segunda-feira, 20 de outubro de 2008

maCACrítica: Reações Adversas - A SECRETÁRIA ELETRÔNICA da adversidade CONTEMPORÂNEA



Por Paulo V. Bio Toledo

(Um aparelho velho, mofado e corroído pelo devir. Em suas teclas os números já desapareceram. Seu coração é de gelo; a temperatura ambiente é de eterna negatividade, o que impede seu descongelamento. De quando em quando soa um sinal de alerta, luz vermelho-esverdeada acende-se, uma voz rouca e metálica vaza das células do aparelho)

You have thirteen Messages.

1. Message from Peter Pál Pelbart, 23h14min:
"Nem tudo vai ser compreensível, nem tudo vai ser entendível, e isso não tem a menor importância”

2. Message from David Lapoujade, 23h35min:
"Mesmo nas situações cada vez mais elementares que exigem cada vez menos esforço, o corpo não agüenta mais. Tudo se passa como se ele não pudesse mais agir, não pudesse mais responder. O corpo é aquele que não agüenta mais"

3. Message from Johann Fatzer, dos papéis amassados de Bertolt Brecht, 23h49min:
“Eu cago para a ordem do mundo, eu estou perdido.”

4. Message from espectador especializado, 23h57min:
Acabo de assistir ao espetáculo Reações Adversas. Não sei ao certo o que falar sobre. Mas me senti completo e feliz. Parabéns. Obrigado. Eu me vi refletido nos olhos de cada atriz e ator - irresistivelmente fui de encontro a mim mesmo. Quando acordei já havia me afogado. Desculpem-me.

5. Message from ... (anônimo), 23h59min,:
Seria o poder tão líquido, as relações tão adversas, que é impossível traçar linhas seguras de interpretação histórica?
E, se assim for, a representação teatral, racional e cognitiva da idéia, é suficiente, ou melhor, tem alguma potencialidade?
(pausa)
... Provavelmente estou andando em círculos... Mas não há ninguém por perto...
(pausa)
Qual a esperança?
(pausa)
Meu coração é um tijolo congelado, mas bate por você

6. Message from Ofélia, -00:00h:
"Aqui fala Electra. No coração das trevas. Sob o sol da tortura. Para as metrópoles do mundo. Em nome das vítimas. Rejeito todo o sêmen que recebi. Transformo o leite dos meus peitos em veneno mortal. Renego o mundo que pari. Sufoco o mundo que pari entre as minhas coxas. Eu o enterro na minha buceta. Abaixo a felicidade da submissão. Viva o ódio, o desprezo, a insurreição, a morte. Quando ela atravessar os vossos dormitórios com facas de carniceiro, conhecereis a verdade."

7. Message from Paulo Bio Toledo, sem registro de data:
Essencialmente, por meio dessas críticas buscamos realçar o debate, sublinhar inquietações, viabilizar discursos e compartilhar...
Como prática, a tentativa é de explorar as possibilidades para além da crítica instituída; para que seu exercício seja também operação artística, em processo. O que vai contra... (ruídos, a fala torna-se inaudível)

8. Message from Heiner Müller, um dia antes da morte:
"O momento da verdade quando no espelho
O Rosto do inimigo aparece”


9. Message from um olhar desprendido de seu corpo, entre o passado e o futuro:

A repetição mecanizada, o corpo desnudado, viciado na sobrevivência, esvaziado da experiência, se não vinculado ao seu respectivo processo histórico-político, reproduzirá o mesmo esvaziamento liquido – principal complexidade do Capital na contemporaneidade.
Walter Benjamim é seguidamente relido pelas interpretações filosóficas neo-acadêmicas e adaptado (remoção do indissociável materialismo histórico) a uma visão subjetivista onde os conceitos pairam sem tempo, hegemônicos, universais, como nada – como a forma superdimensionada nas artes.

10. Message from Heiner Müller, arquivada em 1979:
"Enquanto a liberdade estiver baseada no poder, o exercício da arte sobre privilégios, as obras de arte terão tendência de ser prisões, as obras-primas, cúmplices do poder."

11. Message from Eduard, um espectador desavisado, todas as horas do dia:
(com voz apreensiva)... Eu não devia estar lá... Desculpem-me... Não fui capaz de entender... Desculpem-me...

12. Message from Karl Kraus, sem idéia de tempo:
A origem é o alvo.

13. Message from Peter Pál Pelbart, nesse instante:
(Muito barulho, poucas palavras audíveis) “... escravos ... sobrevivência. ... pouco importa a que custo ... é esse rebaixamento global da existência, é essa depreciação da vida, é sua redução à vida nua, à sobrevida, é esse estágio último do....” (Estampido de um tiro)

(Silêncio)

3 comentários:

Anônimo disse...

Cadê as polêmica? Só pruquê o autor assinou?

Anônimo disse...

Cadê as polêmica? Só pruquê o autor assinou?

Anônimo disse...

acho que assassinou...