quinta-feira, 7 de maio de 2009

Ombudsman

A palavra Ombudsman passou às línguas modernas através do sueco (ombudsman significa representante). No sentido de alguém que representaria a maioria não contemplada por determinado meio de comunição ou esfera política. Faria, portanto, o trabalho de crítica impessoal sobre o órgão. No Brasil, a palavra ouvidor/ouvidoria é mais usada no sentido político ou empresarial. Já o estrangeirismo Ombudsman para os meios de comunicação.Pode ser definido hoje como o profissional contratado por determinado meio de imprensa (tradicionalmente os jornais de grande circulação contratam alguém pelo período de 1 ano em que não pode ser demitido) para receber críticas e reclamações e fazer, por sua vez, a crítica ao meio. Aqui faremos uma experimentação. No desejo de rever a forma que vinha se configurando no jornal convidamos nosso professor de Teoria (e crítico teatral da Folha de S. Paulo) Luiz Fernando Ramos para escrever sobre os três números do Núcleo/Jornal MaCACando

OMBUDSMAN (por Luiz Fernando Ramos)

O ombudsman é um aliado do leitor, que zela pela qualidade do que lhe é oferecido à leitura. Mas é impossível aqui não misturar um pouco as bolas e comentar, rapidamente, um aspecto que foge ao estrito exame das três primeiras edições do MaCACando. Sempre me espantou que não houvesse, por parte dos alunos do CAC, o desejo de criar um veículo para expressão de suas idéias. È certo que a maioria deles se exercita na expressão de idéias cênicas, mas faltava o exercício do pensamento escrito, em qualquer uma de suas inúmeras formas possíveis. Ressalte-se, portanto, o mérito intrínseco da publicação ao superar um silêncio de décadas.
A opção editorial, com base nos três primeiros números, ainda não se definiu com clareza, visto que os exemplares oscilam entre a forma lúdica dos fanzines e a sisuda seriedade das análises de conjuntura. Entre esses dois extremos há espaço para incisões inspiradas e tolices banais que reforçam uma ou outra tendência. De qualquer modo, qualquer linha que se defina, ou mesmo que se opte pela instabilidade como programa – até refletindo a flutuação do corpo de editores -, seria importante aprimorar os critérios e assumir até as últimas conseqüências as opções definidas.
Numa análise pontual dos três primeiros números é possível perceber alguns avanços graduais, bem como a manutenção de uma displicência afetada que atrapalha o leitor.
O número inaugural, de setembro de 2008, tem como destaque de primeira página uma diluição rasgada do que foi uma ação artística interessante. No lamber a cria narcisista, ao entrevistar freqüentadores do CAC sobre a ação de pichar uma frase inspirada na rampa, o jornal dilui os efeitos libertários daquela ação. O editorial demarca um estilo poético/jocoso/crítico que se repetirá nas duas outras edições e sinaliza na direção da linha fanzine. Uma crítica ao espetáculo Ubumáquina, não assinada, destila preconceitos e entra na provocação do espetáculo a alguns mitos esquerdistas. Não fosse por fugir da análise do espetáculo – só é mencionado a primeira vez no quinto parágrafo – a crítica é ruim por desconsiderar a possibilidade de um diálogo real com os alunos/artistas que o criaram. No trecho final se diz, numa recorrente mistificação do CAC como uma entidade demoníaca –
“Mas o CAC continua achando que a arte não precisa partir do artista, impondo peças para os diretores dirigirem e ver quem alcança o melhor resultado”. Em tempo, seria mais contundente dizer que um espetáculo de PT 2, em que um aluno escreveu dramaturgia original e encenou com parcos recursos, só foi assistido por dois dos professores.
Ainda no primeiro número há um texto, pode-se dizer, de serviço chamando para a 13º semana de arte e cultura, e um bom artigo crítico, fazendo o histórico do fim da Bolsa Trabalho. Na última página, o oportuno Box “modo de usar”, que informa sobre o veículo e serve como chamariz a novos colaboradores, e um belo poema, contrastam com mais brincadeirinhas com o espetáculo Ubumáquina, desta vez justificadas pela virulência imaginável de um cronista impiedoso, o Mico Leão.
