quinta-feira, 7 de maio de 2009

Memórias da Mostra

por Paloma Franca (4°ano)

(Queremos sim abraçar o mundo, só resta saber se o mundo quer ser abraçado. E se basta mesmo o corpo a corpo com o tapinha nas costas para que desejos mundanos se realizem.)

Naturalmente: nós queremos abraçar o mundo, sobretudo quando este mundo diz respeito à formação de uma unidade comum, na qual idéias e intuições podem ser compartilhadas sob o olhar e a crítica de todos numa linguagem que é familiar e corresponde a integração de um grupo.

(Ai CAC que não me sai do pensamento)

Aqui, como em qualquer outro curso em que se partilha saberes, aprendemos a nos comunicar dentro de uma chave típica, conceitos, premissas estéticas, palavras de ordem, corporalidade autoral, performances pós-envernizadas, tudo está no campo do dizível, pelo silêncio ou pelo ruído.

Assimilando o modo como se manifestam as relações deste nosso quase casa-lugar começamos a desejar, querer mudar, divergir de nós mesmos, cavar contradições (prática muito saudável em tempos de verdades moldadas com primor) e exigimos, tomando nas mãos o direito de agir sobre a ação, refletir sobre o que nos engole.

Quebrar os ossos do mundo de tanto aperto.

E quando os novos habitantes aqui aterrissam o mundo já está de um jeito que não era antes, está meio torto, com cicatrizes novas, com marcas da transformação, resquícios das pequenas revoluções, recuperando-se dos últimos impactos que sempre existirão; os novos habitantes começam a experienciar a inserção numa comunidade que ainda não foi de fato tocada por eles, mas que já passa por mudanças decorrentes do movimento dos antigos.

Normalmente para habitar este nosso mundo é preciso vencer desafios públicos como touradas, concursos e exames vestibulísticos, depois, ainda existe o difícil processo de adaptação às propostas de um antes até então desconhecido que abarca desde estruturas burocráticas acadêmicas até poéticas permanentes de integração social.

A Mostra CAC de 2009 foi de alguma maneira lugar de iniciação no campo estudantil. Ao mesmo tempo em que nas rodas de discussão colocou-se várias vezes uma latente insatisfação determinada pela ausência dos professores, também surgiram sinceras reclamações sobre a participação dos calouros nos debates e nas tentativas de resolução dos problemas já existentes no departamento. Por parte dos calouros, fervilhou uma sensação de inadequação ao sistema que já estava instituído; por parte dos veteranos certa frustração misturada com o dever emergencial de encontrar saída para os impasses já visitados e revisitados em outros anos. Nos primeiros dias existiram então três ilhas que evidenciavam a ligação Mostra/participantes (incluo aqui os professores como participantes simbólicos, porque o são), na primeira os veteranos e sua luta agregadora para legitimar o caráter coletivo da mostra, na segunda os mesmos veteranos e suas lutas coletivas para garantir a legitimidade democrática do curso, o que demandava uma articulação mais precisa dos debates; na terceira, os bixos.

A Mostra porém está em seu terceiro ano e provavelmente o que ocorreu nos dias seguintes foi fruto de um amadurecimento que não existiria agora se não tivessem ocorrido as outras duas Mostras anteriores. Ao contrário do que fora previsto, o número de pessoas ativas na programação não diminuiu drasticamente, e a voz dos novos começou a ser ouvida com mais atenção e generosidade, o movimento estudantil nesta situação adquiriu uma dimensão memorial, visto que a história do departamento não foi velada e sim exposta para que, mesmo que timidamente, os novos pudessem fazer parte dela.

Não são dados para que nós estudantes nos vangloriemos, são levantamentos que nos trazem questões: por que foram necessárias três Mostras para que os calouros se sentissem minimamente pertencentes a este mundo? O não comparecimento da maioria dos professores revela uma falta de boa vontade (será que o evento se dá nestas instâncias pessoais?) ou mais uma lacuna na estruturação da mostra que pede modificação? E de que maneira não abandonar a Mostra nas mãos de poucos que carregam todas estas inquietações durante o desenrolar da Mostra e o período de organização?

Há antigos que dizem: bixo paga breja!
Há antigos que estudam vorazmente a possibilidade de abrir diálogo com os novos.
Há antigos que falam oi nos corredores.
Há antigos que donos de suas cadeiras jamais foram vistos e são de um tempo mítico em que o não palpável ainda definia destinos.

Quem são os antigos?

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