma coisa que soa estranho nessa discussão toda - é meio mala, eu sei - mas é uma diferenciação necessária. Crítica, na definição do dicionário, não pode deixar de ter julgamento. Eu discordo do dicionário. Crítica pode ser diálogo em que se tem ou não julgamentos. Crítica, pra mim, pegando pela origem da palavra, tem que colocar em crise (pra além do bem e do mal). Dentro da crítica, a ironia é um recurso (e tb pode ser um conceito) que a tradição crítica brasileira (sobe a nuvem de poeira) usou muito e, em muitos casos, usou muito mal (aqui não é pra além do bem e do mal). Juntar crítica que julga, com ironia é o caminho mais fácil pra chegar ao sarcasmo (que é a "ironia cáustica" segundo houaiss). Ou seja, há que se diferenciar claramente, na hora em que se escreve, o que é ironia, do que é sarcasmo. Enfim. É isso aí.