quinta-feira, 7 de maio de 2009

Caderno de Licenciatura II

por Catarina São Martinho (5°ano)
ENSINO BÁSICO FORMAL E FORMAÇÃO ACADÊMICA: AQUELA VELHA HISTÓRIA DA PONTE ENTRE A UNIVERSIDADE E SEUS ALÉM-MUROS.

Este escrito parte de um desejo de pensar o papel da educação-artística no ensino formal, básico e público. A escola pública de massa ocupa um lugar contraditório em nossa sociedade, na medida em que serve a objetivos de disciplinarização e normatização do Estado, ao mesmo tempo em que conserva em si a possibilidade de democratização do conhecimento e da construção de cidadania para além dos objetivos deste mesmo Estado. Dentro deste quadro, quem se forma em Licenciatura em Artes Cênicas lidar ainda com um problema mais específico: ministrar aulas referentes à disciplina obrigatória de educação-artística no ensino básico.
Historicamente, a implementação desta disciplina na escola brasileira pressupunha o professor de artes polivalente, alguém que pudesse dar conta do ensino de todas as linguagens artísticas.
A formação de pedagogos nesta área na Universidade de São Paulo surge de acordo com este pressuposto. A partir da luta política de pensadores da área, a educação-artística na USP foi dividida em habilitações específicas –, a saber, Artes Cênicas, Artes Plásticas e Música. No entanto, apesar dos esforços, as leis referentes ao ensino básico não acompanharam a mudança que ocorreu na formação profissional, tornando-se, na verdade, confusas.
Atualmente, temos na Universidade uma formação especializada e quando chegamos ao ensino formal nos deparamos com contradições que dizem respeito tanto a leis e programas que devemos cumprir, quanto ao preconceito em relação à matéria de artes advindo do senso comum sobre o que seria esta prática.
Numa primeira vista, pode nos parecer que o que devemos fazer é lutar com garras e dentes pela separação do ensino de arte em linguagens, mas é importante ver esta questão por outros lados. É preciso questionar o quanto nossa formação não produz uma alta especialização, quando ela limita ou impede o diálogo efetivo com as demais linguagens. De fato, a separação das disciplinas e a atuação de três ou quatro profissionais de áreas distintas na escola solucionaria algum problema referente à educação-artística? Solucionaria algum problema referente à formação de teatro-educadores na USP?
Parece-me que as conquistas realizadas foram muito importantes e muitos questionamentos ainda nos dizem respeito. Um legado importante desta luta, por exemplo, é a visão de que o pedagogo não seria um professor de artes, mas sim um arte-educador – teatro-educador no caso dos “caquianos”. Isto significa que este pedagogo é também um artista produtivo em sua área e não alguém que se forma para transmitir certos conhecimentos em artes.
No entanto, é justamente no ponto desta conquista que vejo um possível lugar de contradição em nossa formação, e volto aqui ao problema da especialização.
Visto que o teatro contemporâneo – assim como as demais linguagens artísticas hoje – se vale do dito “hibridismo” como um alargador de possibilidades formais e temáticas, é coerente dizer que um pedagogo que se pretenda artista não pode deixar passar em branco esta questão. Mais que isso, a relação entre o teatro com as demais linguagens deveria ser abordada dentro da habilitação de licenciatura, pensando nas ligações tradicionais – no que o teatro se relaciona às artes visuais, dança ou música desde sempre – até as conseqüências mais radicais de experiências contemporâneas.
Ao dizer da necessidade desta questão “dentro” da habilitação, digo que em primeiro lugar, o interesse pelos outros departamentos não pode ficar a cargo do graduando artista-educador, pois isso não constitui uma decisão política e é disto que estamos falando quando questionamos a ponte entre a universidade e o ensino básico. Em segundo lugar, embora interessante, não seria suficiente, por exemplo, acrescentar uma disciplina extra, inter ou trans-departamental ao currículo, se a abordagem das disciplinas já existentes de licenciatura continuar intocada.
É preciso olhar com atenção para as disciplinas existentes, para o conteúdo do qual tratam e para a maneira de tratar este conteúdo. A questão das especializações em contraposição a questão do professor polivalente pretendeu, neste texto, ser um breve desdobramento da questão já levantada pelo caderno anterior, que se preocupou com a distinção conceitual e metodológica entre teatro-educação no ensino formal e no informal.Endereçamos estas inquietações aos alunos de licenciatura, esperando que surjam mais questões e mais reformulações das mesmas questões, esperando que o questionar sirva não à produção de certezas e verdades, mas que produza e desloque nossos campos de açã

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