segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Mostras

por Paola Lopez, Paulo V. Bio Toledo, Luiz Paulo Pimentel e Liz Natali Sória.

Na última semana de setembro ocorreu no CAC uma mostra organizada pelo 1° ano, dentro da Semana de Arte e Cultura da USP, cuja inquietação central foi o árduo caminho entre a universidade e a comunidade. Tal evento colocou em questão, para nós do jornal, a importância, ou dês-importância, desse tipo de atividade no CAC: Mostra CAC, Mostra da Licenciatura e esta Semana.
Para que haja alguma linguagem em comum é necessário traçar as fronteiras e ponto de partida de cada um dos eventos:
No final do ano de 2006, ao questionar-se sobre a dificuldade de articulação entre as habilitações oferecidas no departamento, um grupo de estudantes se reuniu para pensar propostas de ações para debater esta e outras temáticas acerca do departamento.
O projeto da mostra CAC surgiu, então, para proporcionar um espaço específico de apresentação dos trabalhos realizados no departamento; tentando traçar uma trajetória de formação e com isso vislumbrar as tendências dos pensamentos que regem a escola, bem como mobilizar alunos, técnicos e professores para a reflexão dos trabalhos realizados.
Muito diferente da Semana de Arte e Cultura, portanto, onde a inquietação inicial voltava-se para fora da universidade, em suas possíveis relações com a comunidade, e não para dentro do departamento, como a Mostra CAC. Essa diferença vetorial, por um lado altera substancialmente o caráter do evento; mas, por outro, indica possibilidades de complementos às inquietações dos estudantes envolvidos.
Por fim, a Mostra de Licenciatura é uma semana, institucionalizada, de mostras de trabalhos internos (TCCs) que, na maior parte das vezes, constituem-se de trabalhos realizados externamente à Universidade. Como prática, a semana abarca, no espaço do CAC, a abertura dos processos pedagógicos, propostos pelos estudantes de Licenciatura, realizados em grupos e/ou comunidades. Especificamente, a Mostra de Licenciatura resulta na apresentação de diversos contatos entre Universidade e grupos externos – isto devido a uma inquietação dos próprios estudantes envolvidos e não como diretriz da Mostra ou do departamento. Entretanto, por ser um espaço destinado aos trabalhos de conclusão dos estudantes, essa semana não se ocupa objetivamente com a problematização do curso e da idéia de extensão universitária senão pontualmente através dos debates de alguns projetos.
Posto isto, o que ressalta, em verdade, é a nulidade de articulação entre esse tipo de atividade no CAC. Muito devido à efemeridade de nossa passagem pela academia, e também à falta de coesão pedagógica ou articulação progressiva do departamento. Ademais, sintomaticamente, percebe-se uma sublimação fantástica do corpo docente, e dos próprios estudantes entusiasmados pela folga que “vem a calhar”. Tal movimento deve ser questionado em duas direções: ou deve haver uma séria desarticulação entre os ocupantes do espaço CAC ou o conceito da mostra só atende aos interesses do seu pequeno grupo de curadoria. As reverberações da mostra CAC, Mostra da Licenciatura e da Semana de Arte e Cultura são distintas entre si, por orientarem cada uma um recorte de discussão, porém acabam por evidenciar a mesma relação que se gerou em relação a elas: uma apatia generalizada das pessoas sobre o meio que se inserem (entretanto, curiosamente, vemos hoje um movimento de descrédito afirmativo às mostras articuladas).
Talvez existam algumas tentativas de tornar o debate levantado por esses eventos menos pulverizado e, cada vez mais, parte do nosso cotidiano de estudantes de artes: o conselho departamental de professores e RDs, as povoadas reuniões departamentais semanais (era pra rir?), o grêmio CAC (o que é mesmo?) e este jornal na sua mão juntamente com o blog. Mas será que podemos falar de disciplinas que dão espaços para a continuidade deste tipo de reflexão? Talvez, às vezes... Ou, talvez, a característica principal destes debates esteja justamente em não acontecer vinculada a nenhuma disciplina, professor, ou aluno específico. A potência, talvez, se dê por serem movimentos sem pessoalidades em jogo, despersonalizados em si, onde não há a voz de um sujeito, mas a articulação de um coletivo.
Iniciativas como a Mostra CAC e a Semana de Arte e Cultura são advindas de um grupo pequeno de estudantes que organizam um espaço de encontro com o objetivo de evocar discentes, docentes e funcionários a pensar questões pertinentes à formação e a postura política e de caráter público do curso frente à comunidade. Porém, o que se pode dizer que repercutiu das mostras? Qual sua real urgência? Elas dizem respeito a questões apenas dos realizadores ou de outros também? Como organizar de forma a abrir brechas, e estímulos, a participação mais geral? Como se articulam os debates para que alcancem camadas mais complexas do nosso movimento de aprendizagem?
Não há, e nem deve haver, um modelo ideal de mostra, e nem de posturas ideais em relação para com elas a serem alcançados. Mas é preciso indagarmo-nos sobre até que ponto elas são uma urgência/necessidade, ou até que ponto são ações que já se tornaram cooptadas, e por isso, precisam ser reinventadas para que outros modos de ‘ato-reflexo’ possam ser experimentados por nós, para assim desenrolarem outros envolvimentos para com elas. Afinal de contas, como pessoas que praticam e pensam a arte, nossa criação e pensamento se alimentam da inventividade para buscar novos atos e novas formas para as questões que nos atravessam.

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