No segundo número, de outubro de 2008, há um equívoco jornalístico básico na capa. Coloca-se uma foto do importante debate que fechou a 13º Mostra de Arte e Cultura, sem identificar o evento nem os que aparecem na foto. É como se, querendo-se homenagear os ilustres palestrantes, achasse-se que são tão notórios e suas falas tão importantes que dispensam identificação e qualquer menção ao que disseram. É certo que no artigo interno MostraCACando, de quatro autores, é feita uma menção à mostra organizada pelo primeiro ano e que tanto interesse atraiu. Mas é só para contrastar com duas outras mostras, as do CAC e a da Licenciatura, que os autores julgam “cooptadas”. Muito mais pertinente que estabelecer uma gradação de valores entre iniciativas com pesos completamente distintos era realizar uma boa síntese dos depoimentos dos não identificados César Vieira e Moreira durante a Semana de Arte e Cultura.
Outro problema do segundo número, que reforça estratégia já anunciada no primeiro, é fazer da matéria de capa uma enquête ouvindo opiniões dos alunos. Desta vez as respostas referem-se às três mostras citadas. Não se critica aqui a iniciativa de realizar pesquisas de opinião. O que não parece interessante éa forma de apresentar essas opiniões, agravada nesse caso pela falta dos nomes dos entrevistados, que aparecem em letras minúsculas e de cabeça para baixo na última página. Qual é o ponto? Não deveríamos valorizar as opiniões das pessoas e a coragem moral de oferecê-las à comunidade? Porque o anonimato? Mas o pior, do ponto de vista jornalístico, é a confusão que gera no leitor, tendo que pescar falas soltas sem identificar seus autores e sem perceber com clareza o contexto em que se inserem. No corpo principal o “modo de usar” do primeiro número é substituído pela seção “Contra-indicações”, que assume ares de editorial. Nada a objetar. Já em a “carta a Cibele” em que um aluno parte de uma fala de corredor da professora Cibele Forjaz sobre o jornal para fazer um longo arrazoado sobre o “totalitarismo do mercado”, há um desequilíbrio. Mais correto teria sido convidar a professora a expressar por escrito a opinião citada, de modo a que os dois lados da moeda, velha máxima do jornalismo pudessem ter se contraposto. O informe sobre o micro-ondas disponibilizado aos alunos é positivo pela condição de serviço de utilidade pública, mas peca pelo excesso de espaço dedicado à foto. Na última página, uma boa crítica de cinema abre uma perspectiva interessante de debate cultural entre áreas vizinhas, se bem que a diagramação em duas colunas irregulares confunda o leitor. Na folha avulsa do segundo número dois estilos diferentes de crítica competem positivamente. Em uma, Paulo Bio, opta pela ironia e por um discurso crítico cifrado, quer dizer, indireto, ao alcance dos iniciados, para comentar o espetáculo “Reações Adversas”. Na outra, o colaborador Fabrício Muriana, editor da ótima revista eletrônica Bacante (http://www.bacante.com.br/), faz um comentário exemplar, pela agudeza e originalidade do olhar, de dois espetáculos apresentados no teatro laboratório: O próprio “Reações Adversas” e “Ato sem Palavras I”.
No número de fevereiro de 2009, opta-se por ocupar a capa com um misto indefinido de editorial, introdução e manifesto – qualquer um dos três gêneros teria mais força isolado – e despreza-se uma das novidades que é a seção dedicada a “assuntos educacionais”. A chamada lateral em letra pequena sob a rubrica “Extra” apequena o que deveria ser valorizado. O miolo central aprofunda estratégia editorial já criticada nos números anteriores. Abdica-se de artigos em que as opiniões se expressassem com mais clareza e contundência, e organiza-se de forma confusa um jogo de perguntas e respostas que obrigam o leitor a ir caçando letras e dispersando-se do que seria mais relevante, ou seja, as próprias opiniões. O problema se repete na parte de baixo com uma entrevista caótica com os organizadores da 1º Mostra CAC. O que se diz é muito importante para ser distribuído como uma prova da Fuvest com alternativa múltipla. Na quarta página o melhor artigo desse número, na rubrica Cadernos de Licenciatura, discute questões centrais do curso de licenciatura e de sua articulação com o bacharelado. Perde-se a oportunidade de reverberar a questão com os professores da área, dando-lhes a chance de apresentar sua visão. Na folha avulsa, além da programação da Mostra CAC, um artigo discute a questão do DRT em tom de editorial, um pequeno texto ironiza de forma rasteira a idéia do tripé ensino/pesquisa e extensão. Finalmente, uma citação de “literatura e Revolução” de Trostski se confunde com declarações de Moreira na Semana de Cultura. Ambos mereciam melhor tratamento.

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